Mais Que Um Sentimento

15 - Mais do que uma descoberta

"Eu ainda não entendo porque não posso tentar um Flip" Jane resmungou visivelmente emburrada no exato momento em que prendeu as travas do meu capacete na região em baixo do seu queixo e enquanto se preparava no alto da pista de Skate pela quinta vez naquela tarde.

"Porque..." Me agachei ao seu lado com um sorriso contido estampado no rosto, no intuito de conseguir ajuda-la com o equipamento de proteção emprestado "...Um flip é a derivação de um ollie, e se você continuar se recusando a aprender a manobra inicial, é capaz de acabar com a tíbia pra fora do lugar na primeira tentativa "

"Pode esquecer, então!" Ela fez uma careta "Eu não teria dinheiro o suficiente nem mesmo para enfaixar um quarto da minha perna"

Não pude deixar de rir um pouco da sua dramatização antes de plantar alguns tapinhas nas suas joelheiras como um sinal positivo para que ela descesse a pequena rampa em formato de tigela à nossa frente.

Já fazia pouco mais de três horas desde que eu havia encontrado a Jane por acaso no meio da área recreativa designada aos skatistas e aproximadamente menos de duas horas e meia desde que eu havia concordado com a sua ideia de lhe ensinar os passos primordiais e básicos do Skate.

Confesso que o meu humor não estava em um dos seus melhores dias, ainda mais depois da discussão que tive com o Edan na tarde passada, mas Jane não era a culpada pela minha má sorte no ramo de amizades então eu acabei optando por dar um desconto para ela naquela tarde.

O que acabou sendo uma escolha maravilhosa no final das contas, porque devo ter pensado no Edan pouco mais que quatro vezes, já que passei a maioria do tempo muito ocupada tentando impedir a Jane de deslocar alguma parte importante da sua estrutura óssea. Mas talvez eu não fosse uma tutora tão boa assim, já que a Jane se encontrava no chão pela milésima vez, bem diante dos meus olhos, no exato momento em que as lembranças da tarde passada começaram a ecoar pela minha mente.

"Ai, meu Deus! Você está bem? Consegue se levantar?" Corri em sua direção quase que imediatamente e então me surpreendi por ela –Ao contrário da minha reação super maternal– estar rindo descontroladamente de si mesma.

"Não se preocupe comigo..." Ela sacudiu a parte traseira de suas roupas enquanto se levantava com a minha ajuda aparentemente desnecessária "Acho que uma pausa cairia bem agora, o que me diz?"

"Eu acho que não poderia concordar mais" Lancei um sorriso cansado na sua direção antes de ajuda-la mais uma vez com os equipamentos apertados de proteção.

Jane era, sem sombra de dúvidas, alguns centímetros bem generosos maior do que eu, o que deixava meu capacete, joelheiras e cotoveleiras com um incrível aspecto infantil em contraste com o seu corpo.

E eles ficaram tão apertados que pude jurar ter ouvido um suspiro de alívio sair da sua boca no momento em que ela se livrou de todos eles.

"Você disse que veio aqui apenas para se distrair? Garota! Como você consegue? O máximo de tempo que eu consegui ficar em cima de um desses negócios foram, no máximo, dez segundos consecutivos!"

Sentamos na extremidade de uma das rampas e eu ofereci minha garrafa de água para ela, que agarrou o objeto como se fosse algum tipo de viciada em abstinência.

"Acho que a concentração que eu uso para não dar de cara com o chão me ajuda a parar de pensar em algumas coisas por um momento..."