Quando Luciana e Fantine se viram pela primeira vez depois de 13 anos, não foi nada do que acharam que seria. Não houve choro, pedidos de perdão, abraços apertados. Pelo menos não naquele momento. Era uma reunião de negócios. Enquanto os detalhes da reunião do grupo eram acertados, Fantine não podia evitar roubar olhares discretos de Luciana. Elas sentavam em lados opostos do sofá, Aline entre elas. Sua atenção ora se desviava brevemente do assunto em questão e depositava-se na mulher sentada ali. Ainda não haviam tido a chance de conversarem a sós, mas Luciana parecia diferente. Madura. Fantine sabia dos acontecimentos recentes da vida de Luciana, como a perda de seus pais, e se pergunta se essa mudança não se deve a isso. Ainda assim, ela parece não ter perdido a doçura. Sorri constantemente, sua risada ecoa pelo cômodo. Acho que ela não mudou tanto assim, pensa Fantine, e sorri. O que não percebeu, em sua distração, é que estava olhando para Luciana fixamente.
"Fanta, você ouviu o que eu disse?", ela ouve alguém dizer.
Neste momento, ela é despertada de seu transe e percebe, envergonhada, que todos a encaravam, inclusive a própria Luciana. Ela sente suas bochechas queimarem.
"Oi? Ah! Sim! Ouvi, claro!", diz, tentando disfarçar.
"O que foi que eu disse então?!", Aline rebate, fazendo cara de brava e colocando as mãos na cintura, mas sua expressão era divertida. Todos esperavam sua resposta, e isso a deixou ainda mais nervosa, e se seu rosto estava tão vermelho quanto estava quente, ela devia estar igual a um tomate.
"Ah, você disse que... Que... Ai, amiga, desculpa. Eu não ouvi.", ela olha de relance para Luciana, que sente vontade de entrar na brincadeira mas ainda não sabe até que ponto pode ir. Decide não fazer comentários, mas ri da mesma forma. "Estava distraída".
"Ahhh, tava pensando em mim, né, amiga? Eu sei que você me ama, pode dizer!", Aline brinca, abraçando a cintura de Fantine. Ela não consegue evitar cair na gargalhada. Adora a personalidade de Aline, seu jeito brincalhão, a forma como deixa qualquer situação mais leve.
"Droga, fui descoberta!", faz drama. Todos riem e Fantine retribui o abraço de Aline, que ainda está agarrada em sua cintura.
"Eu disse," diz, soltando Fantine "que estava pensando em ir jantar depois daqui, pra comemorar!"
Aline parece tão animada, com os braços erguidos como uma criança feliz, que ela não teria como dizer não nem se quisesse.
"Mas é claro! Vamos!", finalmente responde.
"Ô, amiga, demorou, hein! Tá tão devagar que parece eu!", brinca Li, fazendo todos rirem mais ainda.
O clima leve e descontraído também aquece o coração de Luciana. Jamais, nem em seus sonhos mais loucos, imaginara que isso pudesse acontecer novamente, muito menos que tudo seria tão... tranquilo. Ela se sente em casa, mesmo que não visse essas pessoas há mais de 13 anos. Era como se fosse uma filha, finalmente retornando ao lar. Nem a incerteza de sua relação com Fantine mudaria seu humor. Fantine. Ela pensa que Luciana não percebeu seu olhar fixo nela, mas ela podia senti-lo queimando em sua pele sem nem mesmo precisar olhar. Sentia que Fantine observava atentamente tudo o que falava e fazia. Cada vez que tentava retribuir o olhar, a outra mulher desviava e voltava sua atenção para as outras pessoas na sala. Tinha consciência de que as duas eram agora pelo menos civis uma com a outra, mas ainda sentiam que pisavam em ovos. Como se qualquer palavra errada pudesse desencadear uma explosão iminente.
"Vamos então?", Karin chama, interrompendo, assim, o fluxo de pensamentos das duas mulheres.
"Esperem só um pouquinho, preciso ir ao banheiro antes", Fantine diz. A verdade é que precisa de um tempinho para se recompor e o banheiro pareceu a desculpa mais plausível.
Pede licença e se retira, não para o banheiro, mas para a varanda da casa. Precisa de ar fresco, clarear a mente. Precisava se controlar mais perto de Luciana. Já bastava aquele vexame que dera na sala.
"Oi", ouve uma voz vindo de trás de si.
Era ela.
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Veni, Vidi, Amavi
Fanfiction"A verdade era que, naquele momento, percebera o quanto sentia sua falta. Ouvir a sua voz de novo, assim de tão perto, havia despertado lembranças que ela lutou para tentar esquecer. Noites inteiras conversando sobre tudo e nada. A forma que ria qua...