Capítulo quatro

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Primeiro Portão: Raiva

— Acho que essa combina muito com você... — Nina deixou aquelas palavras saírem de sua mente enquanto segurava seu queixo pensativa. Abel se postava em sua frente com um semblante ansioso.

Agora o ursinho não mais andava pelado por aí, mas com um macacão liso azulado, numa tonalidade clara que dava mais vida à sua pelagem desprovida de vida.

— Podemos ir agora? — revelou-se um pouco incomodado com tantos atrasos. Sabia que tinham ganhado um pouco de tempo, mas isso não significava que Nina poderia jogar tudo fora em troca de um pouco de diversão momentânea.

A garota assentiu com a cabeça e retomou seu olhar sério, virou-se para o grande portão de madeira com tonalidade escura e encostou na circunferência de metal com a palma da mão. Não precisou fazer mais do que isso; como se o castelo estivesse lhe dando boas vindas por conta própria, o portão se abriu na frente dela, poupando-lhe de gastar energia. Apesar disso, não se sentiu muito confortável com a facilidade que foi entrar ali. Ninguém de fora jamais havia entrado ali, então não era para se esperar um guardião na entrada do castelo? Ou então uma armadilha, como Abel falou...

Deixou essa questão vagar na sua cabeça até que foi perdendo força, quanto mais pensava nisso mais a sua mente buscava por uma explicação plausível para aquilo. Talvez fosse porque somente ela tinha acesso àquela entrada, ou talvez as criaturas de dentro eram presas por já terem nascido ali.

O barulho de madeira rangendo ao se mexer sozinha fez Abel se arrepiar por dentro das novas roupas. Sentiu seus pelos se içarem e teve um mau presságio, então segurou a mão da garota antes que ela entrasse.

— Nina, espere! Não sabemos se tem alguma armadilha lá dentro... — Abel olhou exasperado para garota, não querendo intimidá-la, mas buscando um pouco de precaução sem seus olhos.

— Não há com o que se preocupar, se realmente estamos dentro da minha imaginação como você disse, então este é meu castelo certo? — sua pergunta soava mais como afirmação do que outra coisa. Mas suas mãos continuaram entrelaçadas. — Vamos, Abel, agora é sua vez de confiar em mim.

A entrada deles no castelo não foi exatamente o que se chamaria de "começar com o pé direito". Assim que Nina pisou com seu pé direito no piso de mármore do castelo, sentiu um pequeno espetar na sola de seu tênis vermelho, teve uma sensação de déjà vu que a incomodou. Sobressaltou-se soltando a mão do ursinho com um pequeno susto pela sensação inesperada que trouxe de volta a memória da escada.

Deixou escapar uma pequena reclamação e olhou preocupada para Abel, que se mantinha ereto, com exceção da cabeça que fixava o pequeno objeto pontiagudo que estava no chão com curiosidade. – Bem, talvez esta seja a armadilha.

Sem avisar, uma forma de dois metros surgiu dramaticamente das sombras, acrescentando quase inaudívelmente uma frase.

— Na verdade, está mais para uma campainha engenhosa. Ninguém sabe o que é isto.

Os rostos de Abel e Nina viraram-se imediatamente para a forma acima deles, um pânico gerado pela falta de atenção de ambos. Se não fosse o silêncio ensurdecedor do castelo, não teriam ouvido aquela voz aguda e arranhada de jeito nenhum, mas não tiveram dificuldade de fazê-lo uma vez que nada se ouvia com exceção da própria respiração deles.

Agora com o corpo completamente exposto onde havia um pouco de luz, a imensa criatura peluda se apresentou.

— Talvez vocês me conheçam pelo nome de...

— Aurora!

Nina não deixou a criatura terminar sua apresentação e foi correndo para abraçá-la. Sentiu a maciez dos pelos brancos da gata. O abraço não foi retribuído com a mesma intensidade, mas Aurora se esforçou em fazer a garota sentir-se segura em seu braço com longas garras na ponta.

O Conto de NinaOnde histórias criam vida. Descubra agora