Camila vê Lauren escapando pela porta em silêncio, deixando a mais nova sozinha no meio do quarto, completamente paralisada.
Sua mente estava gritando com ela o tempo todo. Estava dizendo para ela calar a boca porque ela podia ver que estava quebrando o coração de Lauren, mas suas palavras continuavam a sair sem dó nem piedade. Sua boca estava deixando escapar meses e meses de um ressentimento inconsciente que estava preso dentro dela, apesar de Camila ter tentado ao máximo reprimi-lo. Funcionou na maior parte do tempo, mas tais sentimentos sempre estiveram ali, traiçoeiramente escondidos nas profundezas de seu coração. Camila ama Lauren e não há dúvida disso, mas às vezes ela queria que isso não fosse verdade.
A vida sem Lauren era simples e fácil. Não havia complicações, medos, qualquer tipo de pressão ou desconfiança. Camila achava que quando ela finalmente se assumisse para todo mundo um peso enorme seria tirado de seus ombros e que ela finalmente seria capaz de respirar, mas o que aconteceu foi o completo oposto. Ela se sentiu pequena e sufocada, como se mãos invisíveis estivessem apertando-lhe ao redor do pescoço. As coisas mudaram no momento em que ela se assumiu, mas não do jeito que ela queria. E isso está matando Camila.
Ela nunca foi aceita em toda a sua vida por ninguém e se acostumou com isso. Virou uma coisa tão normal para Camila que nem mesmo ela consegue aceitar a si mesma.
As emoções pelas quais ela está passando são tantas que seu corpo está tremendo, completamente sobrecarregado. Seu peito pesa a cada respiração rápida e pesada que escapa por entre os seus dentes. Seus olhos varrem o quarto e um grito alto e raivoso sai de dentro dela repentinamente.
Uma dor de cabeça latejante começa a se manifestar e Camila pega um de seus livros e o joga para o outro lado do quarto, a capa dura batendo contra a parede e caindo no travesseiro, fazendo um barulho abafado.
O comportamento violento e inesperado a fez se sentir um pouquinho melhor e quando vê, ela está pegando tudo que encontra pela frente e arremessando com força até o quarto ficar praticamente destruído. Canetas, cadernos, mochilas, sapatos, travesseiros – tudo ficou esparramado pelo quarto. Mas a sensação de libertação foi apenas temporária, e agora ela voltou a sentir o que estava sentindo antes. Na verdade, ela se sente pior ainda.
É o aniversário de um mês de namoro das duas hoje e o que aconteceu foi isso. Ela sabia da data, mas não conseguia sequer olhar para Lauren. Ela não sabe a quantas anda o relacionamento delas. Isso se elas têm um relacionamento ainda. O que ela disse foi totalmente imperdoável e ela não culparia Lauren se a mais velha nunca mais trocasse uma palavra com ela.
"Porra!" Camila xinga alto, mais para si mesma do que para qualquer outra pessoa. Quem dera ela conseguisse superar sua ansiedade e seus medos. Ela desejou não ser tão predisposta a pensar que ser lésbica era um "pecado". Ela desejou poder não se importar com o que as outras pessoas pensam dela. Ela desejou somente ser aceita uma vez na vida. Ela desejou não deixar que seus problemas pessoais e inseguranças ficassem no caminho entre ela e Lauren.
Camila caminha até a sua cama e enterra o pescoço no travesseiro, sua raiva diminuindo conforme a tristeza e o coração partido tomam conta de si. Seu corpo chacoalha com os soluços doloridos que lhe escapam e ela se sente mais sozinha do que já se sentiu em toda a sua vida.
E a única pessoa pela qual seu corpo pede para ser abraçado é Lauren.
Camila dá um soco no travesseiro, repreendendo a si mesma. Por Deus, não há ninguém com quem ela queira estar mais do que Lauren, mas foi ela mesma que afastou a mais velha. Ela não consegue sair ganhando nessa história. Camila a ama e queria poder ser a pessoa que Lauren merece, mas não pode porque sempre houve uma parte dela que desejou nunca ter se apaixonado por Lauren.
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Chances (Português)
FanficCamila e Lauren dividem o mesmo quarto no dormitório da faculdade, mas essa é a única coisa que as duas têm em comum. Pelo menos isso é o que elas pensam. Desde o começo, elas não conseguiram se dar bem uma com a outra, já que eram extremamente inco...