Capítulo 6: Acorde-me para a vida

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 Uns dos passatempos favoritos de May e seu irmão era assistir aos clipes musicais da MTV. Uma boa parte do canal, em tv aberta, era dedicado aos clipes que mais faziam ou tinham feito sucesso. Do grunge ao metal sinfônio, de Legião Urbana à The Jackson 5.

 Sentados no sofá de dois lugares da sala, os irmão compartilhavam o gosto pela musica. Tentaram até fazer alguns versos... Sem sucesso!! A paixão por algo não quer dizer que se saiba fazer. Para tudo, é necessário prática. Nada é um dom, nada vem de uma hora para outra, exceto raras excessões do acaso.

 Dentre todos os clipes, um chamou a atenção da garota. Uma linda jovem, com uma voz incrivelmente doce, cantava ao som pesado de guitarras. No refrão, em um vocal que a fez arrepiar, um grupo de rapazes e seus intrumentos ajudavam na explosão da música. Em certo momento, a moça do clipe cai do prédio. Felizmente, ninguém morre. Ali, hipnotizada, May se interessava pela sua primeira banda de rock.

 Interessada em descobrir mais sobre a banda, e ouvindo sua mãe a  dizer que aquele tipo de música era para malucos e drogados, May se dirigia todos os dias para o centro comunitário da "cidade", onde ela acessava um dos 5 computadores que havia por lá.

 O centro, em tese, era um lugar provido de computadores e uma biblioteca com alguns livros, feito para as pessoas que não tinham condição de ter acesso à computadores em casa ou comprar livros. Na prática, isso não acontecia. Muitos dos filhos de donos de mercados locais, vereadores e personalidades "importantes" da cidade também frequentavam o lugar. Com isso, a fila para usar os computadores crescia, e o tempo de acesso limitado a 30 minutos por dia.

 Nas suas idas ao centro, May procurava sempre se socializar. Mas sempre acontecia o contrário. Todos, sem excessão, simplesmente ignoravam a garota, enquanto voltavam suas atenções aos "filhos de gente importante".

 Esses, por sua vez, faziam o que queriam. Furavam fila para usar os computadores, ficavam o tempo que queriam e acessavam o que queriam. Um deles, vendo que May assistia a um video de uma banda onde ao fundo um velho homem subia em uma cruz, acompanhado de corvos e usando um um gorro vermelho , começou a gritar a pleno pulmões:

 -Que porra voce está vendo?

-É apenas o video de uma banda!- Responde May

- Mentira, voce está assistindo coisas do diabo. Você adora ele. Certeza que voce e sua familia fazem pacto. Voce vai queimar no inferno.

- É só uma musica- Replica a garota, fechando o video.

-Um video nada, desgraça!

 May tenta se levantar, quando sente algo pontudo acerta-la no braço. Um dos garotos, atrás dela, aproveitando a situação, usou a ponta do lapís para agredi-la. Chorando, a garota deixa o local, enquanto ouve, atrás dela, gritos de provocação:

 -Vai chorona!!

-Ótaria!

-Faz um pacto e compra um computador, pobretona!!!

 Sem se virar ou responder as provocações, a garota vai embora e se senta em um banco da praça. Não entendendo direito o que tinha acontecido, tirou a ponta do lapís que estava grudada sob sua pele. Jurou nunca mais voltar àquele lugar, nem deixaria ninguém mais a tratar daquele jeito!! 

Entre o céu e o infernoOnde histórias criam vida. Descubra agora