O castigo imposto pela mãe deixava May aliviada. Ela tinha medo de ser pega no caminho de ida e volta da escola, e sabia que sua mãe estranharia se ela não saísse de casa para se divertir caso não estivesse de castigo.
May se indagava como podem as pessoas fazerem coisas sem pensar e depois sentir arrependimento. Para que fazer se vai se arrepender depois? Acontecia com todos algo semelhante ao que ocorreu com ela? Envolvida com o momento, agiu sem pensar nas consequencias. E depois se arrependeu pelo que fez. Mas feito o ato, não adianta sentir culpa, já está feito. May sabia disso, e se questionava o porque entrou na onda de Marcelo. Nada justifica uma atitude errada, ou justifica?
Mesmo com todo o medo, May não recusou um segundo convite de Marcelo. Agora mais próximos, sentavam sempre um atrás do outro. As vezes, para garantir isso, quem chegava mais cedo marcava o lugar atrás de si com um caderno. Marcelo tinha a vantagem, pois sua mãe trabalhava no colégio, entrando antes dos alunos e marcando o lugar do filho e sua amiga.
-May, hoje eu e alguns amigos vamos brincar de polícia e ladrão. Vamos usar bicicletas, e para prender o outro, basta conseguir tocar as costas. Quer vir? - Perguntou Marcelo
- Eu ainda estou de castigo!! - Responde May
- Castigo é coisa de criancinha! Voce tem 5 anos por acaso? Fala que vai fazer trabalho de escola, sempre dá certo. Duvido que seus pais vão te impedir!!!
- Tenho certeza que voce já fez isso, não é?
- Claro, garota. São 12 anos de vida e experiência - Riu Marcelo - Voce vai ou não?
-Eu não tenho bicicleta - Explicou May
- Eu te arrumo uma!
Dito isto, Marcelo desmonta sua caneta, amassa um pequena bolinha de papel com a boca, coloca no corpo vazio da caneta e atira em um dos garotos da sala. O garoto lhe mostra o dedo do meio e volta a prestar atenção na aula.
Depois do almoço, May diz a sua mãe que irá fazer um trabalho de geografia. Sua mãe a deixa ir, mas ocupada com as tarefas domesticas, não percebe que a garota saiu sem sequer levar uma caneta.
Chegando a praça central da cidade, May encontra Marcelo e seu grupo de amigos. Eles decidem quem vai fazer papel de que. May fica com o papel de ladrão. O jogo se estende até o cair da noite. Já passava das 19 horas quando May, para escapar de um cerco feito por dois garotos que faziam papel de policia, resolveu descer em direção ao centro comunitario. Aproveitando um carro que passava pela rua, a garota colocou toda a sua força nas pedaladas. Deu certo!! Ela consegue passar na frente do carro enquanto seus perseguidores freiam para não colidirem com o veículo.
Ao chegar no centro comunitario, May encontra um garoto com alguns meninos pequenos .
- Se eu soubesse que tinha menino bonito nessa cidade, eu saía mais de casa!! - Grita May
O garoto apenas ri. Propondo brincar de esconde-esconde, ele chama a garota:
- Vem brincar também, voce pode se esconder comigo! Eu quero te mostrar uma coisa!
A tarefa era simples, se não fosse os meninos pequenos, a raça mais curiosa que existe em todo universo. Toda vez que May se escondia com o garoto mais velho, os garotos pequenos iam atrás. Até que em um momento, os dois conseguiram ficar a sós em um esconderijo.
- Voce tem namorada? - Pergunta May
- Tenho - Resposde o garoto tentando beijar May, que recusa o beijo - Não precisa se procupar, ela me trai, então eu tambem vou traí-la.
May então se deixa ser beijada. O nervosismo toma conta dela, que acaba avançando demais e batendo seus dentes nos dentes do garoto. Ele sorri, segura o rosto da garota, e a beija lentamente. May sente em seu estomago uma estranha sensação. Come se algo revirasse dentro dela. Um calafrio percorre todo o seu corpo. Ela tenta manter a concentração no beijo, mas é uma tarefa difícil com tanta coisa acontecendo ao mesmo tempo em seu corpo.
Nesse momento, eles são demascarados por um dos amigos de Marcelo:
- Voce está presa!!! - ri o garoto - O Marcelo está te procurando, o dono da bicicleta quer ela de volta!!
Morrendo de vergonha, May entrega a bicicleta para o garoto, que sai guiando uma com uma mão enquanto segura a bike que May usava com a outra. O rapaz que May beijou vai embora em seguida, dizendo que vai levar os pequenos para casa, mas prometendo que iria voltar.
May esperou por minutos a fio. Ele não voltou. A garota resolveu então voltar para casa. No caminho, ao olhar para trás, notou que 3 garotas a seguia com um olhar fixo. Reconhecendo a garota em quem batera a dias atrás, May previu o pior. Eram 3 contra uma. Ela não teria chance. Não queria correr, pois pareceria covarde, e já estava cansada depois de tanto pedalar. Poderia ir em direção a casa da avó, que era perto. Mas velhos tem a mania de dormir cedo e acordar com as galinhas. Decidiu então que o melhor era acelerar o passo e tentar chegar o quanto antes em casa.
Quase sendo alcançada, May chega a praça central. O medo era visível no seu rosto. Imaginando todas as maneiras de fugir, a garota tropeçava a cada 3 passos . Aqui, ela tem uma surpresa. Seus pais , preocupados com a demora da filha, resolveram que deviam procura-la. Eduardo desceu até a praça da cidade para isso. Ao encontrar a filha , ele disse com o tom mais sério que a garota já escutou na vida:
- Em casa a gente conversa!!!
May olha para trás novamente, e vê que as garotas estão olhando para ela, mas não estão mais se aproximando.
Ao chegar em casa, May leva uma surra e seu castigo prorrogado por mais um mês!
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Entre o céu e o inferno
RomanceMay é uma garota que foi levada da cidade grande para uma cidade do interior, ao qual ela chama "roça da roça ". Entre seus pensamentos niilista e de suicídio, ela encontra alguns amigos que a ajudam a superar a barra. Mas será que todos que dizem s...