O sol aquecia os olhos fechados de Nathan, trazendo a deliciosa sensação de paz e um calor agradável ao seu corpo. O barulho do vento o acalmava e o som do balanço das árvores era quase mágico...Espere! Árvores? Vento? Sol? O quarto de Nate não tinha nada disso.De repente ele percebeu: não estava em seu quarto. Levantou-se em um pulo e a imagem que seus olhos passavam ao cérebro era tão mirabolante que este precisou de quase cinco minutos para entendê-la.
Estava em um bosque. Não! Estava no bosque mais lindo que já vira em toda a sua vida, não que já tivesse visto muitos, pense naquelas fotos muito bem feitas e editadas pelo melhor fotógrafo, era exatamente assim que se parecia aquele lugar. Lindo, perfeito, irreal e, o mais delicioso de tudo, quieto. Nate não tinha muita paz em casa, era raro conseguir poucos momentos de silêncio, mais raro ainda encontrar um lugar onde seus pais não estivessem martelando sua cabeça com perguntas, acusações e o entupindo de remédios. Remédios! Onde estariam seus remédios? Nate começou a apalpar seus bolsos até notar q não tinha bolsos, nem mesmo estava com suas roupas normais, a roupa com a qual se encontrava nunca esteve em sua lista de visuais. Algo estava errado.
Parecia usar algum tipo de estilo medieval, desses que se compra em lojas de fantasia. Nate começou a se apavorar, não sabia onde estava, como voltaria para casa e, principalmente, onde estavam suas medicações. Não passava muito tempo sem elas desde o seis anos quando seus pais descobriram seus distúrbios. Um peso enorme começou a se aplicar sobre ele, uma vontade de fugir, de se esconder. Mas para onde iria? Não tinha a menor ideia de qual direção tomar. Nem sabia o quão longe de casa estava. Não via opções.
Ouviu um barulho vindo de algum lugar a sua esquerda, como um arrastar de pés. Pés não...patas. Sim, um leve arrastar de patas pesadas como um tigre ou um leão. Nate riu de si mesmo. Não estava em uma savana, as chances de se deparar com um desses animais era ridícula. Virou-se na direção do ruído e lá estava um tigre branco, de olhos dourados e imenso, ele não imaginava que tigres fossem tão grandes. Este tinha o tamanho de uma caminhonete, com certeza não era um animal comum. Nate paralisou, não havia a menor possibilidade de conseguir fugir de um animal desse porte mesmo se ele fosse um atleta e o tigre estivesse com duas patas quebradas. O melhor a fazer era não se mexer e torcer para morrer na primeira mordida.
Enquanto ansiava uma morte rápida, Nate notou um volume na parte de cima do pescoço do bicho. Não conseguia definir o que era até o volume se levantar e mostrar-se como uma garota, uma jovem sentada em um tigre branco imenso. Definitivamente Nate estava tão longe de seu mundo quanto seria possível estar. A moça dona do tigre acariciava a cabeça do animal e lhe sussurrava algo ao ouvido que Nate torcia para ser uma ordem para não atacá-lo. Não quis ficar ali parado como um idiota, pigarreou e tentou falar sem tremer a voz mas falhou miseravelmente.
- Com licença, moça. Onde estou? - havia mil coisas que poderia perguntar, o nome dela, porquê ela estava montada no maior mamífero que ele já vira, se o tigre estava com fome, mas ele decidiu que "onde estou" era um bom jeito de iniciar o papo.
Ela o olhava com indiferença como se ele fosse nada mais que uma joaninha, arqueou uma sobrancelha pra ele, avaliando se valia a pena responder àquela pergunta. Depois de alguns segundos, que pareceram horas, ela finalmente disse:
- Você está em um bosque.
Certo! Isso não ajudou muito, a única coisa que essa informação adicionou ao conhecimento dele foi que não era um bosque suficientemente famoso ao ponto de receber um nome para referências. Tendo dito isto, a garota saltou de seu animal e parou bem na sua frente. Nate queria entender como uma pessoa conseguiria saltar tão alto e distante quanto ela. Estando agora mais próxima, era fácil ver todos os seus contornos. Ela era bonita, com olhos escuros e cinzas e o cabelo parecia ser uma falha na imagem de tão preto. A pele muito branca deixava as olheiras embaixo dos olhos muito escuras. Aparentemente ela não dormia havia dias.
- Qual o seu nome? - ela perguntava com olhar inquisidor.
- Por que eu te diria se nem a conheço? - talvez não fosse uma boa ideia ser insolente com ela, ainda mais que Nate havia notado agora uma espada imensa presa às suas costas e bem enrolada em couro. Não havia bainha, o que não o surpreendia já que não seria fácil retirar uma espada daquele tamanho de uma bainha. Apesar de sua arrogância, ela sorriu e disse de forma amigável:
- Muito justo, eu sou Juno. Aquele ali é meu amigo Darwin. - ela olhou para o tigre - Ei! Volte ao normal, vai assustar o garoto.
Nate preferia que continuasse como tigre porque o que viu a seguir foi traumático. O tigre começou a se dobrar, como se estivesse sentindo dor de estômago, o animal se arranhava e gemia. Então sua pele foi encolhendo e se torcendo até que os pêlos deram lugar a uma pele bronzeada e, subitamente, não havia tigre algum, só um homem de olhos e cabelos dourados. O rapaz cobriu a distância entre eles em menos de um segundo, esses dois eram muito rápidos, precisava ficar esperto. A moça ainda sorria para ele mas não era o tipo de sorriso caloroso que você gostaria de ver no rosto de uma mulher.
- Bom, agora já sabe nossos nomes. Vai nos dizer o seu?
- É Nathan. - na verdade seu nome inteiro era Nathanael mas ele sempre achou esse nome muito grande e feio, além do mais, os pais amavam este nome e abreviá-lo foi o modo que ele escolheu de chateá-los e mostrar insatisfação. É bobagem mas traz uma certa sensação de desconforto aos pais, principalmente à mãe e isso deixava Nate satisfeito.
- Nathan? - ela disse, saboreando o nome, - seria diminutivo de Nathanael?
Nate gelou na mesma hora, por que uma desconhecida perguntaria isso? Não era uma informação relevante mas ela parecia genuinamente interessada. Ele não respondeu e ela repetiu a pergunta, Nathanael...Nathanael. O nome dançava em sua mente, trazendo memórias desagradáveis. Os pais gritando seu nome, o psiquiatra chamando sua atenção, os meninos da escola cantarolando seu nome nos corredores e caçoando dele...Não! Ele odiava tudo relacionado ao seu nome, seus pais homenagearam um anjo mas ele vivia um inferno. Não! Esse não era seu nome, ele era Nate, ou até Nathan, e só.
- Se você pergunta o nome de alguém essa pessoa lhe diz o próprio nome ou um apelido?
A jovem pareceu se decepcionar, deu um suspiro curto e virou-se para o amigo, eles demonstravam aquele tipo de intimidade que só se conquista com muitos anos de convívio. Pareciam conversar pelos olhos, por fim ela balançou a cabeça tristemente e virou-se para Nate.
-Tem razão mas é uma pena. Você não é quem procuramos. Até mais garoto, cuidado com as árvores, elas não são tão amigáveis quanto parecem. - deram as costas para ele e começaram a caminhar.
- Esperem! Eu não sei onde estou.
- Eu já disse, está em um bosque.
- Você acha mesmo que essa informação é útil? Eu preciso voltar para casa e não faço a ideia de qual caminho seguir.
- Por que você quer ir pra casa? - Nate achou que ela estava caçoando dele mas ela o olhava com sincera curiosidade.
- Porque eu preciso voltar, eu tenho uma vida, escola, amigos, família, trabalho. - metade dessas informações era mentira mas ele não queria que dois estranhos soubessem que ninguém o procuraria, seus pais só notariam sua ausência depois de cinco dias, no mínimo, Nate já fugira de casa vezes demais.
Ela olhou para o amigo e ambos deram um sorrisinho cúmplice.
- Ninguém está preocupado com você, Nathan. Você já tem vinte anos, não estuda, não tem amigos próximos e seus pais estão ocupados demais para reparar que seu filho perturbado fugiu de casa outra vez. Quanto ao seu trabalho, você está a um passo de ser demitido pela quantidade de vezes que já faltou sem justificativa. Se ele estava assustado antes, agora então estava petrificado. Como ela podia saber de tudo isso? Como ela sabia tanto de sua vida?
- Talvez você esteja certa, mesmo assim eu quero voltar. Vocês não podem me indicar um caminho?
- Eu não sei, seu nome é ou não Nathanael?
- Por que se importa? - eles o encaravam fixamente sem responder - Certo! Nathan é abreviação de Nathanael. Feliz? - a garota abriu um sorriso largo.
- Agora estamos chegando a algum lugar. Você é exatamente quem nós estávamos procurando. - ela mal havia concluído a frase, o rapaz estava as suas costas e bateu com força em sua nuca. Tudo ficou escuro.
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Seis clãs Sete reinos
FantastikO jovem Nathanael não sabe o que pensar quando acorda em um mundo completamente diferente do seu. Parecendo ter entrado diretamente em um conto de fadas, Nate encontra seres místicos, obtém poderes com os quais jamais sonhara e precisa ainda salvar...