Mais Que Um Sentimento

22 - Mais do que um drive-in

"Meu Deus, não acredito que isso ainda existe nos Estados Unidos! Na última vez em que entrei em um desses, eu ainda estava em Birmingham" Foi o que eu disse quando paramos em uma das últimas filas dos carros estacionados e preparados para assistirem a história icônica de Bonnie e Clyde dirigida por Arthur Penn na década de sessenta no telão branco à nossa frente.

"Você se impressionaria com o tanto de coisas que ainda existem nos Estados Unidos" Edan piscou na minha direção como resposta antes de abrir a porta do carro.

Acho que ele não percebeu o quão quieto havia ficado assim que nós partimos da praia. Até cheguei a considerar a hipótese de que toda aquela corrida antes de nos despejarmos na Gamora tinha sugado toda a sua energia mas descartei aquela ideia um segundo depois. Edan não parecia cansado... Ele parecia pensativo. Por isso resolvi fingir indiferença quando notei que seu olhar permaneceu perdido em algum ponto da estrada por quase toda a viagem.

"Ei! Aonde você vai?" Consegui fazer ele me escutar antes de ter se distanciado muito da janela do carro.

"Vou dar uma olhada em quem está encarregado dos ingressos de hoje a noite... Se eu tiver sorte, posso conseguir um desconto para nós dois!"

A placa da Gamora tinha sido fichada assim que passamos pelos cones de advertência da entrada do cinema e só seríamos liberados quando pagássemos pelos ingressos na bilheteria que ficava logo atrás dos carros. Não notei Edan carregando nenhuma carteira durante a nossa fuga então me vi torcendo para que ele encontrasse algumas cédulas de dinheiro perdidas nos bolsos da sua bermuda.

Quando ele voltou quinze segundos depois e apoiou os cotovelos na minha janela aberta com um sorriso mais que suspeito estampado no rosto, eu soube imediatamente que ele estava planejando algo.

"Adivinha só, pensei em um jeito de conseguir descolar aqueles dois ingressos de graça...!" Algo acabou ficando implícito na sua frase.

"Mas...?" Eu o encorajei.

"Mas... Você vai ter que fingir que é minha namorada"

"O quê?... Porquê? O que você fez?!" Eu deveria ter feito aquelas perguntas em um ritmo que teria deixado a minha dicção um pouco mais compreensível, mas não consegui disfarçar a minha surpresa tempo o suficiente. Eu tinha ouvido aquilo direito?

"Ah, vamos lá! Não vai ser tão difícil assim..." Edan apontou a bilheteria atrás de nós com o polegar "...Summer Bittencourt está cuidado dos ingressos esta noite e eu sei que ela vai ceder em menos de cinco segundos se um casal apaixonado aparecer no cinema drive-in onde se conheceram pela primeira vez... Demonstrações públicas de afeto deixam as pessoas mais vulneráveis, ela vai cair direitinho!"

"Summer Bittencourt vai ceder em menos de cinco segundos se você passar a mão pelos cabelos e lançar esse seu sorriso na direção dela, você sabe que tem um dom sobrenatural pra deixar as mulheres manhosas!" Nem eu mesma sabia porque estava sugerindo aquilo para ele. Só o fato de pensar no Edan paquerando uma loira cobiçada me fazia querer voltar para o acampamento na mesma hora "...E ainda por cima você está sem camisa!... Só flerte com ela e vai dar tudo certo"

"Porque eu flertaria com ela se posso flertar com você?"

Agora eu queria oficialmente enterrar o meu rosto quente em baixo do banco que me sustentava. Torci para que ele não tivesse percebido o que aquela frase tinha feito com os meus batimentos cardíacos mas o sorriso na sua boca começou a se alargar mais ainda.

"É isso! Consegui deixar você vermelha dos pés à cabeça! Agora ela vai achar que estávamos fazendo algo indecente no banco de trás do carro e nossa história vai ficar ainda mais convincente, anda! Vamos logo..." Ele abriu a porta do passageiro e me puxou para fora do carro em menos de cinco segundos.