Capítulo 7

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— Eu me lembro quando era menina — Suzette dizia, sentada em um banquinho. — Tinha onze anos quando vi a minha primeira lua de sangue. Era jovem e louca por um garoto. Foi quase romântico.

Com um trejeito vaidoso, ela enrolou no dedo uma mecha de seu cabelo ondulado na altura dos ombros.

— Se não tivesse sido tão horrível, é claro.

Perdida em seus próprios pensamentos, Valerie não ouvia nada. Na parte da manhã, com tarefas a fazer, os medos da noite anterior pareciam triviais, e o pânico, injustificado. Enquanto ela sovava uma massa cheia de farinha e firme, a mente saltava de um pensamento a outro. Não estava preocupada com Peter, havia ponderado, porque ele parecia saber de coisas que as outras pessoas ignoravam.

Sentia que ele poderia lhe ensinar os seus segredos e lhe contar sobre o mundo. Sentia que poderia dar forma às coisas, do mesmo jeito que fazia para esculpir santos de blocos de madeira disformes. Porém, ela se lembrou... ele estava lá apenas para a colheita... e sua família jamais permitiria que fosse com ele por causa de seu passado na cidade.

Valerie pressionou todo o seu peso na massa, irracionalmente irritada com a dificuldade da tarefa e com a monotonia de estar dentro de casa em um dia lindo. Ontem foi o último dia do outono, hoje o primeiro do inverno. Havia acordado nesta manhã com as solas dos pés lisas e secas no frio. Ela gostava disso. Agora, ouvia vozes lá fora, mas não pôde dizer a quem pertenciam – até ouvir a risada. A risada aguda de Rose. Ela se esforçou para saber se Lucie estava com ela. Ela era muito melhor que Valerie no preparo de pães e biscoitos, e normalmente a teria ajudado depois de ter feito a parte dela. Mas ela havia escapado, passando a noite na casa de Prudence.

— De qualquer forma — Suzette concluiu, percebendo que Valerie não estava ouvindo — eu diria que agora temos biscoitos prontos suficientes — e bateu as mãos sobre a mesa de forma decidida. — Nós vamos guardar... a sua massa — acrescentou, olhando para o tijolo pouco atraente que Valerie segurava.

Valerie ficou meio ausente enquanto Suzette embrulhava a dúzia de biscoitos de cevada quente e um pouco de queijo em um pano branco macio e os preparou para levá-los para os homens. Ela podia sentir o sabor do sonho que tivera na noite anterior; era fresco e cortante como um limão que experimentara certa vez numa feira.

— Valerie, enquanto eu levo o almoço para os homens, por favor, limpe e varra o chão. E depois — a mãe falou, assumindo um tom cansado — você poderia buscar um pouco de água?

— Sim. — Valerie respondeu, talvez um pouco rápido demais. — Pode deixar, vou sim.

***

No poço, Valerie começou a puxar a corda, recuperando o balde de água. Pensava na bebida fresca que estava prestes a levar para Peter, e em como se olhariam sobre a caneca enquanto ele bebia, concentrado nela. Imaginando o seu olhar penetrante, ela parou de puxar, relaxou o corpo, e os dedos soltaram a corda. O balde caiu e bateu violentamente contra a parede de pedra do poço. Respirou, ofegante, e puxou a corda enquanto o balde fazia barulho, quebrando a superfície da água.

Decidida e calma, puxou um novo balde de água. Em seguida, partiu para a área onde os homens cortavam as árvores.

O aroma seco de madeira recém-cortada penetrou nas narinas de Valerie quando ela se aproximou.

O oficial de justiça havia reunido um grupo de homens bem treinados que lançavam pesados golpes nas árvores. Ele não era de desperdiçar a oportunidade de contratar trabalhadores baratos quando estavam na cidade. Os homens trabalhavam em grupo, fazendo os mesmos movimentos, usando as mesmas roupas. Mas Peter se destacava. Ele havia prendido a camisa preta sobre os ombros, revelando músculos bronzeados e tesos. Recostada a uma árvore, ela viu seu belo corpo retorcendo a cada golpe do machado. Parecia ilícito vê-lo dessa forma. Mas de algum modo, também, já sentia que ele era dela.

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