Guerra

169 31 1
                                    

"Te darei o dom da vida, porém para se transformar num menino de verdade deves fazer por merecer." (Pinóquio)

O menino tinha agilidade. Era como um animal feroz, as vezes descoordenado, mas aprendia rapidamente. E nem mesmo hesitara quando ele pedira para que tirasse os sapatos e a camisa, apesar da neve forte, e continuava lutando mesmo com os pés cortados pelo gelo. Tinha que ensina-lo a ser resistente, eram as ordens.

– Sua esquerda está fraca. – falou sereno enquanto atingia o garoto com força, o deixando sem ar, o outro recuou com um pulo e rosnou, dando nova investida. – Com raiva, você perde o controle da luta e fracassa. – continuou, o golpeando, mas dessa vez o garoto desviou e pulou por cima dele. Era magro e veloz. Os cabelos loiros eram grandes e bagunçados, e os olhos, em um momento como aqueles, ferozes como um animal. Quando o retirara da cela, há menos de um ano para treina-lo, ele parecia nunca ter visto o sol. Tudo o que conhecia era o subterrâneo e os testes pesados. Não falava. Era uma criatura peculiar, no entanto, e fora dos momentos de luta dos dois, tinha um olhar estranhamente inocente para tudo ao redor, absorvendo as coisas de um mundo de forma nova. E confiara nele de forma cega, mesmo ele sendo um assassino e dizendo que viera treina-lo, e se ele falhasse seria eliminado.

– Por que não tem medo de mim? – perguntara curioso, tempos depois quando o fizera falar.

– Por que seu cabelo é vermelho. – respondeu simplesmente.

Não podia entende-lo.

Sentiu os braços finos o golpeando ele ficava cada vez melhor. Logo poderia ser apresentado aos outros números, se juntar em alguns treinamentos.

Treinavam a horas, e os movimentos do outro começavam a ficar pesados pelo cansaço. Se sentia estranho o surrando daquela forma, e esse era um sentimento novo para si. O menino caiu no chão, já mal se aguentando em pé, respirando pesado. Madara o dava uma dose de droga apenas o suficiente para deixa-lo vivo, diminuindo muito sua capacidade e as vezes o garoto passava realmente mal durante os treinos, mas era uma precaução quando tinham que faze-lo do lado de fora das bases, do contrário ele poderia fugir. Como já fizera duas vezes antes. Outra coisa peculiar na criança, pois nunca ninguém conseguira fugir dele antes.

– Levante-se. – ordenou.

O outro assentiu, cuspiu sangue na neve dos golpes que recebera e pegou uma kunai assumindo uma pose de ataque, que parecia a de um lobo prestes a saltar na presa, mesmo que os joelhos nas pernas magrelas estivessem tremendo, querendo desabar na neve novamente. Suspirou e se aproximou e foi quando algum barulho nos arbustos o deixou em alerta, e jogou uma kunai em direção a vegetação de forma instintiva e rápida. A criança no entanto gritou e jogou a sua própria desviando a trajetória da arma. Olhou sem entender o gesto, e o outro correu para os arbustos.

Se aproximou e viu a criança pegar nas mãos um filhote de lobo branco que rosnava e o mordia na mão o fazendo sangrar. O menino não reclamou de dor, sentou no chão no gelo com o animal entre as pernas até que o bicho se acalmasse com o carinho na cabeça.

Era um gesto tão absurdo, que o deixou fascinado. Ainda mais por que o outro sorria de uma forma aberta, que nunca vira que se lembrasse, mas ao mesmo tempo, na sua mente, havia algo guardado, de um sorriso parecido, uma lembrança perdida que o deixava confuso as vezes.

– Não vou te machucar. – o outro murmurou ao animal. – Sou como você.

O animal pareceu estranhamente calmo e lambeu o rosto do menino que riu.

GenuínoOnde histórias criam vida. Descubra agora