Capítulo 1: A dor de existir

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 Mayara Lorraine Sano, ou simplesmente May, como chamavam os mais íntimos, pairava sentada no terceiro degrau da pequena escada de sua casa. A escada dava para o quintal onde ela observava as bananeiras e mamoeiros plantados ao fundo.

 Assim eram suas tardes, especialmente quando estava sozinha. Colocava para tocar o seu CD de rock preferido, pegava uma cerveja ou algo mais forte e se sentava para ver o pôr do sol.

 Ali pensava na sua vida. Como poderia uma decisão, que deixa uma pessoa feliz ou aliviada, trazer tanto tormento à pessoas próximas? Deveria os filhos pagarem pelo crime de sua mãe ou vice-versa? Nunca gostou daquela cidade de interior e de uma coisa tinha certeza: Nunca iria gostar.

 - Não sei pra que caralho meu pai quis vir pra esse inferno. Isso é a roça da roça!!!!

 Até aqui, caro leitor, peço que não julgue a pobre garota. Afinal, só temos o direito de reclamar de nossas próprias vidas. Quem nunca ficou inconformado com algo que lhe ocorreu sem que tivesse planejado?  Seria fácil chamar de vitimismo, mas a garota foi tirada da sua cidade natal, a grande São Paulo, para uma cidade do interior da Bahia. Além do clima, as pessoas também eram diferentes. Secas e espinhosas assim como a paisagem, eram as pessoas. Sabemos também que em todos os lugares há pessoas ruins, mas lá, por se tratar de um lugar minúsculo, talvez tudo fosse mais acentuado.

 Levantou assim que o sol se pôs. Bêbada, quase se cortou com os cacos do copo que deixou cair. Resolveu tomar banho. A música ainda alta . Esqueceu-se de trancar a porta como sempre fazia. Enquanto isso, soavam no ar os últimos acordes da canção...

Entre o céu e o infernoOnde histórias criam vida. Descubra agora