Capítulo treze

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Revelação!

O vulto da Sra. Esiw ficou embaçado à medida que Nina ia perdendo controle sobre si, e a memória de seus pais na escadaria gritando sem voz se misturava com a imagem da coruja fazendo o mesmo agora. Podia-se ouvir meramente um "ei garota" aqui e um "levante-se" ali, mas nada muito nítido para ter certeza.

Conforme foi respirando duramente, se esforçou para não perder a consciência, ainda estava cansada e se sentia abalada psicologicamente. Era como se, pela primeira vez, tivesse se dado conta de que realmente poderia morrer. E aquela coruja... aquela coruja não ajudava em nada...

Bem, contraditoriamente, ela estava ajudando agora – a levantar a garota. Ergueu um braço dela e apoiou-o em volta do seu pescoço. Apesar de sua estatura baixa, ela tinha bastante força, pois foi em segundos e sem muito esforço que conseguiu levantar a garota o suficiente para colocá-la sentada na sua poltrona. E até que a poltrona preta com acolchoado de couro era bastante confortável!

Apesar de não combinar nada com a decoração do quarto, era uma boa escolha para quem quisesse descansar ou simplesmente se sentir aconchegado.

A percepção de Nina foi retornando relutantemente enquanto ela tentava se concentrar em não morrer, seu corpo estava transpirando em abundância e ela sentia o líquido transcorrer no caminho de suas axilas até as pontas dos dedos. Tinha certeza de que faltava pouco para ela acabar falecendo no meio da sua missão.

Mas ainda não era a hora, seu coração foi acelerando e sua vista focando novamente conforme viu a Sra. Esiw se aproximar com um copo d'água.

É claro que inicialmente ela não sabia que era um copo d'água então relutou para tomar, mas percebeu, ao virar o rosto, que a xícara floral e o bule estavam postados imóveis na mesa de madeira ao lado. Virou novamente o rosto para a coruja que estava postada em seu colo erguendo o copo para sua boca enquanto sua outra mãozinha coberta de penas esperava debaixo do seu queixo, como uma mãe dando papá para um nenê.

Estava óbvio o que ela queria quando puxou o bule e a xícara da parede, e Nina agora entendia também. Ingeriu o líquido em grandes goles e, quase imediatamente após terminar, deixou lágrimas escorrerem como se estivesse com o orgulho ferido. Como quando uma criança percebe que o adulto tem razão e deve pedir desculpas.

— Eu não quero morrer! Estou com medo! — as palmas de suas mãos foram de encontro com seus olhos.

Inesperadamente, a coruja sai de seu colo e se posta entre a poltrona e a lareira e fica parada por um momento. Não era bem essa a reação que a garota estava esperando, então destampou os olhos curiosa e tentou controlar os soluços enquanto suas lágrimas insistiam em cair.

De repente, a Sra. Esiw foi aumentando, literalmente! Sua forma continuava a mesma, tons amarronzados, um liquidificador de cores na barriga e grandes orelhas, mas agora tinha algo mais... sim! Um cabelo quase humano foi se desenvolvendo em sua cabeça até a altura dos ombros, da mesma cor que suas penas. Seus olhos esbugalhados foram ficando proporcionais à medida que seus ombros se alargavam e suas pernas esticavam-se. Por fim, assumiu uma fisionomia mais feminina, quase divina. Parecia uma adulta, mas ao mesmo tempo se assemelhava à uma deusa.

— Obrigada por ter falado com sinceridade, Nina — Sra. Esiw esboçou um sorriso simpático enquanto observava o semblante estupefato da garota. — Era isso que eu precisava ouvir e, agora sim, você se mostrou digna!

Nina estava admirada demais com a transformação da Sra. Esiw para que conseguisse expressar qualquer coisa. Ficou parada na poltrona, boquiaberta e com o rosto esticado para frente. A surpresa fora tão grande que parara de soluçar sem perceber, mas suas lágrimas ainda estavam visíveis, ainda secando, e seu corpo já não transpirava mais como antes.

O Conto de NinaOnde histórias criam vida. Descubra agora