Eu te odeio

201 29 0
                                    

Não podia ser imprudente.

Caminhava pelo corredor com a face sem transparecer qualquer angústia e raiva que sentia no momento. Haviam sido quatro semanas, dessa vez. Não sabia o que acontecera com ele durante aquele tempo, o que fizeram, mas podia imaginar. E também ouvir. Ele raramente gritava. Se o havia feito, a dor devia ter sido demasiada.

Se escondeu na escuridão e esperou. Ela, Um e Dois sabiam bem como andar imperceptíveis pelas bases.

Quando o trouxeram, estava desacordado. Abriram a porta do quarto com o código de segurança, o jogaram lá e fecharam. Esperou afastarem-se e olhou para a porta de metal grossa, como havia em todos os quartos da base. Demoraria para decodificar e abrir daquela vez, graças ao garoto, haviam trocado todo o sistema de segurança. Ele era um gênio para driblar tudo isso.

Mas para sorte dela, não era o único.

Viu os cabelos vermelhos aparecerem da escuridão.

Ele chegou até a porta e olhou para a escuridão de onde ela se encontrava, deixando claro que sabia da sua presença.

Suspirou e foi para o seu lado enquanto ele fazia algo quanto ao sistema de tranca.

– E as câmeras?

– Somos fantasmas. - ele respondeu simplesmente. Não perguntou como ele conseguia fazer isso. A mente dele e de 445 funcionava de uma maneira que ela não conseguia entender. Eram gênios, afinal.

Não trocaram palavras. Não eram particularmente fãs um do outro. Na verdade, todos os números se odiavam secretamente, se pudessem usar essa palavras, já que quase nunca sentiam nada além da apatia, mas se suportavam em nome de algo maior.

Dentro do quarto as luzes nunca eram apagadas. Por isso viram claramente o corpo jogado na cama de acolchoado branco. As marcas estavam praticamente cicatrizadas em seu corpo, mas havia uma grande nas costas que se via, uma vez que ele estava deitado de lado, com as costas para a entrada do quarto. A marca era recente e profunda, por onde ainda pingava sangue e sujava os lençóis.

Correu até ele.

Se ajoelhou no chão e quando tocou no ombro para chamar-lhe a atenção ouviu um gemido baixo e sentiu a pele fervendo na sua mão. Ele queimava.

Não entendia a razão de Madara sempre pegar pesado com ele. Não tinha nem 14 anos. Se continuasse assim, não sobreviveria por muito tempo. Nem com a droga o corpo continuaria a suportar tantos abusos, tantos testes, tantos castigos.

Ou a mente acabaria mesmo entrando em colapso.

Gaara já estava a seu lado. O sentaram. Ele continuava preso em seu mundo de alucinações febris, ainda assim reagia em rejeição aos toques e era difícil segurá-lo sem barulho.

Tinha que fazer algo em relação a febre.

Ela tinha seu talento especial nas drogas, em todas. Fora treinada para saber sobre venenos, mas sabia sobre remédios também, a fronteira entre os dois podia ser tênue.

Pegou sua bolsa, procurando o certo.

– Segure-o, abra sua boca.

O ruivo o fez, sem questionar, manipulando o menor. Foi difícil fazê-lo engolir, mas aos poucos sem corpo parou de tremer, embora ainda estivesse muito quente.

Ele caiu um pouco para trás, no peito do outro, sujando as roupas de Gaara de sangue. Ele era por excessivo quente. Era estranho, estando consciente nunca se aconchegaria em nenhum deles. Há dois anos que mal sorria, estavam conseguindo extirpar essa sua característica aos poucos.

GenuínoOnde histórias criam vida. Descubra agora