Capítulo 16

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homem dentro da fantasia de lobo abalou os nervos já maltratados de Valerie. Ela quase esquecera que a ‚comemoração' do Bailio ainda acontecia. Vagando pela praça com os sentidos aguçados, sentiu olhos a observando. Atemorizada, olhou para a esquerda e viu que eles pertenciam a uma cabeça de javali transportada sobre uma travessa de estanho. Ele tinha uma maçã corada em sua boca e uvas no lugar dos olhos, o que lhe dava um olhar distante.
A efígie altaneira do Lobo havia sido construída a partir de uma pirâmide de raízes, galhos afiados e detritos. Ela queimava na outra extremidade da praça, vomitando fagulhas de sua boca enegrecida. A lua de sangue pendia madura no céu vazio.
Um palco fora montado a partir de algumas tábuas, sobre o qual o pastor de cabras e alguns lenhadores giravam a manivela de realejos e dedilhavam alaúdes Simon, o alfaiate, tinha as mãos sobre uma gaita de foi o traste chiava estridente e alto como um animal moribundo. Os músicos sopravam suas cornetas o mais forte que conseguiam, ficando sem fôlego e tragando mais ar antes de começarem novamente.
Apesar de toda a comida de aparência deliciosa, o de cheiro de lixo podre e do suor dos homens ainda enchia a praça. Valerie sentiu o estômago revirar.
Procurou Solomon e os seus homens, mas não os viu. Havia notado o seu acampamento montado no celeiro expandido atrás do armazém e imaginou que eles deveriam estar enfurnados lá naquela hora, recusando-se a participar.
Todo mundo parecia estar comemorando o máximo possível para se convencer de que deviam mesmo estar celebrando. Eles dançavam, frenéticos e selvagens, para se esquecerem de tudo durante o momento de agitação. Alguns homens, respeitáveis durante o dia, movimentavam-se de quatro com dificuldade, arruinando as calças na neve. Uma mulher tropeçou na lama diante de Valerie, mas antes que pudesse ajudá-la a se levantar, ela já havia sido puxada para uma dança. Homens de rostos afogueados balançavam suas esposas corpulentas, admirando suas curvas a distância de um braço, com as mãos unidas sobre a cabeça. Irmãs dançavam com seus irmãos mais novos, mas mantinham seu olhar fixo nos garotos do outro lado do tablado. As vozes ricocheteavam pela praça, fazendo parecer que havia mais centenas de pessoas por lá.
Cercada por todos que conhecia, Valerie se sentiu completamente sozinha.
Suzette manteve os olhos baixos e se misturou na multidão sem uma palavra. Valerie viu o Bailio, com sua careca reluzente de suor, dominando a cena em uma mesa comprida montada diante da taberna. Ele acenou para ela se juntar a eles, mas ela o ignorou com puro desprezo. Foi difícil, no entanto, manter seu senso de indignação amargurada. Havia muitas pessoas tomadas pelo delírio da comemoração para jogar a culpa em uma pessoa em particular. Era cansativo manter-se de luto. Valerie desistiu.
Seu pai, já pendurado de forma descuidada em um galho, soprou rápido e forte um chifre de boi, sinalizando inutilmente o início do festival que as pessoas já iniciaram. A cometa soou longa e grave, como alguém assoando o nariz.
— Ei! Ei! Todo mundo!
Valerie e as pessoas próximas se viraram para a voz estridente.
Marguerite havia virado um balde enferrujado de cabeça para baixo a fim de aumentar sua própria altura e gritava para atrair a atenção, erguendo os braços acima da cabeça:
— Silêncio, todos! — O pretenso pódio repousava sobre uma inclinação e começou a ceder para trás. Henry o segurou para estabilizar a garçonete antes que ela caísse.
Aqueles que se encontravam nas extremidades da mesa continuaram a conversar — porque não a ouviram ou porque não se preocupavam em ouvir. Marguerite ergueu uma caneca de estanho.
— Para o Bailio! — Então, ao notar que havia conseguido a atenção de todos, ela acrescentou: — Por, ahn, sua bravura, coragem e destemor.
Valerie perguntou-se se ela diria algo mais. Parecia que a própria Marguerite não tinha certeza do que diria em primeiro lugar.
— E por... ter matado aquele Lobo bem morto, deixado ele inerte como os pregos que o pequeno Henry faz tão bem.
Henry sorriu, tentando manter seu semblante polido.
— Embora ele não seja mais tão pequeno. — Marguerite piscou para ele, balançando os quadris para dar ênfase. Embora os dois estivessem mais que ruborizados, Claude e Roxanne, parados graciosamente juntos em um canto, não disseram nada. Aquela não era a primeira vez que sua mãe os envergonhava. Valerie lançou a Roxanne um olhar solidário.

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