Capítulo 2

7.5K 439 5
                                    

-Emma-

   Acho que a falta de sono matou todos os meus neurônios. Primeiro aceitei sair com o pessoal do hospital quando deveria estar em casa dormindo. Acabei ficando sozinha e como se não bastasse, um grupo de idiotas ficaram dando em cima de mim. E em uma atitude desesperada acabei me agarrando com o primeiro homem que vi pela frente. Só não contava que ele seria um grosseiro de primeira linha.

   _ O que você esperava, Emma? Que ele te convidasse para um drink e depois virassem grandes amigos? _ penso alto enquanto vejo a figura do desconhecido sumindo na escuridão.

   _ Falando sozinha Emma? _ James pergunta atrás de mim _ Vai entrar?

   _ Não, vou para casa. _ cruzo os braços na tentativa de me agasalhar _ Essa noite já deu o que tinha que dá. A gente se vê amanhã. _ me viro e começo a andar em direção ao meu carro. 

   Quando chego em casa as luzes já estão apagadas e minha mãe já estava dormindo. Tomo um banho quente, visto uma roupa confortável e vou direto para a cama. Aos poucos as minhas pálpebras vão pesando e me rendo ao cansaço por completo. 

   _ Emma levanta. _ acordo com minha mãe me balançando _ Vamos, deixa de moleza menina. _ abre as cortinas e a luz do sol invade o meu quarto.

   _ Só mais cinco minutos. _ jogo as cobertas sobre o meu rosto.

   _ Nada disso. _ ela puxa os lençóis _ Levanta logo ou vai perder os melhores casos. _ me sento ainda meio dormindo _ Você sabe que quem chega primeiro fica com os melhores e não quero menos de você.

   _ Claro mãe. _ saio da cama a contra gosto.

   De forma automática tomo o meu banho, me visto e tomo uma rápido café. Minha mãe praticamente me empurra para fora de casa. E não estou exagerando. Para ela, eu tenho que  passar mais tempo em um centro cirúrgico e tentar ser igual ou melhor que a extraordinária doutora Cassandra Simmons. A melhor neurocirurgiã de toda Seattle. Acho que cansa mais ser filha da minha mãe do que um plantão de sessenta horas.

   Enfrento um pequeno engarrafamento causado por uma pequena batida. Quando chego por fim, vou para o vestiário dos residentes e me troco rápido. Como estamos no sistema rodízio, hoje não vou ficar na neuro e sim com o pessoal da cardio. O doutor Wilson me manda cuidar dos seus pré e pós operatórios. Isso significa tirar duvidas e examinar curativos.

   _ Agora eu entendo porque você gosta de ficar com o Turner. _ James se apoia no balcão ao meu lado _ O cara é um gênio.

   _ Atualizando prontuários? _ Maggie se junta a nós.

   _ É o que tem para hoje. _ digo colocando mais uma pasta na pilha _ E você, ficou com quem?

   _ Com a chefona. _ se refere a nossa superior _ Vamos fazer uma esplenectomia daqui uma hora. _ diz animada _ Mas me conta. Quem era aquele cara que você beijou ontem?

   _ Quê cara? _ James me olha com uma ruga na testa.

   _ Não era ninguém. _ digo terminando o último prontuário _ Avisa ao doutor Wilson que o paciente do trezentos e dois já está sendo levado para o bloco cirúrgico. _ digo a enfermeira.

   _ Tá bom que vou acreditar que não rolou nada depois daquele beijão. _ Maggie provoca.

   Abri a boca para responder, mas sou chamada na emergência e preciso correr. Um acidente envolvendo um dois carros estava monopolizando o pessoal da emergência. Dentre os feridos, uma grávida e duas crianças de cinco e nove anos.

   Me passaram o prontuário da grávida, a moça estava com um principio de eclampsia e havia tido uma convulsão no local e outra a caminho do hospital. A primeira coisa que fiz foi entubar para proteger as vias respiratórias, depois realizei um ultrassom e constatei que a paciente estava em trabalho de parto prematuro. 

   Peço que chamem o obstetra de plantão e também o doutor Turner. Faço alguns exames para saber se a mesma ainda possui reflexos. Os resultados são bons, mas se ela não for operada logo pode ter danos irreversíveis. 

   _ Simmons, o que temos? _ a doutora Collins pergunta ao entrar no leito.

   _ Mulher grávida com principio de eclampsia, já está com contrações e tive que entubar para preservar as vias respiratórias. _ ela começa a examinar _ Também apresenta danos neurológicos, mas já chamei o doutor Turner.

   _ Ótimo. Eu preciso de uma sala agora! _ grita para as enfermeiras _ Simmons, vá se lavar e me encontre na sala doze. _ dito isso, ela sai e faço o mesmo.

   Enquanto me escovo, trazem a paciente e a preparam para a cirurgia. Primeiro será realizado o parto e em seguida o doutor Turner entra em ação. 

   Tudo se complica assim que tiramos o bebê. A pressão dela vai para as alturas e uma hemorragia começa, mas conseguimos contornar a tempo. Porém uma cirurgia no cérebro agora poderia mata-la. Esse é o nosso dilema, se não a operarmos rápido ela morre e se operar ela também morre. Nesses momentos, a fé precisa cumprir o seu papel.

   Damos notícias aos familiares. O marido estava com ela no acidente, mas sofreu apenas ferimentos leves e uma luxação no ombro direito. Ao que parece, a paciente entrou em trabalho de parto antes da hora e eles estavam correndo para o hospital quando o marido não viu o sinal fechar e então tudo aconteceu.

   Me troco e reassumo a minha função com os pacientes do doutor Wilson. Não demora muito e o meu corpo começa a reclamar por descanso. Só dormir três horas essa noite e depois do choque de adrenalina que tive mais cedo, preciso de um tempo. Aproveito a tranquilidade do hospital e saio um pouco para tomar um ar. 

   A brisa fria do início de noite me atinge em cheio quando ganho as ruas. Sento em um banco que fica em frente ao hospital e fecho os olhos só por uns minutos. Então escuto uma ambulância chegando e sei que o meu descanso acabou. Logo sou chamada para o trauma e apenas corro para responder o chamado.

Uma Chance Para AmarOnde histórias criam vida. Descubra agora