Aos sábados, toda a família ia para roça. Aproveitavam para ver alguns dos parentes e assistir os jogos de futebol no campo localizado ao lado de um bar. O mesmo campo, também servida de pasto para as vacas de um fazendeiro rico. As ruas dessa localidade eram todas de terra. Os terrenos separados por cercas de arame farpado, e não era raro o chão em frente e no quintal das casas serem recobertos por limo verde.
A época de chuvas chegara, e as chuvas eram imprevisíveis, mesmo assim, a família não perdeu o costume desse "passeio". May não gostava muito de ir a roça, mas ia para conversar com um dos seus primos que morava lá. Esse primo, da mesma idade de May, tinha mais duas irmãs, uma mais velha e outra mais nova. May odiava a mais nova. Uma criança a quem não souberam impor limites. Como aquelas crianças que fazem escândalo no supermercado e os pais tentam comprar a solução com um doce ou coisa do tipo, ao invés de dar-lhes uma boa palmada ou passar com o carrinho de compras por cima.
Já na roça, Eduardo chama a família para subir ao campo de futebol, após uma chuva e umas doses de conhaque. Todos entram no carro, menos Marcela. Ela prefere ficar na casa dos pais, já que ela não via graça em futebol.
May e seu irmão brigam para saber quem senta na frente. Depois de uma longa discussão, May acaba sentando no banco de trás. Eduardo, manobrando o carro com a marcha ré, acerta o poste de luz da casa dos pais de Marcela. Ouve-se um estrondo. Todos saem para olhar. Faíscas pulam dos fios próximos a caixa de energia no poste. A casa está sem luz.
- A porra do freio não segurou - Diz Eduardo - Foi por causa do chão molhado!!
- Tem problema não, Eduardo - Diz o pai de Marcela - Essas coisas acontecem!
- Acontecem nada. Esse descarado não sabe fazer nada direito, imagina dirigir depois de tomar umas cachaças - Diz Marcela.
Esse incidente deixou os pais de Marcela sem energia elétrica por 3 dias. Por sorte, eles não eram totalmente dependentes dela. O único fogão da casa era a lenha e a comida feita todos os dias. Não tinham geladeira, apenas uma televisão e as lampadas para iluminar os cômodos. A carne era salgada e pendurada acima do fogão a lenha, e a fumaça mantinha os insetos longe.
Mas essa não foi a primeira vez que Eduardo mostrou sua falta de habilidades em direção. Uma delas era não utilizar a buzina. Não importa o que ou quem estivesse bloqueando o caminho, ele reduzia a velocidade, parava se necessário, mas não buzinava. Isso lhe rendeu um farol quebrado quando, indo colher frutas na casa da roça dos seus pais e passando pela estrada existente no meio de um pasto, Eduardo se deparou com algumas vacas no caminho. Sem buzinar, ele foi se aproximando dos animais, até que, chegando perto demais, uma das vacas deu um coice no farol dianteiro, correndo logo depois para o meio da pastagem.
Essa foi a versão contada pelo irmão de May, que acompanhava o pai naquele dia. Eduardo disse que a vaca cruzou a estrada correndo indo em direção ao outro lado do pasto, ele freou mas ainda assim a vaca acertou o farol. May não soube dizer quem contou a verdade, mas ela sabia que seu pai era ruim de volante!!
Alguns dias depois, em um sábado, toda a família foi à roça novamente. Eduardo e seus dois filhos entram no carro para ir em direção ao campo. Marcela resolve novamente ficar na casa dos pais. Descendo uma ladeira, já quase perto do campo, só faltava uma curva. Eduardo , sem levar em consideração a estrada molhada, faz a curva sem pisar no freio. Surpreendido por um carro estacionado pouco após a curva, ele vira seu volante na tentativa de não bater. Eduardo consegue não bater no outro carro, mas o seu vai em direção a uma cerca. Com o carro derrapando, ele atropela 4 estacas.
- PORRA, FILHO DA PUTA!!! QUEM FOI O DESGRAÇADO QUE ESTACIONOU ESSA MERDA AQUI?? - Grita Eduardo. O dono do carro, porém, não aparece.
O resto da tarde de Eduardo e seus dois filhos foi retirando as estacas e arames debaixo do carro. Como não podia faltar, os moradores das casas próximas foram olhar o que estava acontecendo. Alguns ofereceram ajuda, outros contentaram-se apenas em olhar, mas ninguém contou quem era o dono daquele carro estacionado pouco depois da curva.
Na visão de May, os dois estavam errados. O dono daquele carro estacionado deveria levar em conta que a curva fica no fim de uma ladeira. Havia sim muitos lugares melhores para estacionar. Talvez por preguiça ou sabe-se lá o que, ele deixou o carro ali. Mas seu pai também estava errado. Não é porque a estrada é conhecida por ele, que ele pode andar como um louco, principalmente na época de chuva, onde a lama toma conta das estradas. Talvez, se ele tivesse freado na descida e feito a curva mais devagar, teria tido mais tempo de resposta e evitado tudo aquilo.
Dias depois desse incidente, Eduardo vendeu seu carro . Resolveu que voltaria para São Paulo, e iria trabalhar com seu irmão. Deixando o restante da família na Bahia, Eduardo retorna. Poucos dias após partir, o carro vendido por ele bate o motor!
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Entre o céu e o inferno
RomanceMay é uma garota que foi levada da cidade grande para uma cidade do interior, ao qual ela chama "roça da roça ". Entre seus pensamentos niilista e de suicídio, ela encontra alguns amigos que a ajudam a superar a barra. Mas será que todos que dizem s...