Capítulo dezessete

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O Último Portão: Afeto

A maçaneta dourada tinha uma textura leve apesar do que aparentava. Nina deixou seus dedos correrem pela ponta do cabo simétrico até a metade e segurou-o com força. Empurrou-o cautelosamente para baixo, receosa do que poderia acontecer. Nunca era tarde para se prevenir, então ela abaixou gentilmente a maçaneta com uma mão enquanto impulsionava o grande portão branco com a outra. Abriu somente a parte direita, e espiou pela abertura o que haveria lá dentro, mas somente luz foi capaz de enxergar.

Não uma luz ofuscante e torturadora, mas uma claridade célebre e confortante. Entrou sorrateiramente no cômodo misterioso e fechou o portão atrás de si com as mãos dobradas nas costas. Olhou ao redor, mas não conseguia enxergar nada além de claridade. Nem mesmo sabia se estava pisando em um piso branco ou se estava pisando em luz pura.

Andou cerca de cinco passos para frente e fechou os olhos, segurando as mãos na altura da cintura e deu um último e longo suspiro sereno.

Quando abriu os olhos novamente, estava numa cama de hospital, suando e cheirando soro fisiológico. Sua primeira intuição foi tentar olhar para o próprio nariz e, mesmo tampado por uma grande e transparente máscara de suporte respiratório, ele estava lá!

Nina olhou para o lado, seguindo a direção que os grossos tubos que saiam de seu corpo levavam e encontrou a fonte que os conectava — uma grande haste com estacas de alumínio dobradas para cima segurando bolsas de plástico transparente com líquidos desconhecidos. Haviam cerca de três bolsas, cada uma com um líquido de uma cor, respectivamente: bege, vermelho e azul claro. No meio de cada uma havia um rótulo com letras pequenas e uma assinatura feita à mão.

Retornando o caminho dos tubos de volta para a cama, Nina via seu corpo coberto dos pés até a cintura por uma fina coberta branca, sua mão direita estava quase completamente coberta de furos e fitas e sua mão esquerda enfaixada até os dedos. Sentia receio de mover qualquer membro que fosse, por parte porquê estava cansada e também pois tinha medo de acabar arrebentando algum fio que a conectava com as bolsas presas ao seu lado.

Encurvando um pouco a cabeça para baixo, Nina pode ver além de seus pés esticados, seus pais sentados numa poltrona de madeira coberta por almofadas. Sua mãe mantinha um olhar inconsolável enquanto seu pai a abraçava de lado, acariciando seu braço e tentando conter a própria tristeza. Era um alívio vê-los.

— Mamãe... — A intenção era de que sua voz chamasse atenção, mas não passou de um suspiro. — Papai...

Conseguiu forçar suas cordas vocais e seu chamado foi atendido, assim que seus pais ouviram seu sussurro doído, levantaram desesperadamente para irem de encontro com a filha. Ouviu-os clamar "Nina" diversas vezes como se seu nome fosse uma benção curativa e sentiu o caloroso beijo de ambos em sua testa enquanto derramavam lágrimas de felicidade.

Nina os viu se encarando sorridente um para o outro e depois para ela novamente e entendeu que não importava o que aconteceria daquele momento em diante. O que realmente importava era que, naquele momento, se sentia ótima.

O Conto de NinaOnde histórias criam vida. Descubra agora