Capítulo 1 - Era uma vez...

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     O inverno tinha chegado cedo

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     O inverno tinha chegado cedo. Seu hálito causticante arrancou as folhas das árvores antes mesmo que tivessem ficado secas e douradas, e, mesmo a um mês do ano- novo, a cidade já estava coberta de branco havia várias semanas. O gelo acumulado nas janelas cintilava, e o chão congelado, especialmente no início do amanhecer, se tornava completamente escorregadio. Só nos dias em que o céu ficava limpo e azul, em momentos de trégua do cinza que pairava como uma mortalha sobre o reino, era possível ver o pico do Monte Ermo. Contudo, na verdade, ninguém o procurava até a primavera. O inverno tinha chegado, e sua força manteria as pessoas de cabeça baixa até que o gelo derretesse. Não era a estação ideal para aventuras ou explorações.
     Como acontecia em todos os reinos, a floresta ficava entre a cidade e a montanha. A mata era um mar de branco sob uma cobertura de neve. E, logo após os primeiros esqueletos
sôfregos das árvores emaciadas pelo frio de seus limites, ela se tornava uma floresta escura. De vez em quando, em noites silenciosas, era possível ouvir os uivos dos lobos de inverno chamando uns aos outros em suas caçadas.
     O homem mantinha a cabeça baixa e o cachecol por cima do nariz enquanto ia de poste em poste pregando as folhas de papel na madeira fria. Tinha sido uma noite especialmente gelada e, mesmo perto da hora do desjejum, o céu ainda estava escuro como à meia-noite.
Seu hálito saía tão cristalino dos pulmões que ele quase podia acreditar que era poeira de fadas. Ia apressado de um poste de iluminação ao seguinte, ansioso para terminar logo, voltar para casa e ficar diante da lareira quente.
     Ele parou no fim daquela rua cheia de casas e tirou uma folha de papel do monte, agora piedosamente pequeno, que levava embaixo do braço e começou a pregá-la no poste. Para
saber o que dizia nessas folhas, os moradores mandariam suas criadas – pois, apesar de essas casas não serem suntuosas como as mais próximas ao castelo, ainda eram de uma classe
média respeitável, onde vivia o coração da cidade, os mercadores e negociantes que mantinham o populacho empregado e vivo – para saber as últimas notícias sobre as pessoas comuns. Elas seriam discutidas depois que os arautos do reino passassem anunciando as
notícias da corte.
     Embora com luvas de lã, depois de duas horas no frio, a extremidade dos dedos estava vermelha, esfolada e pouco sensível, uma vez que havia cortado os dedos das luvas para não
perder a habilidade com as mãos. Segurou um prego, pegou o martelo pequeno no bolso, mas o deixou cair no chão. Praguejou, murmurando baixinho as palavras, e se debruçou para a frente a fim de pegá-lo, o que lhe fez as costas estalarem.

     — Eu apanho para você.

     Ele se virou, assustado, e viu um homem ali parado com um casaco carmesim surrado. Ele carregava uma mochila pesada nas costas, e suas botas estavam enlameadas e gastas. Não usava cachecol, tampouco parecia muito incomodado com o frio que consumia a cidade e lhe
havia provocado feridas no rosto. Quando o estranho se agachou, a ponta de um fuso perfurou a bolsa pesada às costas, deixando sua extremidade exposta.

     — Obrigado.

     O estranho observou enquanto pregava o papel, e seus olhos examinaram a informação
que havia ali.

FEITIÇO - Toda beleza é magia | Saga Encantadas - Livro 2 | Sarah Pinborough |Onde histórias criam vida. Descubra agora