Capítulo 12

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Olho em volta.

Vejo uma casa de campo e logo vejo um pequeno lago, o sol está baixo e noto que já tarde. Mas onde está Samira? Eu tinha avistado antes de entrar.

Aproveito o ar fresco para respirar, o ar aqui é leve e puro, não é como o ar poluído das cidades. Sorrio. Escuto um grito, parece ser de criança e esta vindo de dentro da casa.

Corro em disparada.

Atravesso as paredes e vejo uma criança deitada, tem a pele morena e cabelos cacheados soltos, noto que sua expressão é de dor. Logo outro grito surge e tampo os ouvidos usando as mãos.

A menina começa a se mover de um lado para o outro e agonizando de dor grita novamente e seu corpo começa a flutuar devagar enquanto seus gritos vão se tornando cada vez mais alto. Escuto o barulho da porta sendo ligeiramente aberta. Uma mulher negra entra mais antes de falar qualquer coisa é interrompida quando algo é lançado nela.

Então foi isso que Samira me viu fazer, não é por nada que ela ficou tão assustada quando me viu fazer a mesma coisa que já havia feito anos atrás.

Gregório disse que ela estava presa em uma lembrança e é claro que noto a semelhança entre essa menina e Samira.

Me lembro quando eu fiquei presa, acho que foi a primeira vez que aquilo me aconteceu e não foi gostoso acordar, senti muita dor e Samira deve estar sentindo o mesmo.

A pequena Samira começa a atirar coisas para todos os lados.

Um homem entra no quarto e é atingido várias vezes pelos objetos, ele tenta chegar até ela. Logo vejo Samira entrar, seu rosto está pálido e tem marcas de lágrimas. Ela não me vê. Seus olhos estão fixos no homem.

Quando vejo o homem já esta com a menina no colo saindo do quarto. Samira vai atrás e a sigo. No caminho vejo a mulher desacordada no chão da pequena cozinha.

Sinto pena.

O homem vai em direção ao lago.

— Papai? Onde vamos? — A menina diz.

O homem entra no lago e afunda a menina a segurando firme. O pai de Samira tentou matá-la.

Sinto raiva e tenho vontade de enforcá-lo só por estar fazendo isso, mas me controlo. Tenho que tirar Samira daqui.

A menina se debate procurando por ar e Samira se mantem de pé, parada, sem fazer nada.

— Você não vai fazer nada. — falei mas ela não deu atenção. — Samira!

— Não iria mudar nada! — Ela esbraveja e vejo suas lágrimas. — Não mudaria nada. Isso já foi, já passou.

O homem ainda a segura dentro do lago. Não sei o que ele sentiu mas vejo o medo passar pelos seus olhos e quando menos espero um pedaço de madeira atravessa seu corpo fazendo o sangue espirar para os lados e a pequena Samira surge nadando para longe.

Samira grita. Não sei o que passa pela sua cabeça mas tenho que levá-la de volta.

Eu pego o seu braço firme mas ela tenta se soltar.

— Você precisa acordar! — falo firme. — Eu sei que dói ver tudo isso, eu sei o que está sentindo. Mas isso já passou, não é? Você não pode viver no passado! Não pode se culpar! Samira!

— VOCÊ NÃO ENTENDE! NÃO PODE DIZER O QUE NÃO SABE E NÃO PODE FALAR QUE JÁ SENTIU ISSO!

— É VOCÊ QUE NÃO ENTENDE! — grito mais alto na tentativa de fazê-la escutar. — VOCÊ NÃO PODE VIVER PRESA AQUI, PRECISA SUPERAR.

Distintos - Presságios dos Sonhos - Vol IOnde histórias criam vida. Descubra agora