Capitulo 2: Eu, a Mamã e o Carolas

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"Servil, assim me descrevo. Mais do que isso, seria tolo apego"

 Tenho uma pequena historia para vos contar e nas linhas de cada capitulo, nenhum linear, conhecerão as minhas desventuras enquanto eu via a vida a passar. Esta é uma historia de descoberta, amizade e amor na certa. É um conto sem idade, cheio de rimas e por isso já aviso que talvez alguém se perca...

Eu e a Dio parecíamos irmãs. Éramos inseparáveis e apesar de opostas, completávamos uma a outra, igual as metades de uma maçã. 

Enquanto ela era corajosa, destemida, astuta e implacável. Eu era medrosa, inibida, ingénua e influenciável. E como duas irmãs ainda que em espírito, partilhávamos um sentimento de lealdade e um grande sentido de dever poucas vezes visto.

Por vezes eu contava com ela para tratar das coisas em casa, como cuidar da mamã. Ela dizia-me o que fazer, como é próprio de uma irmã mais velha e eu limitava-me a obedecer, como uma boa ovelha.

Sobre a mamã, Nora era o nome dela e antes de eu existir, o seu orgulho era ser bela. Por causa da sua beleza, Todos tinham os olhos postos nela. Mas quando eu aconteci, ninguém quis ficar com ela. Era ainda pequenina quando meu pai nos deixou e a bebida jogou a mamã num fundo precipício. Desde então, ajudá-la tem sido o meu serviço já que aos outros familiares só importava o seu sumiço.

Volta e meia, o seu caso com a bebida fez dela uma acumuladora de homens que à afastavam de mim. Homens a quem eu chamava "passageiros" porque mais cedo ou mais tarde iam embora, simplesmente assim.

Eles eram na sua maioria gente rude e agressiva. Com vícios idênticos e a mente a deriva. 

Com os rudes, a mamã não queria nada além do bel prazer. Com os viciados houve novas sensações para dar e receber. E com os casados houve um sonho que ela esperava acontecer. Um sonho que muitas vezes vi morrer. Felizmente, estes últimos foram os melhores da sua vida, pois com belas promessas e presentes fizeram a mamã ficar rendida. Eles eram espertos.

Porém, apesar de tudo eu nunca os odiei, a nenhum deles! Eu odiava o que eles significavam para ela. Odiava a influência, o poder que tinham e temia vir a seguir os traços dela.

Eu amava a minha mãe, mas eu tinha muito medo! Tinha medo do quão inútil parecesse cuidar de alguém que dizia não precisar de ajuda. Alguém que me mentia, iludia e lograva sempre que podia, apenas para se manter longe dos seus próprios demónios e terrores nocturnos com as garrafas que escondia.

...

Mas havia na nossa casa algo além dos traços dependentes da mamã que eu mais temia. Esse algo era uma arma, era chamada "Victoria" e ao Carolas pertencia.

Giovanni Carolas, o mais novo e duradouro namorado dela. Era um bandido, um cretino! Um homem alto e desengonçado que cantava desafinado a "cita Bella".

Conheceram-se quando eu tinha doze anos, no distrito do Morro-Alto e viviam o momento como groupies no asfalto.

Era com a querida "Victoria", que o Carolas ostentava o seu poder em nossa casa. Quando a empunhava, ele conseguia ser ameaçador e nenhuma de nós o enfrentava.

Com ela, ele sentia que podia tudo, inclusive mirar-me com um disfarçado olhar desajeitado. Os seus olhos sempre me seguiam e eu logo percebi no que ele estava interessado.

Ele bem tentou esconder, mas quem estava atento podia ver, que o seu proibido interesse quase o levou a enlouquecer.

Olhava-me assim desde os meus catorze anos e tornou-se óbvio, a cada sábado em que a mamã saía de casa e ele ficava insano.

O que acontecia nesses dias começava sempre com um "pequeno" pedido pervertido. E quando eu educadamente me recusava, ele me seguia até ao quarto e falava com violência num tom além do atrevido.

A porta arrombava, com fortes pontapés e brandia a sua arma, jurando matar se não me pusesse aos seus pés.

Eu só podia fugir, sair pela janela. Sabia que ninguém me iria acudir, não era uma novela.

Quando a mamã regressava do trabalho, encontrava-me nos meus afazeres e ele, adormecido no quarto, grogue como cacho, feliz nos seus prazeres.

Ela perguntava-me sempre o que tinha acontecido e eu dizia sorrindo, que a bebida tinha-o vencido.

A noite, eu não conseguia adormecer, pois a assustadora possibilidade de alguma vez me deixar tocar por ele, dava-me vontade de morrer.

Tais pensamentos levavam-me a chorar, roubavam-me o sono e somente a Dio, com a sua bela voz, podia me consolar.

Pequenos Contos de Paixão & Perigo: Ribeirinha MaiaOnde histórias criam vida. Descubra agora