CAPÍTULO VII

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A campainha toca exatamente uma hora depois de Fantine ter enviado seu endereço por mensagem à Luciana. Seu cabelo está solto em cascatas castanho claro e veste um vestido branco simples. Quando Fantine abre a porta e Luciana a vê, não consegue evitar correr seu olhar por todo seu corpo. Fantine está deslumbrante em sua simplicidade.

"Oi", Fantine cumprimenta, observando o olhar de Luciana. Não sabe como cumprimentá-la. Um abraço? Aperto de mão? Antes que pudesse decidir, Luciana deposita um beijo tímido em sua bochecha.

"Posso entrar ou você vai me deixar parada aqui na porta?", Luciana brinca.

"Claro! Entra, entra", Fantine ri, sem graça, e se afasta da porta, abrindo caminho para Luciana passar.

Luciana observa o apartamento e aguarda que Fantine a guie para onde quer que fossem. Suas mãos estão juntas frente ao seu corpo, timidamente, e ela observa a decoração simples, mas que transmite perfeitamente a energia de Fantine.

"Espero que esteja com fome, preparei um jantar", Fantine diz, e Luciana se vira em sua direção.

"Eu espero que nesse meio tempo você tenha aprendido a cozinhar melhor", Luciana brinca, e ao ver a expressão exagerada de choque no rosto de Fantine, cai na gargalhada. Fantine não consegue segurar o riso.

"Ah, é?! Então quer dizer que minha comida era ruim? Não lembro de você reclamando!", Fantine põe as mãos na cintura, ainda rindo.

"É brincadeira, Fan. Você é uma ótima chef."

Fantine sorri ao ouvir seu apelido sair da boca de Luciana pela primeira vez em 13 anos. Ela caminha em direção à sala de jantar, onde já havia posto a mesa.

"Esse cheiro é o que eu penso que é?", Luciana pergunta, uma expressão levemente surpresa em seu rosto.

"Depende do que você acha que é", Fantine brinca.

Luciana caminha em direção à mesa e abre uma das travessas. Ao ver o que tinha dentro, olha para Fantine e sorri abertamente.

"Risoto ao funghi!", Luciana diz, empolgada como uma criança "É meu preferido!"

"Eu sei", Fantine responde, repetindo o que Luciana dissera naquela manhã.

Fantine não consegue evitar o sorriso que não quer sair de seu rosto. Acha graça na forma como Luciana se comporta, sem reservas e inibições, suas atitudes sempre autênticas e tão maravilhosamente... ela.

"Eu não como isso desde...", seu sorriso se desfaz levemente, e ela desvia o olhar de Fantine. "Bem... desde você."

Fantine dá um sorriso triste. Esse era o prato preferido de Luciana há 13 anos, e Fantine arriscara fazê-lo de novo esta noite. Foi em uma noite chuvosa de agosto do que parecia uma vida atrás que Luciana e Fantine fizeram um jantar juntas pela primeira vez, em meio a brincadeiras e beijos roubados. Obviamente Luciana já havia experimentado culinárias mais elaboradas, mas a memória afetiva afetava seu paladar e contribuía para que aquele se tornasse seu prato preferido, por tudo que ele representava. Cumplicidade, amor, intimidade... lar. Ela nunca havia parado para pensar no conceito de lar, mas agora que pensa a respeito, lar era tudo que Fantine representara em sua vida. Jamais tivera a sensação de pertencimento tão forte do que quando estava com a outra mulher. Ela não precisava de muros e paredes. Lar era aonde Fantine estivesse.

"Espero que você goste", Fantine diz, indicando a cadeira para que Luciana se sentasse.

Luciana observa com atenção cada movimento de Fantine. A forma como seus dedos seguram firmemente a garrafa de vinho, enquanto a desarrolha com a destreza e confiança de quem faz isso há anos. A testa involuntariamente franzida em concentração enquanto entorna o vinho em duas taças, oferecendo-a uma das taças e levantando a própria.

Veni, Vidi, AmaviOnde histórias criam vida. Descubra agora