Capítulo 7 - Ele era tão lindo...

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     Durante os primeiros dias, as coisas pareceram melhorar

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     Durante os primeiros dias, as coisas pareceram melhorar. O príncipe começou a cortejá-la de maneira adequada, e, em meio às provas de vestido e aos preparativos do casamento, eles almoçavam juntos e passeavam pelos labirintos congelados do jardim, que era tão bonito, mesmo em pleno inverno, que quase a deixava sem ar. Eles foram
se familiarizando um com o outro, e, enquanto ela lhe contava histórias de sua infância, o príncipe a encantava descrevendo suas aventuras em outras terras. Ela não tirava os olhos
dele e, às vezes, tinha de se beliscar para lembrar que estava de braços com ele e que os dois iam se casar.
     Ele sempre a beijava, e seus lábios tocavam os dela com suavidade, mas ela ansiava por sentir a paixão que eles compartilharam na noite do Baile da Noiva Real. A maior parte do tempo, porém, ela passava aprendendo tudo o que era esperado de uma noiva real: como andar, como sentar, como falar com dignitários estrangeiros, como tratar os criados e como dançar. E durante todo o tempo as pessoas criticavam sua falta da graça natural da nobreza. Frequentemente ela só queria chorar por causa do esforço, mas então Rose a encontrava e a ajudava, e isso a fazia se sentir ainda pior, pois a lembrava dos próprios atos egoístas que parecia ter cometido séculos atrás. Seu pai estava ocupado montando o jornal de alcance nacional, e a madrasta o ajudava, e quando as duas moças os viam eles estavam tão empolgados em falar de seus assuntos, que isso tornava ainda maior o enorme vazio dentro de Cinderela.
     Ela também estava cansada de suas explorações noturnas. O castelo podia mesmo não ser tão grande como sempre imaginara, mas ela tinha começado a se dar conta de que ia
levar várias semanas para examinar todos os aposentos. Normalmente não dava para escapar do jantar antes das 23 horas, depois tinha de fingir ir dormir até conseguir se levantar
escondida de novo. Ela também se surpreendeu com a quantidade de gente que parecia viver ali. Apesar de seus passos leves, muitas vezes tinha de se encolher atrás de cortinas ou
se esconder embaixo de mesas quando criados ou soldados circulavam pelo prédio a fim de
conferir se estava tudo em ordem. A maior surpresa, porém, foi descobrir que a tarefa secreta lhe era muito excitante, muito mais do que a nova vida de princesa, especialmente quando quase era apanhada. Nessas noites, ela chegava à porta da cozinha com o rosto corado e tão excitada com a emoção que o caçador morria de rir; um som rústico, da terra, e ela ria com
ele, apesar de não ter nada a contar.
     Certa noite, sua busca a levou aos aposentos do príncipe. Naquela tarde, eles tinham jogado xadrez juntos, e ela vencera, e ele olhou para ela muito surpreso, como se, além da coisinha muito bonitinha, visse a mulher que havia por baixo. A mulher em que ela estava se transformando. Seu coração saltou com a possibilidade de que, no fim das contas, ele pudesse mesmo se apaixonar por ela.
     Parada diante do quarto dele, com o chão frio sob seus pés descalços, ela não evitou empurrar um pouco a porta e abrir uma fresta para espiar lá dentro. Não queria despertá-lo, apenas vê-lo dormir e imaginar-se ao seu lado, seus corpos nus entrelaçados em vida como sempre estiveram em suas fantasias.
     O quarto estava vazio, e a cama, ainda perfeitamente arrumada. Ela ficou olhando por um bom tempo. O chão frio de repente não era nada em comparação ao calafrio em seu coração. Onde ele estava? Eram quase 3 horas da manhã, e no jantar havia dito que estava cansado. Ela fechou a porta devagar e tentou se concentrar na única razão lógica para a ausência dele, mas aquilo não funcionou muito bem. Ele estava em algum lugar do castelo com outra mulher. Ela se sentiu mal. De repente, quis voltar para seu quarto antigo, com o retrato dele na parede, para o qual podia olhar e imaginá-lo perfeito. Ela tinha sido burra. Uma garotinha burra. Virou-se e correu, com ainda mais dor no coração.

FEITIÇO - Toda beleza é magia | Saga Encantadas - Livro 2 | Sarah Pinborough |Onde histórias criam vida. Descubra agora