III

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                                                                            Angeline

  Debaixo daquela mascara, que estava a todo momento em seu rosto, havia um rosto masculino de belíssimas feições, seus olhos eram de um azul fundo e escuro quase como o mais fundo dos mares, eram visivelmente tristes, com uma grande falta de brilho naquele olhar, seu cenho franzido de modo contrariado como se o que aconteceu tivesse o deixado irritado, sua boca fechada em uma linha fina, seus lábios enrijecidos algo estressados.

  Assim que ele retirou a mascara ele a pendurou em uma pequena tabua de madeira com três pregos que estava parafusada ao lado da porta de entrada, a qual eu ainda não havia visto, com isso ele retirou o sobretudo azul agora manchado, deixando amostra um corpo quase que esculpido abaixo de uma camisa preta larga, que agora estava coladíssima pela mancha de sangue que obviamente havia passado para a camisa.

-Lave isso, assim que...

-A janta esta pronta.

-Ótimo, lave isso e pode jantar depois.- Falou ele jogando o sobretudo e a camisa em mim abruptamente e se apressando para ir a cozinha. Deve estar faminto já que saiu se comer. Agora sem quaisquer obstáculos sequei por segundos seu peitoral e tanquinho, me perguntando o que ele tanto fazia que o deixava tão visivelmente forte.

  Fiz tudo o que eu devia e já era bem tarde, eu havia acabado de terminar de comer e logo fui até a sala onde eu aproveitava algumas noites que ele desenhava naquele caderninho para eu poder assistir a televisão, que costumava estar sempre nos jornais.

  Naquela noite a primeira reportagem foi de um assassinato não resolvido em uma universidade, onde um dormitório que estava sendo usado por umas quinze pessoas, já que era feriado, foi atacado e todos que estavam foram mortos, quinze pessoas assassinadas pela mesma pessoa, no cenário do crime as paredes estavam todas desenhadas com sangue e uma frase escrita: "Não fique animado pelo amanhã, porque o amanhã nunca chegará". Eu sabia bem onde era aquele lugar. Você não se importa, não é? Você sabe que eles mereciam.

Aquele lugar me trazia memórias da minha, agora, antiga vida, eu estudava em um colégio ali perto, meus colegas faziam questão de deixar claro de me odiavam, desde agressões morais e psicológicas até físicas, e eu tinha algumas cicatrizes para provar. Diante disso eu costumava tentar suicídio ou até me cortar, até... Uma menina, Jenny, começar a conversar comigo mas... 

-Hora de ir dormir, Angeline.

-Ah... Claro.- Falei me levantando e indo em direção ao porão.

-Hey!!- Assim que eu me virei vi apenas uma mochila voando em minha direção e a peguei com certa dificuldade mesmo ela estando até que leve.-Aí estão algumas roupas.

-Obrigada!-Disse pegando a sacola escolhendo uma muda de roupas, que me pareceram melhores para dormir e fui até o banheiro, que era a porta do meio daquela sala.

  Tomei um banho não muito rápido, já que eu queria sentir o meu corpo ser purificada pela água morna que descia em cascatas do chuveiro, tocavam meus cabelos que a essa altura estavam encharcados, meus cabelos marrons claros, estavam ainda mais lisos e minha pele branca estava avermelhada pela felicidade de um bom banho.

  Interrompendo minha felicidade do banho memórias da Jenny vieram a mim, ela era tão calorosa e estava sempre ali, mas por causa daquelas pessoas horríveis da universidade ao lado ela tirou a própria vida, eu me lembro ainda hoje do quão fria eu a achei no banheiro da casa dela, e de o quão bonita ela estava parecendo dormida naquele caixão antes de ser enterrada.

  Terminei logo aquele banho e fui dormir mas já não sabia se queria mesmo sair dali ou até mesmo persistir nessa vida sem o menos sentido ou valor.

  Naquela noite eu sonhei com aquele sorriso caloroso de Jenny, e de como ele sumiu depois daquele desgraçado do ex-namorado que ela arranjou naquela universidade e de como ele fez piadas dela naquele lugar e de como todos passaram a xinga-la e de como isso mexeu com ela e a levou a estar como eu estava antes dela aparecer, e de como eu não consegui fazer nada para ajuda-la depois de tudo o que ela fez por mim. Você sabe bem que a culpa não é sua e sim deles, e ainda mais dele.

  Acordei naquela manhã, cansada depois de tanto acordar durante a noite, levantei bem cedo, já que não conseguia mais dormir, preparei um café da manhã rápido e fui fazer os trabalhos da casa tentando evitar pensar demais no passado, mas os trabalhos terminaram mais cedo do que eu esperava, senti meu peito se contorcer no ritmo que eu sentia saudades de Jenny.

   Helen acordou pouco depois de mim, e se assustou com eu já estar de pé.

-O café esta na mesa. E está faltando algumas coisas na geladeira.

-Vou comprar o que precisar no caminho hoje, mas uma coisa... O que aconteceu? Você esta estranha desde ontem depois do jornal.

-Só... São coisas antigas e uma longa história.

-Nunca disse que não tenho tempo.

-Mas...

-Só fale!- Gritou ele em um tom mais irritado que o comum tom indiferente dele.

-Certo.- comecei a falar antes de estressa-lo de verdade.

  Após contar tudo o que havia passado omitindo algumas coisas, ele agiu como o de costume, mas evitava ser de todo ignorante como era antes, agindo como se eu não estivesse ali a maior parte do tempo. Ele parecia mais empático e sociável. Ele parece legal, não? além de ser muito bonito.

  Quando ele chegou trouxe consigo sacolas de compras com o que eu havia pedido ainda naquele dia, porém havia mais uma sacola com algo empacotado dentro, não iria perguntar o que era, eu odiava incomodar qualquer um ele principalmente.

-Achei que você gostaria de algo assim então eu trouxe já que eu já estava lá.

  Quando ele terminou de falar e apontou  a sacola que eu secava discretamente, fui rapidamente até ela e a abri, e lá tinha...

Um Romance IncomumOnde histórias criam vida. Descubra agora