Minha força é você

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- Lena, eu não vou perguntar de novo! Onde está a Supergirl? Sei que sabe sobre ela e o que quer que não esteja me contando, eu saberei! - a mulher falava pausadamente em tom bastante calmo, enquanto o homem ao lado apenas esperava suas ordens.

Bastou um único olhar para que o moreno forte acertasse outro soco no rosto da garota, a fazendo virar bruscamente para o lado, sentindo o gosto de sangue invadir sua boca. Lena encarou a mulher mais uma vez por entre os fios escuros de seu cabelo que cobriam parte de seu rosto e tomou ar para conseguir falar.

- Se eu soubesse onde ela está, não diria pra você. E se me matar, estará me fazendo um enorme favor.

- Quem falou em matar? - Lillian se dirigia a uma mesa próximo dali com um sorriso no rosto e depois de pegar um objeto metálico que Lena não sabia ao certo o que era, voltou a se aproximar - Tem coisas melhores que posso fazer com você.

O agonizante silêncio fora quebrado por um estrondo no teto e da escuridão que havia no fundo da sala, surgiu lasers num tom azul claro que foram direcionados para o que Lillian segurava. O objeto imediatamente ficou tão quente que a mulher se obrigou a soltá-lo e das sombras, saiu a garota da capa vermelha com uma expressão furiosa que poucas vezes se podia ver nela. Kara se aproximou da mulher e a segurou pelo pescoço, levantando no alto como se fosse um brinquedo, se fazendo entender sobre a dimensão de seu poder mesmo em um ato tão simples.

- Não - sussurrou Lena baixinho, lamentando a presença da loira por saber exatamente o que Lillian planejava.

A mais velha manteve seu sorriso provocante e tirou do bolso interno de seu casaco, revestido com chumbo, uma faca feita de kryptonita e a enfiou com um movimento rápido na lateral da cintura da Supergirl, que imediatamente teve seu uniforme e a pele perfurados e a soltou, apoiando uma das mãos no chão para não cair. A garota de aço soltou quase um urro de dor e tinha uma das mãos perto do objeto que a queimava apenas com o toque, além de a enfraquecer e até matar dependendo do tempo de exposição.

Num ato de coragem, a loira segurou a arma, sentindo também sua mão queimar em uma dor quase insuportável, enquanto o cristal verde brilhava com o contato, ela sentia sua força desaparecer gradativamente. Depois de tirar a lâmina de seu corpo com um outro grito, ela caiu completamente sem forças, muito perto de perder os sentidos.

Lena tinha os olhos fixos na cena e sua respiração muito mais ofegante, ela se sentia completamente impotente amarrada com cordas naquela cadeira de madeira, no fundo de um depósito abandonado e a única pessoa que a ajudou e despertou dentro dela algo de bom, estava machucada ou possivelmente morta graças a ela própria, já que entendia que sua mãe era um problema seu, algo que devia encarar sozinha. Ela trincou os dentes, sem conseguir controlar as lágrimas que escapavam por conta da enorme raiva que sentia da mulher a sua frente e de si mesma e se levantou com o que sobrava de sua força, mesmo com os pulsos presos a cadeira, a morena apoiou um dos pés na mesa e deu um impulso para subir, se jogando com tudo contra o chão e desmontando completamente a velha mobília. Lena poderia matá-la tamanha a sua raiva, dor e culpa naquele instante, mas ela apenas se aproximou, chutando a faca em direção a escada e fazendo com que o objeto caísse alguns andares abaixo, pegou uma das pernas da cadeira com um prego na ponta e o enterrou no rosto de Lillian com um único golpe, antes que o homem grande que estava por perto a pegasse pelas costas, em um abraço que a imobilizava completamente prendendo seus braços junto do corpo.

- A leve daqui e prenda num lugar de onde não possa sair! - a voz de mulher, mesmo com o ferimento em seu rosto, não parecia menos calma do que antes, o que era assustador.

Já na saída do prédio abandonado, o homem parou ao ver que alguém impedia sua passagem ao longe. Kara mal conseguia se manter em pé e tinha uma das mãos pressionando o ferimento, mas manteve seu olhar firme ao do homem e fechou um de seus punhos, soltando as palavras em uma voz forte e furiosa.

- Ficaria surpreso com o que eu posso fazer com um buraco na cintura - disse mostrando os dentes - A solte agora e corra daqui se quiser salvar a sua vida!

O sujeito ficou pálido de repente e mesmo com todo o seu tamanho, correu desesperadamente. Lena correu até Kara e estava surpresa por ela ter conseguido chegar antes deles e ainda usar seus poderes mesmo depois de um ferimento tão grave e o efeito do cristal verde que os enfraqueceria em um alto nível.

- Está tudo bem, não se esforce muito. Eu não sei como você chegou aqui primeiro, mas vai ficar tudo bem, eu estou bem - repetia a morena preocupada.

- Foi por aquele mastro - disse a garota apontando para uma barra de ferro que ia do chão até o andar de cima.

- Eu vou tirar você daqui!

O dia estava nublado, isso dificultava a recuperação de Kara, mas um único facho de luz entre as nuvens a fez respirar melhor, fez com que o processo de cura acelerada fosse mais eficiente e alguns longos segundos depois, ela já estava voando através das nuvens, para mais perto do sol. Lena por outro lado, ainda tinha ferimentos externos e internos, além de uma tosse chata com um pouco de sangue.

- Você... Você está ferida - a voz da loira falhou.

Foi como se pela primeira vez, ela sentisse medo. Kara sabia o quanto os humanos eram frágeis como cristais, pequenos pedaços de papel na água, o quanto vidas humanas se perdiam todos os dias por tão pouco. Já esteve perto de perder Lena, mas dessa vez era diferente, porque não estava mais ao seu alcance salvá-la. Se algo acontecesse, ela não iria se perdoar.

- Eu estou bem, não se preocupe.

- Não está não, vamos pro meu apartamento, vou cuidar de você.

- Não acho que seria seguro irmos para a sua casa ou para a minha agora.

A morena decidiu que seria mais prudente ir para uma cabana onde ficava alguns dias quando queria fugir de sua vida e chamar um médico. Era um lugar distante, tranquilo e o mais importante, ninguém sabia dele. Ela não dispensou a companhia de Kara, na verdade achava que ela estaria mais segura se também não aparecesse em National City por uns dias.

- O que estava pensando? Me proteger? Você podia ter morrido. Eu sei cuidar de mim e tenho poderes!

- Você saiu de lá pior do que eu - Lena respondeu, ainda conseguindo rir mesmo deitada na cama e em uma situação não muito agradável físico e psicologicamente.

- Sim, mas você não pode se curar com o sol, ou qualquer outra coisa rapidamente.

- Eu não sou a Supergirl, já sei! Mas não podia deixar te machucarem por minha causa.

- Não foi por sua causa! Lillian é doente e ela machuca nós duas, não por sua causa. Ela machuca e machucaria todo mundo se pudesse. Talvez eu quem deva me afastar para não colocá-la mais em perigo.

- Não! Você... - Lena soltou um suspiro cansado - Você é a única parte boa da minha vida agora e eu não posso deixar que se afaste assim.

- E... Eu estou aqui! - Kara se aproximou e a abraçou com cuidado.

- Eu sei que não sou a Supergirl, mas morreria por você, porque...

- Shhhhh... - a garota a interrompeu com um som baixinho e a apertou um pouco mais no abraço.

Kara não estava preparada para o que Lena diria, não estava preparada para admitir dentro de si mesma que sentia algo por ela, algo mais forte do que pensou que poderia sentir, admitir que a simples presença de Lena mexia com ela mais do que qualquer coisa, que perdia a fala, o fôlego perto dela. Se antes não poderia odiá-la, agora menos ainda. Uma humana havia dado sua vida pela dela, havia lutado mais bravamente do que talvez jamais presenciou só para salvá-la e o misto de sentimentos que a kryptoniana sentia, era muito para que ela própria pudesse compreender, ou até mesmo suportar, já que nada em seu tempo na Terra, ou até mesmo em Krypton, teria a preparado para isso.

A loira encarou os olhos verdes mais uma vez muito de perto, ironicamente verdes, tal como a kryptonita que há pouco quase a matara, eles representavam sua fraqueza e sua força, uma força que não sabia que tinha, até conhecer Lena Luthor.

Nos Olhos de Lena Luthor - SupercorpOnde histórias criam vida. Descubra agora