Uma Chance Para Amar

Capítulo 23

- Emma -

   A minha vontade é de sumir da face da terra. Não posso acreditar o quanto eu fui burra em acreditar que um cara ficaria comigo. Por que isso foi acontecer comigo? É essa a pergunta que se repete em minha cabeça enquanto passo uma maquiagem básica para esconder os olhos inchados pelo choro.

   _ Tem certeza que vai trabalhar hoje? _ Maggie pergunta pela quinta vez, enquanto encho minha caneca térmica com café _ Posso ligar e dizer que não esta se sentindo muito bem.

   _ Eu vou trabalhar. _ pego a minha bolsa _ Não posso parar a minha vida por causa de um cara. _ ela fica me olhando por um tempo e então suspira vencida.

   _ Certo, vamos logo. _ fala pegando suas coisas e então seguimos juntas para o meu carro.

   Por mais que esteja me sentindo péssima, sei que o trabalho vai me fazer esquecer e ainda ajudo outras pessoas. Desde que expulsei Luca de casa não toquei no assunto em momento algum. Sei que guardar a mágoa que estou sentindo não vai me ajudar muito, mas não estou pronta ainda para colocar tudo para fora.

   Assim que chegamos sou notificada que fui indicada pela doutora Collins para assumir junto com ela a chefia da obstetria e pediatria. Essa é uma área que nunca imaginei que me interessaria, mas tenho que admitir que sentir uma boa afinidade com as crianças. 

   Quando recebo as minhas funções e pacientes apenas entro de cabeça no trabalho e deixo a minha vida pessoal em terceiro plano. Tudo o que eu quero no momento é me ver livre de tudo que me lembre o que vi ontem.

   _ Emma vem comigo. _ a doutora Collins me traz de volta a realidade _ Um ônibus escolar tombou e estão trazendo os casos mais graves para cá. Temos duas crianças com uma situação crítica e vou precisar das suas mãos também.

   _ Não deram mais informações? _ questiono enquanto me preparo para a chegada dos pacientes.

   _ O resto vamos ter que descobrir quando chegarem. _ assim que termina de falar os paramédicos entram com um garoto de mais ou menos nove anos com um ferimento na cabeça e outro com a mesma idade, porém este exibia uma fratura exposta no braço.

   Fico com o garoto desacordado. Fazemos os procedimentos de entrada e então levo ele para uma tomografia. Preciso descartar qualquer trauma neurológico, hemorragias ou fraturas internas. 

   Ele apresenta uma costela fraturada que perfurou o pulmão esquerdo e é apenas questão de tempo até que ele morra sufocado com o próprio sangue. Reservo uma sala de cirurgia, contato uma equipe e prontifico a minha superior.

   _ Estou presa em outra cirurgia, Emma. Você vai ter que fazer isso sozinha. _ meu coração parece que vai parar _ Acredito no seu potencial e se caso houver uma complicação é só me bipar. _ avisa pelo telefone que temos no centro cirúrgico.

   _ O que vamos fazer doutora? _ a instrumentista questiona me trazendo a realidade.

   _ Vamos salvar a vida desse garoto. _ digo decidida _ Está tudo certo com a anestesia? _ o anestesista afirma _ Então vamos começar. _ me aproximo da mesa _ Bisturi. 

   A cirurgia se estende um pouco, mas por fim consigo estancar a hemorragia e estabilizar o quadro do paciente. A sensação de missão cumprida é maravilhosa. Só me resta ir falar com os parentes da criança e depois voltar para a emergência.

   Depois que as coisas se acalmam faço uma pausa. Pego um pacote de batata frita da maquina que fica em um corredor e me sento em uma das cadeiras que fica na entrada do hospital. Uma chuva fica cai do lado de fora e fico encarando as gotas escorrendo pelo vidro distraída.

   _ Precisando de companhia? _ a voz de James me traz de volta a realidade _ Aconteceu alguma coisa? _ pergunta sentando ao meu lado.

   _ Só estou pensando na vida. _ suspiro lhe entregando o pacote de batatinha _ Acho que vou começar a procurar um apartamento para mim. 

   _ Já está pensando em me deixar?! _ Maggie surge tomando o pacote de batata de James e sentando do meu outro lado _ Você pode ficar comigo o tempo que quiser.

   _ Eu sei, mas acredito que você queira a sua privacidade de volta e não vai ter ela comigo dormindo no seu sofá. _ sorrio, mas logo fico séria ao ver aquela mulher caminhando em minha direção _ Era só o que me faltava.

   _ O que foi? _ Maggie pergunta seguindo o meu olhar.

   _ Aquela é a Kate. _ digo entre dentes.

   _ Que bom que te encontrei querida. _ ela fala com um sorriso cínico e perfume forte que chega a me revirar o estômago _ Só vim aqui te dizer para ficar longe do Luca. Ele é meu e nós ainda vamos voltar a ficar juntos.

   _ Olha... _ sinto um gosto ruim na boca e uma pequena tontura _ Eu tenho mais o que fazer do que ficar aqui conversando com a ex do meu namorado. _ falo sem pensar e me apresso em sair de perto dela.

   Entro no primeiro banheiro que encontro e vou direto a uma privada colocar tudo o que comi durante todo o dia para fora. Sinto uma leve tontura ao levantar, mas então tudo melhora. Lavo a boca e o rosto. Encaro o meu reflexo pálido no espelho e respiro fundo.

   _ Eu te disse para ficar em casa. _ Maggie fala ao entrar _ Você está bem?

   _ Foi só o estresse. _ respondo pegando papel toalha para secar as mãos _Eu já estou melhor. _ minto descaradamente _ Preciso ir, fiquei de pegar os resultados de uns exames que pedi de um paciente do pós operatório.

   _ Se cuida, tá. _ pede antes que eu deixe o banheiro.

   Faço a revisão de alguns pacientes do pós operatório e também assino a alta de outros pacientes. Como se não me bastasse lembrar do beijo, agora tem aquela mulher vindo até onde eu trabalho para me pedir para ficar longe do Luca. O meu dia acabou de melhorar.

   Tenho até que uma folga durante a noite e consigo tirar um cochilo. É a famosa calmaria antes da tempestade, literalmente. A chuva fraca dessa tarde se tornou uma grande tempestade com direito a trovões e muita ventania. Um homem dá entrada com massa cinzenta saindo do seu crânio após ser atingido em cheio por uma árvore.

   Uma mulher grávida dá entrada em estado de choque depois de ser atropelada ao atravessar a rua. O estado do bebê é ainda mais crítico do que o da mãe e tivemos que fazer uma cesariana de emergência para termos chances de salvar tanto o bebê quanto a mãe. Foram feitas duas cirurgias simultaneamente para estabilizar a paciente. 

   O bebê nasceu prematuro e foi mandado direto para a UTI neonatal. Fiquei incumbida de tratar o bebê e atualizar o prontuário durante toda a noite. Se ele sobreviver as próximas dez horas significa que conseguimos. Entanto estou sentada no banquinho observando o pequenino lutando pela vida meus olhos recaem para a minha mão onde o anel de bijuteria ainda está circundando o meu anelar.