Capítulo seis

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A escrita dourada

A escuridão foi se dissipando mansamente e mais uma vez a luz, ou a ausência de escuridão, foi ficando mais evidente.

Nina acordou no centro de um quarto lilás-acinzentado, iluminado somente por uma lamparina de brilho branco fraco. Quando seus olhos ficaram finalmente abertos, levantou meio corpo, mantendo-se sentada, e viu Abel ao lado de sua mãe, que àquela altura ainda não era sua mãe.

Estavam no canto do quarto, a jovem Lorena sentada em uma cadeira branca, o rosto apoiado pelo cotovelo enquanto rabiscava na margem de um papel. Sua maquiagem estava teatralmente borrada e sua elegância havia fugido. Não estava mais usando seu vestido enaltecedor, mas um pijama rosa simples, que lhe dava uma aparência infantil.

Nina pôs-se de pé e caminhou até a mesa, ao se aproximar ouviu um breve sussurro vindo da mãe, mas não deu muita atenção, sua curiosidade estava voltada para Abel. O sangue havia parado de escorrer, ainda havia vestígios da violência em sua roupa, mas em geral parecia, não fosse a grande bola vermelha em seu olho direito.

— Abel — primeiro um pequeno sussurro —, o que eu fiz com você? — então sua voz aumentou angustiada.

O ursinho pareceu levar um susto, mas se recompôs imediatamente e desceu atônito da mesa, como se estivesse esperando pela garota por bastante tempo. Não deu importância para pergunta de Nina e simplesmente correu para abraçá-la.

Aquilo surpreendeu a garota, que não esperava ser recebida com tanto carinho após o que havia feito.

—Ainda bem que você acordou, Nina. Estava ficando preocupado — Abel falou, enquanto afastava-se do abraço e a encarava com o olho restante.

— Precisamos curar seu olho... — suas mãos foram se aproximando do rosto de Abel de forma sorrateira.

— Não é preciso, Nina. Usar seus poderes agora só vai fazer você gastar esforço mental — Abel afastou as mãos e acrescentou paciente —, além do mais, a gente pode precisar deles para algo mais importante depois.

A garota pareceu indecisa por um momento, sua razão e emoção travavam uma batalha incessante dentro de si. Por fim, ela percebeu com dor no coração que ele estava certo. Sentia-se mais fraca, como se fosse desaparecer a qualquer momento, e poderia precisar do pouco poder que lhe restava futuramente.

— Eu me sinto tão egoísta, mas acho que você tem razão. — lágrimas escaparam das celas de seus olhos, e assim que as fizeram, Abel as enxugou com sua redonda mão de pelúcia.

— Shhh, não se preocupe com isso agora. Quando a gente conseguir te salvar, tudo vai ficar bem e voltar ao que era antes! A gente só precisa achar a pista que Aurora falou que nos daria.

Aquela frase foi como um soco na cara de Nina, por um momento ela havia esquecido completamente seu objetivo ali. Então, quando foi se lembrando do seu desmaio, perguntas começaram a surgir na sua cabeça. Aonde estou? Como vim parar aqui?

Estava sendo perseguida por essas perguntas desde que chegara ali, na sua própria imaginação. Ao distinguir pelo semblante de Nina sua confusão, Abel decide ajudar a garota a refrescar a memória.

— Ainda não sei exatamente o que estamos procurando, desde que cheguei aqui sua mãe só sabe falar sobre seu pai e...

— Afinal, que lugar é este? — a cabeça de Nina se movia estreitamente, buscando por uma resposta nas paredes.

— Não percebe? É o quarto de sua mãe... antes dela se tornar sua mãe, claro.

A voz de Nina soltou um cochicho indecifrável e ela voltou a perguntar.

O Conto de NinaOnde histórias criam vida. Descubra agora