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O dia estava completamente radiante, diferente de Irene. Sua caneta corria pelo branco das folhas de seu caderno de forma despretensiosa e um tanto preguiçosa, enquanto tudo o que preenchia a cabeça da morena era seu desejo de sair logo dali. Tirava notas de tudo o que seu professor falava, tudo aquilo apenas para poder entregar as anotações para sua amiga, Sooyoung, que tinha faltado a aula naquele dia por causa de uma gripe tão forte que conseguiu deixar a mesma de cama.

— Joohyun! — Alguém sentado atrás dela a cutucou. Era Seulgi. — Teve notícias da Joy?

— Sooyoung? Não. Ela só me mandou uma mensagem hoje cedo pedindo para que eu anotasse as coisas que o professor falasse durante a aula e depois desse para ela.

— Eu achei que ela estaria aqui hoje, parece que ela estava realmente doente. — Abriu um sorriso constrangido que atiçou a curiosidade de Irene. — Eu acusei ela de estar mentindo para mim quando chamei ela para sair ontem. Parece que estou devendo um pedido de desculpas.

— Como é que você não sabia que ela estava doente? —zombou Irene, arqueando uma sobrancelha propositalmente apenas para irritar Seulgi.

— Eu passei os últimos dias conversando basicamente só com a Wendy, dã. Enfim, para de ficar me provocando e vai copiar as coisas da Joy, eu me resolvo com ela depois.

Poucos minutos depois a aula acabou.

Irene foi a última a sair da sala e acabou aproveitando para observar melhor seus colegas de classe interagindo entre si no final da aula e nos corredores. Seus olhos se prenderam principalmente em Seulgi, pois a mesma correu para a porta da classe de Wendy assim que pôde, e as duas foram embora juntas, rindo e brincando uma com a outra. Eram todas muito próximas, mas aquelas duas viviam juntas.

Seguiu seu caminho habitual para casa, olhando as vitrines das lojinhas de decoração que preenchiam aquela rua. Em uma loja, em particular, notou uma coruja de cerâmica e lembrou-se de Wendy, pois sempre gostava de brincar com sua amiga dizendo que a mesma tinha olhos muito grandes e redondos. Entrou na loja, decidida a comprar o pequeno enfeite que tinha visto na vitrine e acabou achando uma prateleira cheia de corujas de cerâmica de todos os tamanhos e formas.

— Ei, bonitinha. Eu vou te chamar de Wendy. — Pegou uma coruja marrom com uns detalhes em azul e olhos cor de mel.

Caminhou até o caixa e notou que a garota que trabalhava ali parecia muito nova — Yeri era o nome dela, ou pelo menos era o nome escrito na plaquinha de identificação que ficava presa em sua roupa —, mas também era bastante sorridente e simpática. Seu rosto parecia muito familiar, mas a mais velha preferiu não fazer perguntas.

Saiu da loja, notando uma movimentação na praça perto da loja. Aproximou-se para ver do que se tratava, ficando nas pontas dos pés para poder enxergar melhor no meio do amontoado de alunas da universidade que ficava algumas quadras dali.

— Um pintor? — perguntou para si mesma, baixou, estreitando os olhos para ver melhor.

— Sim. Ele fica sempre nesse mesmo lugar toda sexta-feira, está sempre pintando paisagens. —respondeu uma garota ao seu lado, fazendo Irene franzir os lábios, pois preferia que ninguém houvesse notado sua presença. — Ele chama a atenção das garotas, todas esperam ser escolhidas para se tornar a musa dele algum dia, mas ele não parece muito interessado.

— Isso parece um cenário de livro romântico — brincou, abrindo um sorriso tímido. A garota assentiu.

— Você sabe como é. Adolescentes são muito românticas. Eu culpo os livros de romance por isso. — A desconhecida abriu um sorriso largo, voltando a olhar para o pintor. Irene apenas abriu um sorriso, caminhando para longe dali.

Parou no caminho para casa em seu restaurante favorito, comprou um lanche light e seguiu seu caminho enquanto comia o mesmo. Chegando em casa largou todas suas coisas sobre o sofá e pegou sua garrafa cheia de suco detox da geladeira, colocando-a sobre o balcão da cozinha. Trocou de roupa, colocando suas roupas de exercício no lugar da roupa do colégio, e saiu de casa.

Era sua rotina, ela nunca se atrasava para seus exercícios. Todos os dias, de segunda a segunda. Irene gostava de pensar que, mesmo que a sua vida estivesse desmoronando, ela podia ter aquele momento de pura concentração, seus pensamentos simplesmente iam embora. Era como meditação: apenas ela, o som de seus passos no chão e sua respiração pesada. Ninguém à sua volta parava para incomodar, era perfeito.

Ela correu até suas pernas não aguentarem mais e decidiu que era o momento de parar um pouco. Virou seu suco detox todo de uma vez. Ela odiava o gosto, mas não desistia de tomar. Inclinou o corpo para frente, cansada, pensando que talvez já fosse a hora de pegar um ônibus de volta para casa, já que parecia estar bem longe àquela altura. Olhou ao redor, notando que estava na frente de uma vitrine de uma loja de roupas.

De repente, parecia que a gravidade estava tentando achatar seu corpo. O peso era tanto que suas pernas tremeram como se estivesse presa em um terremoto e uma dor forte tomou seu peito, como se alguém estivesse tentando espremer seu coração. Tentou não focar sua atenção nas manequins ou nas mulheres provando vestidos dentro da loja, então apenas encarou o vidro, mas logo se arrependeu da decisão quando seu reflexo meio transparente no vidro a encarou de volta. 

Olhou para trás, alarmada com o barulho do ônibus chegando ao ponto do outro lado da rua. Ela encarou as pessoas subirem e ele se afastar lentamente até o semáforo, quando virou na esquina e simplesmente sumiu do seu campo de visão. Passou as costas da mão na testa, limpando o excesso de suor e começou a correr de volta para casa, meio desajeitada e cansada, enquanto olhava no celular a contagem da distância dali até sua casa.

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