Capítulo 17

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Um barulho inquietante surge, parece um assobio distante. O que é? Por quê? Será outro dos meus sonhos? Escuto um estrondo que chama a minha atenção. Os relâmpagos surgem e o barulho do trovão chega em meus ouvidos. Certo, esse é o estrondo. Só há relâmpagos e trovões, apenas o que vejo claramente.

Escuridão, o cheiro é diferente e o lugar também, não reconheço. Mas, então? Onde estou?

O assobio que ouvi a pouco me chama a atenção novamente em meio a tempestade que começa. O vento frio sopra e faz com que me desequilibre e me agarro em algo. Escuto um riso longo e claro, a luz de um dos relâmpagos clareia a minha volta por um instante. Uma floresta, estou em uma floresta. Escuto o galho no qual me agarrei quebrar.

Minha visão está um tanto lenta e minha cabeça dói quando acordo, não me sinto descansada como devia. Suspiro. Meu corpo está pesado e levantar faz parecer que fui atropelada por um caminhão. Pequenos fragmentos de meu sonho começa a vir. Está tudo confuso — certo Alexandra, seja inteligente, tente se lembrar — , mas não consigo me lembrar. Minha cabeça dói apenas de pensar, eu queria poder. Imagens vem em minha mente. Escuro, muito escuro. Barulho, um assobio. Relâmpagos e trovões, tempestade. E então, uma floresta.

Meu peito se aperta. É ruim, muito ruim. Grito.

Sinto uma mão em meu corpo apertando meu peito. Grito por ajuda e escuto alguém dizer algo. Não sei o que é, não sei de onde veio. Mas quer me levar. A dor não se compara com nada que eu já tenha feito comigo ou com meu corpo e isso é tão dolorido que sinto medo. Sinto que a cada grito a dor piora e as lágrimas começam a sair, a dor parece ser uma mistura de todas as minhas tentativas de suicídios e todos juntas multiplicadas por cem. É doloroso e ruim. É intenso e insuportável.

— Alexandra?

Está voz é da Lie, certo?

— Ei? Alexandra?

De novo, é ela.

— Aí me Deus. Certo! Vou tentar de novo.

Uma leve sensação de segurança me toma mas tremo. Estou com medo. Ainda sinto aquela mão em volta de mim como se estivesse esperando por algo. Sinto um sopro gelado na nuca.

— Se liberte disso, minha querida... — A voz é de mamãe. Meu coração se aperta e volto a chorar.

A mão ainda em volta de mim apenas aguarda.

Vá embora! Vá embora! Minha mente grita a procura de alguma saída, então sinto aquele ar de segurança e de preocupação aumentar.

— Por favor... — Lie novamente diz. — Acorde...

Estou presa e não consigo sair, não consigo acordar. Tenho medo da dor voltar. Tenho medo do mundo que esta por vir.

— Alexandra... — A voz dela ficou fraca. — Você é forte... Acorde... — sussuros, apenas isso que escuto. — Mais uma vez Lie, você consegue... Só mais uma vez...

Então uma clareza veio em minha mente expulsando tuda a escuridão em minha volta. A sensação de liberdade me tomou e a mão em volta de mim vai para longe.

O ar entrou em meus pulmões tirando a dificuldade de respirar e o corpo aos poucos esta voltando a me obedecer. Estou reagindo.

Abro os olhos e sinto meu corpo ainda pesado e as lágrimas ainda caindo. Lie em minha frente deu um pulo assustada e pareceu reanimá-la. Não demorei a perceber que estava abraçando ela. É óbvio que ainda estou tremendo de medo.

— Meus Deus! — exclamou ela. — Você estava gritando e o pessoal começou a ficar apavorado e eu também. Então vim correndo para cá e você estava... Não sei o que houve, mas você parecia estar possuída. Então eu estava tentando e tentando muito e você não acordava e eu ficava mais desesperada, você começou a chorar e me apavorei mais. Desculpe demorar mas eu não sabia o que fazer.

Ela começa a falar e não para. As desculpas também não querem ir embora enquanto ela explica o que aconteceu e em como estava louca de preocupada.

— Lie! — exclamo para chamar a sua atenção. — Obrigada.

Não consigo dizer muito. Ela sorri.

— Pensei que daria certo usar meu dom em você, parece que estou aprendendo coisas novas. Me deixa cansada e dói um pouco mas você está bem, então a dor foi boa.

— Lie. — Não sei o que dizer, nunca fui muito boa com isso e nunca fui tão próxima a alguém como sou dela. — Estou com medo, sinto medo de dormir e amanhã isso acontecer, sinto medo o tempo todo mas desta vez foi pior. Foi horrível.

Minhas lágrimas começam a cair novamente e Lie me abraça. Desabafar é como tirar um peso de minha costa e isso me faz relaxar um pouco, mas o medo não se vai.

— Vamos superar os desafios, certo? — Ela diz na tentativa de animar. — Vamos começar a superar vivendo e que tal começar agora? Temos que nos apressar para aula.

— Lie, como você consegue pensar em estudar agora? — Ela dá de ombros.

— Vai ser bom sair desse quarto. — Ela diz se levantando. — E você pode começar a se distrair com aquele muleque.

— Que muleque? — pergunto ainda pensando em deitar e nunca mais acordar.

— Aquele que te trouxe ontem e que você disse que beijou.

— Não disse isso e não beijei o Mathew. — Ela franzi a testa e depois ergue as sombrancelhas me olhando.

— Então perguntou o nome dele? Que legal! Agora você tem que conseguir o número do telefone. — Ela fala animada e sai do quarto assim que me vê pegando o travesseiro para tacar nela. O travesseiro não acerta mas escuto seu riso do outro lado da porta.

Certo, será boa idéia mesmo sair do quarto e me distrair? Sim, talvéz seja mesmo.

Me movimento e sinto meu corpo pesado que parece que estou arrastando mais alguém. Isso foi ruim, uma experiência estranha e negativa. Não que eu tenha me desacostumado com sonhos ruins e mortes, mas esse foi mesmo estranho. Não sei onde estava e e quem era a lembrança, não vi ninguém morrer ou se suicidar, eu não vi nada a não sei raios, trovôes e uma floresta.

Me arrumo mais lenta que uma tartaruga andando meio metros mas decido não desistir agora.

Tudo esta tão complicado que nem sei o que fazer mais. Podia não ter acordado. Podia estar morta ou sei lá, só não queria estar mais viva para isso.

Chegar ao colégio leva séculos. Me sinto cansada, acabada e sem a menor vontade de estudar. Isso nunca foi meu forte embora nunca tenha precisado muito para ter notas boas ou regulares, menos em matemática. Em matemática minhas notas sempre eram no máximo boas, o que me fazia ficar de olhos e ouvidos atentos a aula.

As aulas são chatas e demoradas, parece que estou a tanto tempo sentada quem minha bunda até dói. O dia parece o mesmo até ver Mathew.

Não importa a onde esteja ele parece sempre me chamar a atenção. Os cabelos castanhos ondulados parece ser tão macios e os olhos castanhos claros que me deixa curiosa, se olhar de longe parecem verdes mas não são. Respiro fundo e abaixo a cabeça fazendo meus cabelos escuros cobrir parte do meu rosto.

Tente não olhar, apenas não olhe Alexandra. Penso em uma tentativa falsa.

Posso vê-lo olhar pela sala e arregalo os olhos. Mais pessoas entram e me levanto apressada. Pego as minhas coisas e vou em direção a porta na tentativa de sair antes dele me ver.

Mathew já não esta na porta, entrou e achou um lugar para se sentar.

— A onde pensa que está indo, mocinha? — A voz carrancula do professor me faz tremer. Estava tão preocupada em sair sem ser vista pelo Mathew que me esqueci da existência do professor.

— Pra nenhum lugar professor. — respondo as pressas, a respiração para.

Distintos - Presságios dos Sonhos - Vol IOnde histórias criam vida. Descubra agora