11 - Mais do que um biscoito da sorte

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"A vida é uma droga" Foi o que Edan Walker constatou pela quinquagésima vez naquele fim de tarde, enquanto encarávamos o imenso e vasto céu da Califórnia do alto da roda gigante do Pacific Park.

Demorou cerca de duas horas para que eu finalmente conseguisse arrastá-lo até o brinquedo, mas depois de eu ter exposto minha tese dissertativa sobre Wiener Riesenrad ser um dos exemplos de sobrevivência de rodas-gigantes do século XIX que continua intacta até os dias de hoje sem nenhuma ocorrência de acidentes fatais, ele decidiu me dar um voto de confiança.

"O que veio dessa vez?" Apontei com um gesto de cabeça para o resto precário de biscoito da sorte que Edan segurava em uma das mãos, juntamente com o pedaço de papel que preenchia seu interior.

Ele limpou a garganta de forma dramática antes de ler o conteúdo impresso na folha amassada.

"Machuca quando você tem uma pessoa em seu coração mas não pode tê-la em seus braços" Ele jogou o pedaço de papel por cima dos ombros "Certo. Então, essa deveria ser a minha sorte? Onde foi parar o Você vai encontrar o amor da sua vida após os próximos 30 minutos, quando tropeçar na porta do planetário mais próximo?"

Não pude deixar de rir da sua reação exagerada antes de procurar pelo meu biscoito da sorte perdido em alguma parte do bolso do meu vestido jeans.

Já estávamos na quarta rodada de biscoitos da sorte do dia, e Edan ainda esperava que algum tipo de profecia reveladora sobre sua vida fosse sair diretamente de dentro de uma simples mistura composta por farinha, açúcar, baunilha e óleo de semente de gergelim.

"Eu quero outro biscoito!" Ele empurrou um dos meus ombros com o seu.

"Nós não vamos voltar naquela loja novamente!"

Ele revirou os olhos e recostou a cabeça na cadeira de metal, que àquela altura, nos balançava mais e mais a cada distância que percorríamos do chão.

"O que o seu diz?"

Dividi o biscoito em dois e levei uma das partes até a boca aberta do Edan antes de ler o conteúdo do pequeno pedaço de papel assim como ele havia feito alguns segundos antes.

"As vezes, nós nos apaixonamos por ideias, e não por pessoas"

"É... Tenho quase certeza de que os nossos vieram com defeito" Ele soltou uma risada anasalada, e eu me juntei a ele quando também repousei minha cabeça no encosto da pequena cadeira de material duvidoso.

"Os nossos não vieram com defeito, seu bobo. Isso se chama aforismo"  Eu disse, ainda rindo, e ele meneou positivamente com a cabeça.

"Ah, claro..."

"Você não faz ideia do que aforismo significa, não é?"

"Nenhum um pouco"

Naquele exato momento, estávamos tão longe do chão, que Santa Mônica inteira podia ser facilmente apreciada.

Mas ao invés de nos perdermos em toda a paisagem e representação urbana daquele pedaço finito da Califórnia, nossos olhos não conseguiram encarar nada mais além daquele céu.

Minha boca involuntariamente sussurrou um inaudível "Uau" quando o céu pintado em um tom pastel de azul se mesclou com as poucas nuvens que refletiam os raios alaranjados do sol daquela tarde, e assim que uma forte brisa nos atingiu de repente, eu tive a impressão de que quanto mais alto as torres verticais da roda-gigante nos erguiam, menos eu me preocupava sobre qualquer tipo de problemas ou complicações que normalmente costumavam me atormentar durante todas as horas dos meus dias.

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