Capítulo 9 - Um segredo

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     O jantar estava à espera deles no castelo, mas Cinderela não conseguiu comer

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     O jantar estava à espera deles no castelo, mas Cinderela não conseguiu comer. Em vez disso, ficou brincando com a comida no prato até fazer um monte num lado, revelando que ela não queria enganar ninguém, mas agora a situação era outra — ela não era criança e a comida não era pouca —, ninguém brigou com ela ou a forçou a comer. Ela se perguntou se talvez fosse porque ninguém tivesse percebido. O príncipe e o rei estavam conversando e rindo, e a rainha só ria de vez em quando e fazia um comentário sobre a qualidade excelente da carne de veado e sobre como esperava que o clima melhorasse em breve para que todos logo pudessem recomeçar a caçar.
     As entranhas de Cinderela se reviravam quando um criado levou seu prato. Estava louca para encontrar o caçador e saber de seu plano para salvar Buttons. Será que era sequer possível? Sempre houve rumores de gente que sobrevivia à Estrada dos Trolls e fugia para a floresta, mas, até onde sabia, nenhum deles jamais voltara à cidade, por isso tudo não passava de mitos e lendas. O caçador não chegaria antes das 3 horas da madrugada, e ainda faltavam quatro longas horas até lá — tempo que ela deveria passar revistando o castelo em busca do que quer que sua fada madrinha desejasse tanto. Tinha entrado em tantos
aposentos, que estava certa de que nunca encontraria nada, mas e aí, o que aconteceria? Será que a fada madrinha iria transportá-la para a Estrada dos Trolls por sua inutilidade? Do jeito que a barganha tinha sido feita entre as duas, ela não ficaria surpresa. Olhou para o outro
lado da mesa de mogno, para o príncipe cujo rosto ficava ainda mais belo à luz de velas.
     Ela também queria saber para onde ele desaparecia toda noite. Era algo tão simples como uma criada? Ou uma das outras damas da corte? Ela se perguntou por que se importava; com toda a sua preocupação em relação ao que ele sentia por ela, na verdade não
pensara muito em como os próprios sentimentos tinham mudado. Será que tudo nunca passara de paixão adolescente? Ela tinha se apaixonado por um retrato e um sonho. A realidade era diferente. Mesmo assim, a imagem do quarto dele vazio não lhe saía da cabeça, e a curiosidade estava começando a se tornar insuportável.
     Ela iria segui-lo, decidiu, quando a torta de maçã chegou decorada com creme de chantili. O aroma das maçãs doces era como perfume no ar e a boca de Cinderela de repente se encheu de água. Seguir o príncipe e revistar o castelo não eram na verdade tarefas distintas, especialmente se ele fosse a algum lugar que ainda não tivesse explorado. Ela deu uma mordida na torta. A massa derreteu em sua língua e o sabor de maçã com canela explodiu com força em sua boca. Era isso o que ia fazer. Ela ia segui-lo.
     Depois do jantar, enquanto o rei e o príncipe bebiam brandy e discutiam assuntos que homens conversam quando as mulheres não estão presentes, Cinderela correu de volta para o quarto e, quase sem fôlego, trocou seu vestido desconfortável e formal por outro mais largo e leve para que pudesse se mover com rapidez e em silêncio. Descalça, voltou até a sala de estar e se escondeu atrás de uma cortina grossa, de onde ficou espiando as portas duplas por uma fresta. Não teve de esperar muito. Logo o príncipe saiu, despedindo-se do pai com um educado aceno de cabeça e deixando o rei com o fogo, o silêncio e seus pensamentos.
     Cinderela viu seus ombros se curvarem assim que as portas fecharam, e ele esperou um pouco antes de dar o primeiro passo. Ela o deixou ganhar distância, então saiu de trás das cortinas e o seguiu, mantendo-se perto das paredes. Era tarde, e quase todos no castelo dormiam em seus aposentos; o único barulho era o ruído dos saltos dele sobre o mármore ecoando enquanto ela o seguia furtivamente.
     Ela ficou arrasada quando chegaram aos aposentos do príncipe. Cinderela ainda estava nas escadas, espiando com um olho de trás da parede para ver o que ele fazia. Ele parou diante da porta. Será que seria a primeira noite em que ele iria mesmo para a cama? Só faltava essa! Não...
     O príncipe apoiou a testa contra a porta fechada e respirou fundo, como se lutasse contra um dilema interno. O coração de Cinderela se acelerou quando ele cerrou os dentes e aprumou a coluna. O que o estava atormentando? Com certeza se estivesse apenas se encontrando com uma criadinha isso não provocaria nenhuma crise interna. A menos que
ele estivesse começando a se apaixonar por Cinderela, é claro. Seu coração se alegrou um pouco com isso, ela queria que ele a amasse. Ele tornou a suspirar, bateu a cabeça de leve na madeira duas vezes, em seguida voltou. E Cinderela foi atrás dele.

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