"Sereis livres se fordes verdadeiros. Sede pois em tudo, verdadeiros!"
Passaram-se semanas e o simpático Dimas voltou a nossa casa, foi a sua segunda visita desde que trouxe Eduardo Xena na sua camioneta amarelada. Ai, eu o vi com outros olhos, mas ainda me parecia um homem bom demais para aquela vida tão cretina.
Dimas ficou até ao anoitecer, jantou connosco e foi de novo o homem da noite, ninguém podia crer. Não falou do Xena ou sobre o facto de estar ao meu cuidado, querendo isto dizer que Giovanni não lhe contou e talvez não tenha precisado.
Depois da partida do Dimas eu desci a cave para que o xena pudesse Jantar e assim que terminamos, li um pouco do "Sal da Terra" para ele, como vinha fazendo até a hora de deitar. Naquela noite, eu me senti tão a vontade que me dei ao luxo de o abraçar. E impelida pelo desejo de sentir o seu toque, encostei o meu rosto ao dele. Quis beija-lo e naquele momento só o podia desejar.
Veio o Sábado e como se esperava, a mamã de casa saiu. Para mim os sábados costumavam ser tensos, mas este não foi. Naquele dia, um banho demorado tomei. Dei volume ao meu cabelo com um pente grande e com um lindo laço longo e amarelado enfeitei. Pela casa descalça andei, mas na porta um ténis preto deixei. Naquele dia, o Giovanni Carolas provoquei, com roupas ousadas a sua atenção chamei.
...
A Fuga, por Eduardo Xena.
Eu estava acordado já há algum tempo. Na verdade, eu quase não dormi.
Acordei de madrugada e pus-me a pensar. Entre os pensamentos lá me lembrei do abraço, aquele que a Maia me deu. Eu gostava dela e senti que ela também gostava de mim. Essa era uma de muitas coisas que não tive a oportunidade lhe dizer, como o motivo de ter ido embora, pois ela vivia escondida e em fuga desde a primeira vez que nos vimos.
Foi uma surpresa e tanto descobrir que estava preso em casa dela, mas sei que ela nada teve a ver com isso, pois quem me raptou tinha-me apenas mudado de lugar.
De qualquer maneira, tive a sensação de que aquele abraço não significou nada, pois foi tão curto, apressado, quase impessoal.
A sério! Aquele abraço não teve significado algum. Ao menos serviu para alguma coisa. Serviu para me avisar, no momento em que ela encostou no meu rosto, que eu tinha de esperar pelo sinal e que eu saberia quando sair.
É verdade! Aquele abraço não teve qualquer significado. Foi tão simples, porém propositado. Ele serviu, no momento em que ela me apertou, para me entregar a ferramenta que me libertaria: uma faca de cozinha! Com a qual cortei durante algumas horas as fitas que me prendiam.
Livre de amarras, eu me levantei e sacudi as minhas roupas sujas e suadas. A minha camisa formal branca, de mangas compridas e botões lilás e o meu casaco cinza da marca Hugo Boss, estavam horríveis.
O tom azul das minhas sempre confiáveis Jeans Levi's deram-me ao menos a falsa sensação de estar apresentável. Pelo menos assim, a publicidade enganosa não se aplicava, não com as Levi's.
Olhei então para os meus pés, para os meus Mocassins Zara acastanhados e lamentei a atrocidade em que se transformaram naquele ambiente.
Ia afogar-me em auto-comiseração por causa do meu aspecto, mas a urgência da situação trouxe-me de volta ao mundo real.
Corri lá para cima escondendo a faca, ainda em mãos, no meu belo casaco Zara cinza. Ao chegar as escadas, hesitei. Lembrei que a Maia tinha me pedido para esperar pelo sinal.
Eu ia esperar, mas iria ouvi-lo? Desde que ali estava, nunca ouvi nada vindo lá de cima. A casa da Maia David era velha, mas a cave parecia ser aprova de som, como uma sala de pânico obscura.
A duvida me irritava. Eu tinha de fugir, mas não imaginando que sinal seria esse, a fuga ficou sem efeito.
- Que se lixe! _ pensei.
Eu avancei, decidido a fugir. Subi as escadas devagar e o mais silencioso que pude. quando cheguei a porta, quase hesitei outra vez ao pensar na Maia, mas continuei. Assim que peguei na maçaneta percebi que esta estava destrancada. Não era o sinal, era um passe-livre!
Eu saí, sempre alerta e avancei. Passei pela cozinha, também sala de jantar e reparei que estava livre. Avancei então com cautela para o corredor, passando pela sala de estar, também livre. Vi a televisão ligada pelo canto do olho, o som estava bastante alto.
O que se passava? Onde estavam todos? Onde é estava a Maia? teriam saído? Foram as perguntas que me fiz.
Cheguei a saída ainda me questionando e com uma mão na maçaneta vizando a liberdade, procurei razões para não me preocupar.
Foi então que olhei para baixo e vi uns ténis pretos ali perto da porta. Ninguém punha calçados ali a menos que fosse sair.
De repente, um forte estrondo ouviu-se algures. Eu quase saltei de susto. Eu perguntava de onde teria vindo, quando ouvi então um grito estridente.
Eu corri sem caminho pela casa seguindo o grito pelos corredores. Ao longe, vistei um quarto cuja porta estava aberta. Esta era azul oceano. Eu corri de novo, ainda ouvindo os gritos e me deparei com uma cena inesperada.
Vi um homem magro sem camisa e quase sem calças, debruçando-se a força sob uma rapariga mais pequena, aos gritos.
Estavam os dois numa cama pequena, com lençóis de xadrez amarelados. Almofadas azuis jogadas no chão e outros adereços também. Eu percebi que a garota era a minha salvadora, Maia David, a garota de quem eu gostava e me atirei contra o homem, cheio de raiva, chutando o seu traseiro.
Ele rebolou e tombou para o outro lado da cama, de cara no chão.
Eu tive que agir rápido e ajudei Maia a se levantar. Ela estava aterrada, mas notei que suas expressões mudaram para surpresa e vergonha. Ela não esperava que eu ainda ali estivesse e a visse naquele estado.
Maia correu para fora do quarto as presas, levando consigo a sua blusa amarela, que usou para tapar os seios nus. Eu ia atrás dela quando aquele homem, de novo em pé, me empurrou contra a parede do corredor.
Eu bati com a cara na parede e entre enraivecidos grunhidos ele chocou o meu corpo contra ela mais de uma vez. Com um novo choque, a faca de cozinha que escondi no bolso do meu casaco caiu.
O homem viu-a, riu-se e disse que eu tinha coragem. Depois, com os pés, chutou a faca para longe e em seguida esmurrou com grande violência e repetidas vezes as minhas costelas. Eu senti dores atrozes, mas teria sido muito pior se aquele homem tivesse me esfaqueado ou dado um tiro, caso tivesse uma arma.
Cada soco infligido ao meu corpo demonstrava quão sádico uma pessoa podia ser se lhe dessem motivos. O homem virou-me para frente e um soco desprevenido que passou de raspão por um olho me fez cambalear para a esquerda.
Ele me pegou então pelo casaco cinza, endireitando-me e em seguida, uma rasteira matreira me deitou ao chão. A queda teria sido violenta se o homem não me estivesse a segurar pelo casaco.
Mais socos foram desferidos entre o rosto e o tronco. Senti pontapés na barriga e pisadelas nas pernas. Eu gritava, mas não havia voz em mim. Ele pareceu não se importar com o facto de eu ser mudo, pois deve ter percebido que eu sofria, ao me contorcer de dor.
Ele estava tão concentrado em causar estragos em mim, que também não se importou com o que lhe fariam os meus pais caso eu, hipoteticamente, conseguisse escapar a sua ira. Sim! Ele estava tão concentrado com o prazer de me espancar, que tarde se apercebeu ter uma arma apontada a cabeça.
-"Maia!" _ gritei em pensamento.
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Pequenos Contos de Paixão & Perigo: Ribeirinha Maia
RomanceHá uma rapariga em Pendaval nascida em Março, durante uma trovoada. Que assim como o leitor, teve uma adolescência difícil e algo complicada. A sua melhor melhor amiga era uma figura mal lembrada, um espectro de um livro numa era já passada. A sua...