Capítulo 5

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-Emma-

   Sai bem cedo de casa para ir ao hospital. Não cruzo com a minha mãe desde o episódio de ontem a noite. Nós nunca brigamos daquela forma. Somos apenas eu e ela desde que o meu pai morreu quando eu tinha sete anos. Passei toda a minha infância em um hospital ouvindo as pessoas dizendo o quanto eu seria uma médica brilhante.

   Depois que minha mãe sofreu um pequeno acidente, quando ela foi me levar a uma apresentação da escola. Ela perdeu a precisão na mão e então ela passou a depositar todas as suas expectativas em mim. Sempre me senti culpada por aquele acidente e ela nunca fez nada para provar o contrário.

   Graças a esse sobrenome, as pessoas sempre esperam mais de mim. Querem que eu me mostre igual ou melhor que a minha mãe. Ser a senhorita perfeita cansa. 

   Paro o carro no estacionamento do hospital e de forma inesperada a lembrança do encontro da noite passada me domina os pensamentos. Aquele homem de algum modo me intriga. E mesmo me tratando daquela forma tão fria, sinto que algo me atrai para perto dele. 

   _ Pensando em algum cara? _ volto a realidade quando Maggie fala ao meu lado _ Fiquei sabendo que quase rolou beijo entre você e o James.

   _ Como? Quem te contou? _ ela sorri maliciosa.

   _ Tenho minhas fontes. _ fala arqueando um sobrancelha _ Agora me conta. Por que não rolou mesmo o beijo?

   _ Pelo simples fato de que vejo o James como um amigo irmão. _ paramos em frente ao elevador _ Já expliquei isso a ele, mas parece que ele não entendeu. _ me olha com uma ruga na testa me questionando com o olhar _ Ele simplesmente me mandou flores ontem.

   _ Parece que você não foi tão clara. _ as portas do elevador abrem e entramos _ Fica com outro na frente dele. _ dá de ombros _ É um ótimo recado.

   _ Você como conselheira é uma ótima cirurgiã geral. _ a sua gargalhada se espalha por todo o ambiente e alguns médicos nos olham de lado.

   Quando entramos no vestiário dos internos está uma agitação tremenda. Ao que parece, o resultado das provas para residente chegaram. Corro até o meu armário e encaro o envelope branco com a logomarca do hospital. 

   Pego o mesmo e prendo a respiração enquanto vou tirando o lacre. Meus olhos passam de forma rápida por todo papel até que encontro a palavra que tendo desejava ler. Procuro por Maggie e a mesma está comemorando abraçada a uma de nossas colegas. 

   _ Finalmente residentes. _ ela comemora _ Depois do plantão vamos comemorar e não adianta dar desculpas.

   _ Primeiro vai ter que cumprir suas obrigações Jones. _ diz doutor Wilson fazendo a minha amiga ficar séria _ Parabéns a todos que passaram no exame. _ tem alguns gritinhos de felicidade ao fundo _ Para aqueles que não conseguiram passar ou que entraram agora. Lhes dou apenas esse concelho, estudem. Agora levantem daí e vão salvar vidas. _ dito isso ele sai e o burburinho recomeça.

   Termino de me trocar e vou até o quadro de escalas para saber com quem estou hoje. Tinha esperanças de estar com o doutor Turner, mas me colocaram para ajudar a doutora Collins. Vou de escadas para chegar mais rápido até o andar da pediatria.

   _ Doutora Collins, estou com você hoje. _ digo ao encontra-la no balcão atualizando prontuários.

   _ Eu sei. _ entrega a prancheta para uma enfermeira com um sorriso _ Fui eu quem pedi para o doutor Thomas te colocar comigo. _ começa a andar e me apresso para lhe acompanhar.

   _ Mas porque me escolheu? _ questiono quando paramos no meio do corredor.

   _ Porque vi que leva jeito para a coisa. _ diz cruzando os braços _ Vamos ao trabalho? _ afirmo e entramos em um dos quartos _ Doutora Simmons, esse é o Walter Smith. Deu entrada ontem com febre alta e constatamos ser meningite bacteriana. Estamos tratando com prednisona. E essa é a mãe dele, Vanda.

   _ Olá. _ a mulher está com os olhos inchados, provavelmente de tanto chorar pelo filho _ Ele já apresentou alguma melhora doutora? _ pergunta olhando o menino adormecido.

   _ Precisamos esperar mais um pouco Vanda. _ doutora Collins fala  com seu melhor sorriso _ Enquanto isso, a doutora Simmons vai monitora-lo para mim. _ a mulher afirma e saímos do quarto _ Quero que fique atenta a ele e me avise se o quadro do Walter mudar.

   Ela é chama para a emergência e sai correndo para atender o chamado. Fui atrás do histórico médico de Walter. O garoto tem cinco anos, deu entrada com febre alta e muita dor na cabeça. Depois de uma bateria de exames foi diagnosticado com meningite bacteriana e de imediato começou o tratamento. Durante a madrugada teve uma convulsão e a febre aumentou. 

   Quando conseguiram estabilizaram já se passava das três da manhã. De hora em hora o seu prontuário é atualizado, mas parece que seu quadro não tem evoluído muito bem. Como fiquei responsável por apenas um paciente, faço algumas pesquisas sobre a doença e se tem algum outro tratamento mais eficaz.

   _ Emma, onde está a doutora Collins? _ doutor Wilson pergunta me fazendo tirar os olhos do monitor e descubro que ele não está sozinho.

   _ Ela teve um chamado faz uns trinta minutos. _ digo tentando não olhar para o visitante inesperado _ Quer que eu a bipe?

   _ Não precisa. Eu só queria apresentar a ela o nosso novo advogado. _ diz passando o braço sobre o ombro do homem _ O meu sobrinho postiço, Luca Carter. _ agora ele tem nome.

    _ É um prazer. _ ela fala por educação, mas mantem o mesmo semblante de autoritário da noite passada.

    Sou trazida de volta a realidade quando Vanda grita por socorro nos corredores. Saio correndo em direção ao quarto de Walter, sendo acompanhada por doutor Wilson. Encontro o menino convulsionando, os monitores não param de apitar.

   _ Tragam o carrinho de parada! _ grito para um dos enfermeiro enquanto abaixo a cama e viro o menino de lado _ Alguém chama a doutora Collins agora! _ o coração de Walter para e sua mãe entra em desespero.

   _ O meu filho, meu bebê. _ chora ao lado do filho enquanto começo com a reanimação.  

   _ Preciso que tirem ela daqui agora. _ me concentro no garoto _ Apliquem epinefrina. _ digo enquanto continuo a massagem.

   _ Vamos trocar. _ doutor Wilson toma a frente _ Preparem uma dose de Lidocaína e se preparem para chocar. _ aplico o medicamento pelo acesso venoso.

   Fazemos tudo de forma rápida para que o garoto tenha a sua melhor chance. A doutora Collins chega e ajuda na massagem também. Quando ele entra em fibrilação ventricular eu assumo o desfibrilador e lhe dou o primeiro choque. Mas não adianta muito, chocamos mais duas vezes e ele não torna.

   _ Ele não vai mais aguentar. _ o doutor fala parando a massagem e eu assumo o seu lugar.

   _ Ainda tem ritmo. _ digo decidida _ Recarrega em duzentos. _ digo olhando para a doutora que assente e assume o desfibrilador _ Afasta. _ grito antes do choque e então como que por um milagre o menino reage _ Isso Walter.

   Deixo o quarto para avisar a Vanda que o seu filho está bem e depois saio apressada até as escadas. A respiração acelerada por conta do pico de adrenalina recente. Me sento nos degraus, recosto a cabeça na parede e fecho os olhos tentando me tranquilizar.


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