capítulo 11

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I didn't cry when you left at first
But now that you're dead it hurts
I'm not entirely here
Half of me has disappeared
Eu não chorei quando você foi embora de primeira
Mas agora que você está morta, dói
Eu não estou totalmente aqui
Metade de mim desapareceu

Eu estava sentado, esperando angustiadamente que um médico ou qualquer outro ser humano que usasse um jaleco semelhante a de um enfermeiro e possuísse uma prancheta nas mãos viesse até mim e me dissesse como ela estava.

Meus dedos batiam incansavelmente na madeira clara dos braços que a cadeira do hospital contemplava, criando um ritmo próximo a Seven Nation Army, mesmo que inconscientemente. Meus olhos já piscavam lentamente, pesando, mostrando claramente o meu cansaço diante daquela situação, e também minha intensa preocupação. Eu precisava saber o que tinha acontecido.

As cadeiras verdes desgastadas combinavam com as paredes de tintura mal acabada, e uma terça-feira nunca tinha sido tão movimentada. 

"Você é irmão da paciente do quarto 8772?"

"É... sou o namorado. Posso vê-lá?"

"Claro. Sugiro não deixar suas coisas aqui de fora, talvez demande um certo tempo." - e suas palavras, então, ecoaram durante minha subida de elevador até o oitavo andar.

Como se não tivessem sido duas horas de espera angustiantes, a cada passo dado pela enfermeira, que me guiava, eu ficava mais tonto. Estaria ela tão mal assim? Rodeado de questionamentos como esses, me deparei com uma menina aparentemente sem alma.

Seus olhos pareciam sem cor, assim como seus fios de cabelo. Mesmo que ela tivesse uma pele extremamente clara, suas mãos eram pálidas e frias, e o som emitido dos batimentos cardíacos era o único barulho que ecoava no calmo e estranho quarto simples de hospital. Seus braços pareciam meros objetos; não tinham vida. Ela usava a mesma roupa de quando saíra correndo da escola, entretanto, a vestimenta já não era mais a mesma: estava destruída.

Me sentei ao seu lado, dando-lhe as mãos e pensando. Eu não poderia estar mais feliz em ter encontrado-a, mas não saberia que essa felicidade seria tão entristecedora. Eu queria de desculpar. Me desculpar por ter me afastado, de certa forma, nessas últimas semanas. Me desculpar por não ter seguido e impedido ela de ter sofrido tanto nas mãos de seu pai. Me desculpar por não ter sido honesto com meus sentimentos. Me desculpar. Eu estava repleto de culpa, e se pudesse realizar um desejo só, no mundo inteiro, seria pedindo por mais tempo com ela. Eu percebia, naquele exato momento em que a encarava, que a amava. Uma pena ter sido tarde demais.

Então, dei-lhe um beijo na testa, depositando todo o meu amor e intensidade por Violet. Eu nunca tinha reparado em como seu nome soava, quando eu falava. Violet... olhei bem para suas pálpebras fechadas e lhe disse

"Eu te amo".

Não tinha percebido, mas naquele momento, eu muito chorava. Era uma mistura de tristeza, culpa, amor e saudade. Era doloroso. Era capaz de me matar, lenta e dolorosamente.

"Eu também..." - seus pequenos e frios lábios sussurraram em meu ouvido.

Meu semblante se tornou confuso e alegre. Não entendia o que se passava com ela, mas, ao menos, meu amor não era em vão. Assim, sentei-me ao seu lado novamente e olhei Violet adormecer lentamente. Talvez nem tudo estivesse perdido. Talvez eu ainda pudesse ser esperançoso.

Dessa forma, meus pensamentos iam fluindo, até que os barulhos que antes me incomodavam se silenciam. Barulhos que marcavam os batimentos cardíacos dela. O visor, que permitia uma visão do andamento dos batimentos, exibia uma grande e vermelha exclamação, e, em questão de segundos, um forte e alto alarme começava a soar. Minha respiração falhava, meus olhos lacrimejavam e enfermeiros entravam, desenfreadamente, na sala.

Eles me tiraram de lá. Eu queria vê-la, queria estar lá para protegê-la.

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