-Emma-
Um incêndio e uma batida de ônibus monopolizaram todo o pessoal. Me designaram para fazer suturas e curativos junto com James. Quem teve sorte foi a Maggie, o plantão dela acabou duas horas atrás.
_ Eu só preciso dormir um pouco. _ resmungo deitada no banco desconfortável do vestiário _ Isso aqui ferveu essa noite. _ fecho os olhos e suspiro.
_ Nem fala. _ James fala sentando ao meu lado com o seu copo de café _ Não estavam mentindo quando disseram que os anos de internato são como sobreviver na selva. Meus dedos estão doendo de tanto suturar.
_ Quando será que vamos saber o resultado da prova? _ torno a sentar e pego o café da sua mão dando um longo gole.
_ Emma você está saindo com o cara do bar? _ pergunta do nada e quase engasgo com a bebida.
_ Eu só usei ele para me livrar de uns idiotas. _ dou de ombros _ Acho que nunca mais vou ver ele. _ devolvo o seu café _ Mas porque a pergunta?
_ Nada de mais. _ fala levando o copo a boca e dando um longo gole _ Acho que só não quero que se machuque. Você é muito importante para mim Emma. _ diminui o espaço entre nós e o clima fica um pouco estranho.
_ Você também é como um irmão para mim. _ digo ficando em pé _ Acho que vou checar os pós operatórios do doutor Wilson antes de ir embora.
Ando em passos apressados em direção ao elevador. Sem dúvida, essa foi uma situação um tanto constrangedora. O James nunca me tratou daquele jeito. Acho que a falta de sono está nos deixando loucos, tenho certeza de que amanhã vamos rir dessa situação.
Depois de atualizar todos os prontuários, dou uma passada na UTI neonatal para saber como está a bebê do acidente de carro. Ela ainda está na incubadora e passa bem, já a mãe ainda está em um estado delicado. Faz quase três horas que entro em cirurgia e até agora ainda não se sabe muita coisa.
_ Você é bem forte. _ sussurro quando a mesma aperta o meu dedo com a sua pequena mão _ É um milagre ainda estar viva. Se o seu papai soubesse, não sairia do seu lado.
_ Fazendo uma visita Simmons? _ levanto em um sobressalto e endireito a postura ao ouvir a voz da doutora Collins _ Calma Emma, eu não mordo. _ sorri indo examinar a garotinha _ Ainda não vieram ver ela?
_ Não. _ digo enquanto saímos da sala _ A mãe entrou em cirurgia, o pai nem sequer veio até aqui para ver a filha.
_ Quanto a isso não podemos fazer nada. _ diz em um suspiro _ Só espero que tudo acabe bem para essa família. _ dito isso, ela se afasta em uma caminhada calma.
Finalmente o meu plantão acaba e posso por fim tomar um banho e ir para casa. Por sorte a minha mãe foi ao mercado e não vai ficar me enchendo a paciência. Visto uma roupa confortável e me jogo na cama. Apago quase que de imediato.
Quando acordo já passa das quatro da tarde. Ainda meio sonolenta desço e vou até a cozinha pegar um copo de água e preparar um sanduíche de pasta de amendoim. Vou até a sala e me sento no sofá ligando a televisão em um programa qualquer.
_ Emma, quem é James? _ mamãe pergunta vindo da varanda com um buquê de rosas vermelhas.
_ De quem são essa flores? _ respondo com outra pergunta e sei que ela detesta isso.
_ Esse tal James mandou para você. _ fico sem reação _ Emma, você sabe que não tem espaço para um relacionamento na sua vida. _ seu tom é duro _ Você precisa se concentrar em se tornar a melhor cirurgiã do país e não em namoricos. _ joga as flores no lixo.
_ Já parou para pensar que talvez eu não queira ser a melhor do país ou até mesmo a melhor? _ não consigo mais me conter _ Eu mereço ser feliz e ter uma vida normal como todo mundo. Não é porque o papai morreu que eu tenho que ficar sozinha para o resto da vida.
_ Abaixe esse tom de voz. _ me segura pelo braço como fazia quando eu era criança _ Vai acabar esse namoro com esse rapaz e se concentrar na sua carreira.
_ Eu não sou mais criança e não tenho que obedece-la. _ puxo o meu braço me soltando e subo as escadas correndo.
Tomo um banho rápido, visto uma roupa quente e saio sem dar tempo dela me impedir. Pego o meu carro e fico rodando sem rumo pela cidade. Minha mente tenta assimilar os últimos acontecimentos da minha vida. O beijo naquele estranho, o quase beijo entre James e eu, as flores que ele me mandou e a discussão com a minha mãe.
Quando foi que a minha vida começou a sair dos trilhos? Eu só queria voltar a ser a pequena Emma e corre para o colo do meu pai. Pelo menos ele me acolheria e diria que tudo iria melhorar e que a tempestade sempre passa. A minha visão começa a embaçar por conta das lágrimas e resolvo parar no acostamento para me recompor.
Recosto a cabeça do bando e fecho os olhos. Apenas me permito chorar e ser fraca ao menos uma vez na vida. Aqui me permito ser apenas Emma, uma mulher comum que tem problemas com a família e também se cansa. Sou trazida de volta a realidade quando alguém bate na janela do meu carro. Como já está escuro, não consigo ver de quem se trata e preciso sair do mesmo para saber qual o problema.
_ É você?! _ reconheço a voz do homem do bar _ Vai me dizer que veio até o meu trabalho para me beijar outra vez? _ fala em um tom convencido.
_ Foi mera coincidência. _ digo abraçando o meu próprio corpo para me proteger do frio _ E eu acho que já me desculpei pelo que aconteceu no bar.
_ Certo, vou acreditar que não está me perseguindo. _ brinca, mas não sorrio _ Eu estava apenas brincando. Não precisa ficar chateada. _ seu tom parece ser verdadeiro e me examina com um olhar tão profundo que tenho medo que veja os meus mais profundos segredos _ Você está bem? _ a sua preocupação me faz chorar como um bebê e nem sei porque.
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Uma Chance Para Amar
RomanceUm coração destruido. Foi apenas isso que restou de Luca Carter quando foi deixado pela noiva horas antes do casamento. A dor foi tão grande que ele se afastou de tudo que o fazia lembrar dela, desde a cidade onde morava até mesmo a família. Junto c...