"Avante guerreira, pois eis que há luz ao fim do túnel!"
Acordei certo dia com uma barulhenta e acalorada discussão. A causa, eu sabia, era o Xena, cuja presença vinha fazendo o Carolas perder a razão.
Pelo teor da conversa, Giovanni não sabia quando aquele acto criminoso ia terminar e deu para perceber que ter consciência disso já o estava a afectar.
Ele discutiu com a mamã sobre qual deles ficaria a vigiar e só chegaram a acordo quando eu me ofereci para os ajudar.
Bem dita a verdade, fiquei animada por à cave voltar e pouco me importava que a mamã ou o Giovanni me estivessem a espiar.
Num prato branco de porcelana o almoço dele servi. Carreguei-o numa bandeja laranja até a cave sempre a sorri. Com dificuldade as escadas desci. A bandeja oscilava,mas ao menos desta vez, eu não caí.
Num dos braços o"Sal da Terra" levei, ia usa-lo para ler e com ele a dada altura me escudei. Ele estava no mesmo lugar, preso onde o deixei. Estava vendado, sujo, tão quieto e inofensivo mas desperto, eu pensei.
Sob a luz, eu logo percebi. Ele era diferente, como nunca vi. Sem o uniforme do colégio ele era vistoso e colorido como um colibri. Tinha roupas e sapatos de marca e o seu cabelo, que no colégio aparentava estar sempre desarrumado, estava mais ou menos penteado que até me ri.
- Ai de mim... Ele é rico! - pensei para mim, receosa.
E eis que em meu socorro a Dio apareceu.
-"Avante guerreira, pois há uma luz ao fim do túnel!" _ disse.
Foi então que recordei que o estatuto pouco me importava. Pois, ainda que fosse pobre, ele continuaria a ser o Eduardo Xena que eu tanto admirava. Aquele rapaz dócil que me sorriu como nunca havia sorrido para nenhuma outra. O rapaz por quem talvez eu estivesse ainda apaixonada.
E assim, com cuidado me aproximei. Mas só quando estive perto o suficiente, é que me ajoelhei. A bandeja laranja no chão pousei e lá ao lado do copo, o "sal da terra" coloquei.
Tentei não o assustar enquanto me aproximava, mas perdi o equilíbrio enquanto gatinhava. Ele ficou assustado e em pânico se afastou. Ter as minhas mãos nos seus joelhos foi o que o alertou. Irritada fiquei por ser tão desajeitada. Não suportei vê-lo daquele jeito, com medo de mim, tola endiabrada.
Quis acalma-lo, mas não sabia o que fazer. Tinha medo de lhe tocar, pois algo pior podia acontecer.
Não tive tempo para pensar, eu arrisquei. Tirei-lhe a venda sem contar e o acto tão inesperado até a Dio foi espantar.
- Olá! _ disse eu, tomando uma tímida iniciativa.
Ele abriu os olhos e não parava de piscar. Não enxergava, mas foi com a falta de resposta que fui me preocupar.
- Que tola! _ ele era mudo, fui então recordar.
Ele chegou mais perto e olhou para mim com atenção. Ai, um certo brilho nos seus olhos percebi e esse mesmo brilho acelerou o meu coração.
- Está tudo bem... _ garanti, gesticulando ao falar.
Eu sorria ao lhe falar mas gritava dentro com vergonha de lhe perguntar: "lembras-te de mim?" pelo que ao invés disso perguntei...
- Tens fome?
para a bandeja laranja ele logo foi olhar. Viu o prato e achou a comida apetitosa, queria petiscar. Porém, havia um problema: como ele não podia ter as mãos livres, tive eu de o alimentar.
A bandeja laranja a frente dele coloquei e quando pelo canto do olho o vi olhar para o "Sal da Terra", pensei:
"Tímido é o sorriso escondido no canto da sua boca, como se dos seus lábios em linha recta quisesse crescer"
E eis que ao meu rosto levantar, os seus expressivos olhos negros de tons acinzentados sobre mim acabei por notar.
E então eu ri. Eu estava condenada! A Ruiva me avisara... Eu estava apaixonada!
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Pequenos Contos de Paixão & Perigo: Ribeirinha Maia
RomansaHá uma rapariga em Pendaval nascida em Março, durante uma trovoada. Que assim como o leitor, teve uma adolescência difícil e algo complicada. A sua melhor melhor amiga era uma figura mal lembrada, um espectro de um livro numa era já passada. A sua...