Capítulo 11

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Percebendo a multidão negra de corvos alçarem voo, partindo do solo branco e cintilante da floresta, a Avó soube que os homens estavam vindo. Foi para o alpendre esperar.

Logo eles estavam lá. Olharam para ela como se fosse uma deusa assustadora, com as chamas de suas tochas ondulando no ar enquanto eles se movimentavam ou ficavam parados, esperando por um vislumbre da Avó. Ela era um ser lendário, eterno, bela e jovem para sua idade embora tivesse envelhecido alguns anos, de tristeza, nos últimos tempos. Seus cabelos estavam presos em tranças por cordões cinzentos, e o rosto, molhado de lágrimas, não mostrava nenhuma ruga. Não era de admirar que as pessoas a acusassem de bruxaria. Ela desceu, trazendo uma vela para iluminar seus passos.

— Filho, eu soube de nossa Lucie — ela falou para Cesaire, abraçando-o. Não explicou como. — Prometa-me que será cuidadoso, meu rapaz.

Ela lhe entregou o pacote que havia preparado.

— Não se preocupe. O Lobo não vai se interessar por mim — ele respondeu, sorrindo através da sua dor. — Sou pura gordura.

A Avó subiu as escadas, com o coração pesado. Da varanda, observou a movimentação do grupo quando um dos homens, o último da fila, se desviou e começou a subir na direção dela. A Avó pôde sentir o ranger da madeira conforme o vulto punha seu peso a cada passo. Movia-se rapidamente, cada vez mais para cima. Estremeceu quando o visitante não convidado subiu ao alpendre.

Aproximando-se silenciosamente dela, o vulto jogou para trás o capuz de sua capa e... Era Valerie.

Ela sacudiu a cabeça, liberando sua tensão numa risada.

— Querida, minha querida, o que você está fazendo?

— Por que eu não devo ir com eles? Ela era minha irmã! — Valerie franziu o cenho.

A Avó suspirou e a tomou nos braços.

— Você já está congelada com esta capinha fina. Acho que você não vai conseguir.

— Bem, não, acho que não — Valerie respondeu, tremendo quando a Avó a guiou para dentro com um ruído de seus talismãs e amuletos.

Ela se animou por estar lá, na casa da árvore selvagem da Avó. Os galhos cresciam através do telhado, e dentes-de-leão invernais irrompiam pelo assoalho; havia algum tipo de ninho em cada canto. A casa estava repleta de coisas curiosas; ela deixou os olhos vaguearem por seu pequeno interior. Conchas de moluscos que eram como orelhas gigantes, uma almofada de alfinetes incrustada com madrepérola, um copo de chifre, inhames secos, uma garra de abutre. As bainhas desfiadas de tapeçarias empoeiradas, com desenhos de pavão em rosas e azuis desbotados, roçavam contra intermináveis fileiras de garrafas fechadas, de forma descuidada, com rolhas tortas. Uma chaleira enorme com chá tremia no fogão.

Valerie amava o estilo de vida da Avó, embora ela fosse assunto do folclore local e ridicularizada pelos aldeões. Mesmo que o preço pago pela Avó fosse o fato de alguns a culparem pela presença do Lobo na aldeia.

— Você vai precisar do seu sono.

A Avó entregou a Valerie uma xícara fumegante de sua poção de sálvia.

Ela ignorou o chá e se pôs à janela, vendo os homens seguindo seu caminho através da floresta escura. Encarou o rochedo e viu o vento frio passando pelas árvores, úmido com a neve, e soprando tempestuosamente como uma criança soprando velas de aniversário. Ele alongou as tochas dos homens quando o último deles se apressou até a rocha íngreme e desapareceu dentro da caverna. Uma das tochas pertencia a seu pai, outra ao homem que amava e outra ao homem que ela poderia ter. Todos foram reduzidos a pontos de luz brilhando ao longe. Sentindo o estomago revirar, Valerie se afastou da janela.

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