Mais Que Um Sentimento

23 - Mais do que fotografias

Eu ainda estava rindo como se tivesse esquecido de todo e qualquer tipo de noção da realidade à minha volta quando o Edan virou a Gamora em mais uma das ruas que havíamos ultrapassado para chegarmos até o cinema drive-in, a duas horas atrás, e tinha a impressão de que continuaria rindo daquele jeito até o final das minhas férias de verão. Se você comparasse essa mesma cena com a de uma criança admirando uma boneca Shiny toys na prateleira da sessão de brinquedos de uma loja ou com a de uma socialite de trinta anos encarando o próximo par de Jimmy Choos que ela compraria numa butique aristocrata de Beverly hills, você provavelmente não acharia nenhuma diferença.

Era um longo caminho revestido por estradas asfaltadas e de terra, pedregulhos vacilantes, vegetações típicas da Califórnia e quase nenhum pedestre, então eu sabia que permaneceríamos naquela pequena viagem por mais cinco músicas do repertório do último álbum do Graham Coxon e isso só contribuiu para que a sensação de leveza que tomava conta de todo o meu corpo ficasse cada vez maior a cada distância que percorríamos.

Estava quase chegando a conclusão de que eu, Scarlett Cooper, estava apaixonada.

Mas não pelo meu melhor amigo em si, em sua forma física e interventora! É claro que não... Estava apaixonada por cada sensação que se apoderava de mim quando as suas mãos percorriam as partes sensíveis do meu corpo, apaixonada pelas carícias inacreditáveis que a sua língua conseguia fazer na minha, apaixonada pela sua mania de morder o lábio inferior antes de fazer um comentário completamente indecente sobre mim e apaixonada principalmente pelo jeito como ele lançava alguns olhares nada discretos na minha direção pelo mesmo retrovisor que eu usava para encara-lo enquanto mantinha meus braços e minha cabeça apoiados na janela aberta do passageiro.

Era engraçado porque estávamos agindo como se fôssemos verdadeiros cúmplices culpados prestes a serem descobertos por alguma autoridade judicial que não fazia absolutamente nenhuma ideia do que tínhamos feito de errado.

Mal consegui prestar atenção em uma palavra sequer que Bonnie ou Clyde proferiram naquele filme depois de tudo o que havia acontecido entre nós dois naquela noite... Tudo era muito recente para eu começar a me preocupar com todas as paranóicas que, com toda a certeza, surgiriam na minha cabeça mais cedo ou mais tarde e isso era tão aliviador que minha mente mal conseguia processar as lembranças dos acontecimentos anteriores à nossa chegada no cinema.

Era bom parar de pensar tanto em tudo por um momento... E Edan parecia gostar de causar esse efeito muito bem sobre mim quando ele queria...

"Sabe... Você tá realmente me distraindo" Ele passou uma das mãos pelos cabelos enquanto tentava focar na estrada à nossa frente "E bater esse carro é uma coisa que está fora de cogitação, porque eu ainda quero agarrar você quando chegarmos em casa"

Àquela altura, eu não sabia se o meu rosto era capaz de conseguir corar ainda mais.

Nossa noite tinha sido recheada por comentários daquele tipo vindo do Edan e parecia que eu nunca estava preparada para ouvi-los quando eles apareciam. Já tinha me acostumado com o fato de ele ser muito direto sobre muitas coisas ao longo dos anos, mas ainda assim, era muito estranho ouvir o quão atraído Edan parecia ser por mim com todas as sílabas de todas palavras em alto e bom som saindo diretamente da boca dele.

Nunca pensei que isso pudesse ser uma opção a ser considerada...

Sempre tive o costume de colocar o Edan em um tipo de pedestal amoroso o qual eu nunca alcançaria. Quero dizer, ele sempre se interessava pelas garotas mais confiantes, atrevidas e provocativas que pareciam querer arrancar as roupas que usavam assim que colocavam os olhos nele e eu sempre fui o completo oposto de todas elas. Sei que a última parte sobre arrancar as roupas quase aconteceu de fato naquela noite, mas você me entendeu.