A Sagração da Primavera

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Abrem-se as flores naquele amanhecer,
Abre-se a Fertilidade, um novo ciclo recomeça.
A suave brisa toca amena flauta
Enquanto cobre de frescor a bela Virgem
Que repousa num leito de flores reclinado
Às alvuras duma cachoeira.
Vem despida então à Virginal Alma 
Dum mancebo adormecido
Em etéreo sonho encontrava-se o Efebo
Enquanto de flores o ar era perfumado.

Suas pestanas abrem-se
E a lívida pele então se enrubesce,
Revelando o ouro de seus cabelos e o brilho
Daqueles rutilantes olhos d'orvalho doce
Que alimentam os lírios e as tulipas do campo,
Que comovem e queimam os humanos peitos com Amor.
Despido então, desce a angelical mão à terra
E acaricia a casta fronte dum perdido,
Que se assusta com a Divinal Beleza 
Do Mancebo e foge aos campos.

As ninfas já cantam sua onírica elegia
Chamando as abelhas e seu Néctar Sacral,
Aguardando a Sagração Divinal,
O Sacrifício Fecundo.
Já a Citereia Dama segura o jarro de Mel
E unge o Príncipe Primaveril,
Embalsamando-o com o Sagrado Néctar,
Acariciando seu primoroso corpo
Vagarosa e apaixonadamente,
Beijando as Sacras Formas com seus rubros lábios.

Um brilho sai do Sacro Jovem,
Um aroma de flores invade o Universo,
O canto das ninfas leva-nos ao êxtase,
E os beijos acalentados no cálix de Mel são doces.
Um Etéreo Amor nasce, um abraço os embala,
Um beijo antecede o Sacrifício,
E então o Cálix Sagrado se enche
Dum vinho tinto e vivo, fecundo,
Do qual nascem rosas orvalhadas
Com doce néctar no Fecundo Cálix.

Suavemente suspiram suas narinas
O último aroma, doce e fresco,
Que se espalhou na Terra.
Suas mãos fixam-se às minhas, então,
E um derradeiro beijo se aproxima.
Em meus braços tu te tornastes Rosas,
Rubras do teu Puro Sangue.
Bebo o que sobrou deste Néctar,
Que me enche de Amor,
Pois sei que de Eternidade a Eternidade seremos

A Poesia é a Porta da AlmaOnde histórias criam vida. Descubra agora