Um dia daqueles

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Pela primeira vez em meses eu não mandei mensagem e nem Shawn.

Na segunda pela manhã, parecia que um caminhão tinha passado por cima de mim diversas vezes. Não consegui pregar o olho um minuto sequer e as palavras de Pedro ficavam rondando minha cabeça.

Me arrastei em direção ao colégio e coloquei um sorriso enorme no rosto, afinal, minhas crianças não tinham culpa da minha noite mal dormida. Pedro me esperava no corredor da minha sala e diferente da noite anterior, mal me encarava.

- Eu gostaria de pedir desculpas. - ele começou.

- Eu só não quero que apareça mais lá daquela maneira. - O que eu realmente queria dizer era para ele não aparecer de forma alguma, mas as palavras não saiam.

- Nós vamos conversar hoje?

- Sim. - Maldita mania de prometer as coisas no calor do momento e me arrepender depois. Mas não consigo descumprir nenhuma promessa, por mais difícil que fosse. 

- Ótimo - ele sorriu para a mim. - Te espero na saída irmos juntos ao nosso restaurante.

- Não. - Não o deixei terminar de falar acabando com qualquer resquício de animação. Nosso uma ova. - Me encontre lá.

- Tudo bem, até lá então.

Pedro saiu em direção as outras salas. 

Eu não encontrava adjetivo nenhum para definir como havia sido meu dia.

Nenhuma palavra parecia certa. Meus olhos estavam tão inchados e vermelhos como nunca haviam ficado antes e meu corpo se recusava a se levantar da cama. Cada músculo doía e minha cabeça latejava tanto que o barulho da minha respiração estava me incomodando.

Pela milésia vez rejeitei a ligação de Ana, eu ainda não estava pronta para falar com ninguém sobre o que tinha acontecido. Maldita ideia de prometer conversar. Maldita ideia de prometer conversar pessoalmente. As palavras dele rondavam meus pensamentos e eram como navalhas retalhando o que restou de mim.

Minhas únicas certezas naquele dia eram que eu não voltaria para ele de jeito nenhum e que estava realmente me apaixonando por outra pessoa, porque apesar de toda magoa, toda dor, tudo que eu queria naquele momento é que ele pudesse estar ali comigo, afagando meu cabelo e dizendo que tudo vai ficar bem.

Mas eu sabia que em hipótese alguma isso daria certo, afinal, nós somos amigos e eu não queria por nada no mundo estragar essa amizade. Além de Ana ( que é minha amiga desde sempre), confio nele de olhos fechados para contar tudo, todos os meus medos, inseguranças e mesmo estando longe, ele faz de tudo para ser presente, é como se fosse natural para ele.

O telefone tocou de novo e o nome de Ana apareceu no visor, uma hora ou outra eu teria que atender mesmo ...

- Vênus! QUE MERDA ESTÁ ACONTECENDO? VOCÊ DESAPARECEU O DIA TODO! - Ela berrou do outro lado da linha e eu respirei fundo sentindo novamente o bolo se formar na minha garganta.

- Você quer vir aqui? - perguntei. As palavras se arrastavam e minha voz estava estranha, como se não fosse eu quem estava falando.

- Chego em 10 minutos.

Eu estava cansada de suspirar e de chorar, mas quando abri a porta e vi minha amiga me olhando assustada, comecei a chorar novamente.

- Vênus- ela falou me abraçando. - O que aconteceu?

- Me desculpa - falei enquanto chorava. - Só me desculpa.

- Me fala o que aconteceu, você tá me assustando.

O elevador || Shawn MendesOnde histórias criam vida. Descubra agora