Mais Que Um Sentimento

7 - Mais do que uma casa no lago

Eu estava rasgando a sétima folha de papel do meu bloco A3 quando recebi a ligação do Edan.

Tinha sido mais um dia repleto de monotonia rotineira e mesmice. Tinha aproveitado o fato de não ter absolutamente nada previsto para aquela tarde para fincar a cadeira de praia do papai na areia esbranquiçada e morna em frente à nossa casa junto com o meu kit de aquarela e o bloco de 32 folhas de papel cartão.

"E aí Bonnie!" Ele gritou no outro lado da linha. "O quê tá fazendo?"

"Ah... Você sabe, poluindo o meio ambiente com mais um tipo de material que relativamente não desfruta da capacidade de se decompor tão rapidamente" Disse enquanto amassava a folha de papel arrancada do bloco e a jogava no chão. "Nada demais"

"Era só falar que você tá chapada, Cooper"

"Eu não estou chapada... Estou sem inspiração!"

Bom... Aquela tinha sido uma meia verdade, já que eu contava com uma vista mirabolantemente linda bem diante dos meus olhos; Linhas alaranjadas se misturavam com os tons de salmão, azul e rosa formando uma perfeita tela natural no céu que era refletida pela água agitada do mar. O fato da nossa casa não contar com vizinhos tão próximos fazia com que eu conseguisse alcançar o nirvana rapidamente sempre que me encontrava sozinha, consequentemente me dando uma sensação de calmaria e liberdade que eram fundamentais quando eu começava a pintar.

Inspiração eu tinha de sobra.

O meu único problema era um fardo importuno (e terrivelmente lindo) que vivia me impedindo de manter a cabeça no mundo real desde a última sexta-feira e que não deixava eu me concentrar em absolutamente nada. E esse fardo tinha um nome e um sobrenome.

"Bom..." Edan me despertou de repente do pré-transe no qual eu quase havia entrado a alguns segundos atrás. "Eu felizmente cheguei para salvar o resto do seu dia, porque afinal... Não, espera...isso tudo fica mais legal quando eu peço pra você advinhar então...advinha!"

"Você conseguiu convencer a senhorinha do pet shop da rua do Palisades Park a doar todos os 35 cachorrinhos que estavam a venda pra você?" Eu disse.

"Não... Mais ainda estou trabalhando nisso" Ri enquanto apoiava o celular em um dos meus ombros afim de deixar os meus braços livres para poder carregar toda a bagunça que eu havia transportado até o lugar.

"Ok, eu vou contar... mas só porque você insistiu... Eisha Banks nos convidou para a festa na casa do lago dos pais dela nesse final de semana!"

"Ai, meu Deus, Sério?!" Quase deixei uma das tintas que estavam no topo da enxurrada de materiais sobre os meus braços caírem quando o tamanho da pilha não me deixou ver a minha sandália virada de ponta cabeça no chão que quase me fez cair de cara em um tombo desastroso.

Aquilo era de longe o que eu mais precisava naquele momento! Não do tombo, aquilo com certeza teria deixado um hematoma bem feio se eu tivesse atingido o chão, estou falando do convite.

A ironia da inquietação por conta da monotonia me deixava agitada e atordoada 24 horas por dia.

O ciclo interminável da minha trajetória nos últimos dias de se resumir em: Minha casa, carl's e trailer do edan também não ajudava nem um pouco a fazer o meu último neurônio se acalmar.

"Sim! Ah... vai ser tãão legal. Pensando bem, faz um tempão que eu não boto os pés para fora de Santa Mônica, acho que já faz uns 17 anos, caramba! é quase a minha vida toda" Ele começou a rir incontrolavelmente da própria piada enquanto eu parei de andar no mesmo instante.

"Espera, o quê? Vai ser fora da cidade?"

"Sim, vai ser em um vilarejo perto de Santa Clarita, mas ei... Só fica a uma hora e alguns minutos daqui, não é assim tão longe"