Capítulo 42

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Camila encosta a testa no volante, respirações trêmulas escapam por seus lábios e emoções arrebatadoras tomam conta do seu ser. Ela não consegue identificar com exatidão o que está sentindo, mas algo que ela tem certeza é de que está muito cansada.

Ontem foi um dos dias mais cansativos que ela teve em um bom tempo. Ela não dormiu tanto quanto gostaria, passou horas dirigindo à noite para ver seu pai doente, emoções negativas associadas à sua cidade natal e aos seus pais vieram com tudo, e sua mãe a rejeitou porque ela assumiu sua sexualidade. Tudo isso aconteceu em menos de doze horas.

Ela deveria estar se sentindo horrível por conta da discussão que teve com sua mãe, mas não é como se Camila algum dia tivesse sido próxima o suficiente da mulher para se sentir magoada. Ela não estava mentindo quando disse que nunca pareceu que ela fazia parte daquela família. Camila não pode ser responsabilizada por não se sentir afetada por alguém que praticamente não significa nada para ela, pode?

A única coisa que a está magoando de verdade é saber que seus pais são esse tipo de pessoa e que eles não são os únicos. Eles preferem dar prioridade às suas próprias convicções e ignorar a própria filha, como se esse tipo de mentalidade importasse mais do que alguém que é sangue do seu sangue. Eles foram extremos ao ponto de rejeitá-la e removê-la de suas vidas completamente. Camila não entende por que as pessoas ainda pensam dessa maneira e é provável que ela nunca vá entender.

A de olhos castanhos aumenta a temperatura do aquecedor do carro, não se dando conta do quanto estava frio até começar a perder a sensação nos dedos das mãos e dos pés. Ela olha para o relógio. São quase oito da manhã, então se ela começar a dirigir agora, ela talvez consiga driblar o engarrafamento da manhã.

Então depois de secar as lágrimas de seus olhos, Camila respira fundo e se recompõe por alguns segundos antes de dar a ré no carro para sair da garagem. Ela lança um último olhar em direção à casa em que ela cresceu. Afinal de contas, ela nunca mais a verá novamente.

Mas não há nem sinal de tristeza ou nostalgia. Na verdade, só faz com que ela queira voltar para casa ainda mais.

Camila engata a marcha, coloca uma música e começa a viagem de volta para o lugar onde ela pertence.

• • •

Lauren abre os olhos e pisca rapidamente algumas vezes, esperando até que eles se ajustem à luz que entra pelas janelas. Ela faz uma careta quando percebe que a outra cama no quarto ainda está arrumada. Camila começou a deixar o seu lado do quarto organizado em consideração à mais velha quando elas começaram a se aproximar, mas agora se tornou um hábito. É difícil de acreditar que Camila costumava ser a pessoa mais porca do mundo.

Junto com o pensamento de Camila vem a lembrança da conversa que as duas tiveram ontem tarde da noite. Lauren pega o celular ao lado do travesseiro e vê que a ligação foi encerrada, o que significa que Camila acordou primeiro. Ela confere o histórico de chamadas e vê que a última durou cinco horas e dezessete minutos, terminando às sete da manhã. Agora é um pouco mais de onze.

Lauren ainda está curiosa com relação ao que aconteceu noite passada para deixar Camila tão chateada. Ela estava chorando antes de ligar e não quis falar a respeito. Machucou o coração de Lauren saber que Camila estava chorando sozinha e que ela não estava lá para consolá-la. Tomara que a mais nova esteja bem.

Depois de se levantar para usar o banheiro e escovar os dentes, Lauren lê as mensagens que ainda não havia aberto. Tem algumas de Chris perguntando como vão as coisas e contando que ele acabou de tirar a habilitação para dirigir. Tem outras de Dinah perguntando se "o tomate é um fruto ou um legume" porque o seu "relacionamento com Normani estava em jogo e dependia dessa resposta".

Chances (Português)Onde histórias criam vida. Descubra agora