O elevador || Shawn Mendes

Eu ainda amo você

Vênus, o planeta do amor. 

Não faço ideia do que se passava na cabeça da minha mãe quando colocou esse nome em mim e muito menos na do meu pai que concordou com essa história toda. Quando era mais nova, achava que até que tinha sido amaldiçoada, já que não dava certo com nenhum dos meus "amores". 

Pedro foi meu primeiro.

O primeiro a durar, o primeiro a ser oficialmente apresentado para a família toda.  

Caminhando pela sala do meu apartamento noto o vazio na estante onde ficavam nossas fotos das viagens, dos jantares, dos passeios e de todas as coisas incríveis que passamos juntos ao longo desses quatro anos. Era por isso que eu odiava os domingos, a maldita nostalgia sempre batia a minha porta.

Eu seria uma completa mentirosa se dissesse que não sinto falta dele em alguns momentos, mas eu não voltaria com ele em hipótese alguma. Pedro acabou com a confiança que construímos ao longo do tempo e no início, eu me pegava pensando onde foi que eu errei, depois senti tanta raiva por não ter percebido os detalhes e por fim aceitei e entendi que foram escolhas dele e que provavelmente mesmo se eu tivesse feito tudo diferente, terminaríamos do mesmo jeito. 

Meu Deus! 

Eu realmente odiava os domingos. Todos os programas pareciam chatos, não havia nada para fazer, nenhuma questão pendente em relação a escola, todos os meus jogos já estavam zerados e até mesmo as redes sociais pareciam chatas. 

Ana estava num encontro, o que era raro, já que ela nunca se prendia a alguém e mesmo quando Pedro e eu estávamos juntos, ela estava esparramada no chão da sala vendo um filme conosco. 

A verdade era que eu queria falar com Shawn, mas estava me segurando para não mandar nada por dois motivos. 

1 Se Ana realmente está certa ( o que ela está na maioria das vezes),  e eu estou me apaixonando, eu me ferrei bonito. 

2 Ele é famoso e provavelmente está fazendo o que os famosos fazem. 

Resolvi pedir uma pizza e escolher o filme mais clichê possível para assistir. Sempre achava magicamente uma solução para alguns problemas da minha vida em algum filme ou livro. Por exemplo, quando li O segredo de Emma Corrigan, percebi que muitas vezes fui a única parte que se abriu nos meus antigos relacionamentos ou quando assisti Amizade Colorida, entendi que é uma péssima ideia ter uma amizade colorida, já que você pode se apaixonar. 

Minha campainha tocou e eu estava dando graças a Deus que minha pizza tinha chegado, cheguei praticamente saltitando na porta. 

- Moço, ainda bem que você chegou porque eu ... - me interrompi. Não era o entregar de pizzas. 

- Você mudou a fechadura. - ele observou. 

- O que você está fazendo aqui Pedro? - perguntei. 

- A gente tem que conversar, já passou tempo demais e eu ainda penso em você.- ele falou com a voz embolada. Não acredito que ele está bêbado na minha porta em pleno domingo quase quatro meses depois da gente ter terminado. 

- A gente não tem nada que conversar, já falei mil vezes. - Pedro trazia um pequeno buque nas mãos, eram tulipas roxas. 

- Por favor, vamos entrar e me deixe explicar, Vênus.- ele parecia cansado, as olheiras estavam bem acentuadas e quase tão escuras quanto os olhos dele ele parecia não dormir a dias. 

- Não. 

- Você está com alguém? - o tom de voz dele mudou, antes parecia suplicante, agora estava quase ameaçador. 

- Não no momento. - respondi sem pensar, apertando a porta com tanta força que se ele olhasse perceberia meus dedos brancos. 

- Então você está com alguém?- ele repetiu a pergunta. 

- Isso não te diz respeito. 

- Caralho Vênus! - ele jogou as flores no chão e gritou. Eram poucas as vezes que ele havia gritado comigo, ele sabe o quanto eu odeio que façam isso. - Quatro meses e você já está dando para outro?!

- Não te interessa merda nenhuma da minha vida mais. - falei e agradeci por minha voz não falhar. Eu o encarava, mas estava tremendo, ele nunca me olhou da forma que está olhando agora. 

- Você é minha, sempre foi. Lembra quando você dizia isso? 

- Eu claramente estava cega e não sou sua. Você escolheu seu caminho- Lembrei a ele. - Você escolheu me perder! 

- Você não me ama mais então? - Os gritos dele estavam começando a fazer minha cabeça zumbir. 

- Não. 

- Vamos lá, todo mundo sabe que o amor não acaba assim, são quatro anos. - ele deu um passo em direção a porta. - Vamos entrar meu amor, vamos ver um filme. 

- Não me chame assim. - sibilei. - Mais um passo e eu chamo a policia. Vá embora daqui. 

O cheiro do perfume dele misturado com o forte cheiro de bebida estava me deixando tonta, se ele não saísse dali eu provavelmente acabaria vomitando ou desmaiando nos pés do meu ex namorado bêbado. 

- Pedro. - respirei fundo tentando juntar forças para falar. - Por favor vá embora, se você ainda tem um pingo de respeito por todos esses anos que passamos juntos. 

-Mas você não me dá a chance de me explicar. - as palavras saíram embolados e quando olhei para o cara na minha frente os olhos estavam cheios de lágrimas. - Eu errei, sei disso, mas porra! Eu tô vivendo um inferno sem você. 

- Eu não vou conversar com você nesse estado. - falei por fim. - Vá para a casa, se recomponha e amanhã eu falo com você. 

- Você promete? - Uma gota solitária escorreu pelo seu rosto e eu engoli seco. Que merda está acontecendo? 

- Prometo. 

Ele se afastou e eu soltei a respiração que nem percebi estar prendendo. 

- Vênus, eu ainda amo você. - ele falou e eu fechei a porta desabando no chão.