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Se meus ouvidos já tinham sofrido algum tipo de infecção unilateral depois do último episódio com todo o lance dos confetes e buzinas mais cedo, após o segundo envolvendo barulhos infernais e quase infartos no miocárdio eu tinha certeza absoluta que precisaria urgentemente fazer uma visita ao otorrinolaringologista mais próximo.

"Deus, vocês precisam parar de fazer isso!" Eu exclamei, rindo. Em parte por que eu realmente presava pela saúde ainda não afetada dos meus tímpanos e em parte por que eles sabiam que eu não estava falando sério.

Abri a boca para poder exercer mais um pouquinho do meu talento teatral mas Edan acabou sendo mais rápido quando praticamente se atirou na minha direção e me envolveu em um abraço sufocante.

"Edan..." Foi o que eu consegui murmurar devido à falta de oxigenação do momento. O algodão fino que revestia sua camiseta lisa fazia a minha voz sair baixa e abafada em contraste à dele, e com uma risada anasalada eu constatei que Edan não me deixaria falar tão cedo uma vez que já havia aberto sua boca.

"Deus, hoje vai ser incrível!" Ele gritou enquanto se afastava apenas o suficiente para que eu pudesse respirar novamente "Quer dizer, já pensou em quanta coisa a gente pode fazer hoje? Podemos passear com o Jack na praia até o salva-vidas de plantão arrastar a gente pra fora da areia, ou podemos ir até aqueles concertos musicais hipsters que você adora do outro lado da cidade..." Ele disparou a 180 quilômetros por segundo.

"Edan..."

"Ou" Houve uma pausa dramática "Podemos ir até o píer e eu deixo você me forçar a andar na roda-gigante quantas vezes você quiser"

"Edan, eu não sei se... Espera aí" Eu disse, chocada demais para sequer esbranjar alguma reação.

5 anos atrás, quando minhas passagens por Santa Mônica ainda não passavam de breves espécies de turismos anuais, Edan e eu tivemos a brilhante ideia de celebrar meus 12 anos no topo da pacif wheel enquanto éramos repreendidos pelo segurança local por sermos - Veja só - As últimas pessoas perambulando pelo píer.

No momento, eu não tinha muita certeza se o cara queria que déssemos o fora dali para que pudesse enfim concluir a parte de seu turno e ir direto para casa ou se ele realmente se importava com as nossas condições físicas de crianças imaturas.

No fim das contas não tive tempo suficiente para pensar na questão, já que depois de um baque estrondoso, a cabine onde eu e Edan estávamos, de repente emperrou no ápice da roda gigante.

Um blackout.

Depois daquela noite, Edan adquiriu uma certa aversão à pacif wheel e até mesmo ao píer.

Tive que basicamente arrastá-lo para o lugar todas as demais vezes em que havíamos visitado a Pacific Coast porque, afinal, a masculinidade frágil dele não o deixava admitir que aquele brinquedo em particular causava certos arrepios em regiões específicas de seu corpo.

"Eu ouvi o que eu pensei que ouvi?" Levei um dos dedos até meu ouvido direito e ele revirou os olhos em resposta.

"Carl, eu ouvi mesmo o que eu pensei que ouvi?" Repeti

"Eu acho que você ouviu mesmo o que pensou que ouviu" Disse Carl.

E ficamos assim pelo que pareceu ser uma eternidade até Edan se cansar do nosso diálogo bate-e-volta e interromper o único momento do dia em que eu provavelmente teria mais que cinco minutos para tirar com a cara dele.

"Tem certeza do que está propondo?" Eu disse.

"Olha aqui, se você continuar com isso eu juro que vou te ignorar pelo resto do dia..."

Mais Que Um SentimentoOnde histórias criam vida. Descubra agora