CAPÍTULO V

254 15 3
                                    

Fantine ouve o tom de chamada três. Quatro. Cinco vezes. Ela não vai atender. Por que atenderia, depois da forma que a tratei ontem?

"Oi", ela finalmente atende. Sua voz soa fraca e rouca, e Fantine deduz que deve ter acabado de acordar. Se lembra bem daquele tom.

"Oi... Te acordei?", Fantine pergunta, sua voz preocupada.

"Não, já estava acordada. Não dormi muito bem", diz Luciana.

"É, eu também não. Será que a gente podia conversar?", seu coração acelerado martela contra suas costelas. Se prepara para ouvir um não. Para falar a verdade, não esperava nem que ela fosse atender, e se atendeu era porque também estava disposta a conversar. Não é?

"Claro", Luciana responde. Fantine suspira aliviada. Brinca distraidamente com o cabo do carregador; estava nervosa e precisava descarregar sua inquietude em algum lugar.

"Eu queria te pedir desculpas... Pela forma que te tratei ontem", Fantine diz.

"Tudo bem, Fantine. Eu mereci", Luciana responde, e sua voz é tristonha.

"Não", Fantine repreende firmemente "Você não merece. Por favor, não fala assim."

Há uma pausa em que nenhuma das duas sabe como continuar a conversa. Há tanto a dizer, mas nada se concretiza.

"Você realmente acha que eu escolhi o caminho mais fácil?", Luciana pergunta, seu tom incerto.

Fantine suspira. Não sabe o que responder. Sua primeira reação ao ser confrontada por Luciana na noite anterior, fora atacar. Falara o que estava preso em sua garganta há anos, ainda que não tenha sido a coisa certa.

"Não foi fácil", Luciana diz, despertando Fantine de seu monólogo interno. "Não se passou um dia sequer sem que eu me arrependesse. Sem que eu sentisse sua falta."

"Então por que você foi?", a mágoa que Fantine carrega todos esses anos transparece em sua voz.

Luciana apoia a cabeça em sua mão e sente seu coração apertar.

"Eu cometi um erro", Luciana diz, e uma lágrima teimosa rola por seu rosto. "Um erro que me custou a pessoa que eu mais amei nessa vida."

Fantine passa a mão entre seus cabelos, e anda nervosamente pelo quarto.

"Será que a gente poderia conversar pessoalmente? Mais tarde?", Fantine pergunta.

"Acho que sim... Desculpa por ter insistido ontem. Eu sei que não devia", diz Luciana.

"Tudo bem, já passou", sua voz é suave. Não queria que Luciana se sentisse culpada, afinal, se a conversa havia acontecido é porque ela também havia permitido. "Nos vemos daqui a pouco?"

"Até daqui a pouco", diz Luciana, e desliga.

Veni, Vidi, AmaviOnde histórias criam vida. Descubra agora