Passei o resto da semana sem saber o que fazer. Nate comprou a passagem dele e avisou que chegaria em três semanas, exatamente o tempo que eu precisava para ir à festa com Lip e ganhar uma vaga no programa. Me parecia uma ótima forma de recebê-lo, porem, não sei se os meios justificariam os fins.
Passei a ir a todas as reuniões do grupo de música e senti minha popularidade crescer exponencialmente na escola. As garotas das séries abaixo puxavam conversa comigo e ficavam chocadas sempre que Lip me cumprimentava com um beijo na mão. Eu fingia achar ridículo, reprimindo com força minha vontade de sorrir sempre que ele me surpreendia.
Nate, por outro lado, passava por um momento difícil enquanto tentava se separar dos pais. Conversávamos por horas e horas todos os dias para que ele pudesse desabafar sobre o quão difícil era ir embora. Lip era mencionado de vez em quando em nossas conversas, porém resolvi que não contaria sobre o programa. Nate ia ficar muito chateado se descobrisse que eu tinha saído com Lip para conseguir uma vaga. Nós tínhamos talento para conseguir algo parecido quando Nate chegasse, então não era necessário aceitar o convite de Lip.
Enviei uma mensagem para Lip negando minha parte do acordo. Eu não tinha coragem de negar pessoalmente, porém não podia sair com ele e ter a escola toda falando sobre nós. Não me parecia certo, principalmente pela forma voraz como Lip investia em mim. Eu não queria ninguém dizendo que eu havia caído nos encantos dele enquanto eu estava me esforçando tanto para resistir.
Lip leu, porém não respondeu minha mensagem. Embora não quisesse chatear o coordenado do grupo de música, o que ele estava me pedindo era complicado. Eu não podia fazer aquilo com o meu namorado. Com o passar dos dias, minhas interações com Lip foram ficando cada vez menores, até finalmente desaparecerem. Ele nunca respondeu minha mensagem, deixando no passado o desejo exagerado de ficar comigo.
No entanto, a vida sempre encontra uma maneira de mostrar que a gente nunca tem todas as respostas.
Recusei ir a festa do TOP24, mas isso não significa que eu não queria estar lá. Resolvi que não queria ficar olhando o perfil do pessoal da escola no dia da festa para não ver as fotos e as oportunidades que eu estava perdendo. Não ousei aparecer sem avisar porque tinha certeza de que Lip perderia a cabeça e começaríamos novamente uma batalha de ofensas. Já estava feliz por ele não ter conspirado para minha expulsão do grupo de música, então resolvi não provocar. Coloquei as crianças para assistirem desenhos da Disney e fui ver fotos minhas com Nate, aguardando ansiosa pela chegada dele dentro de três semanas. Ele agora tinha voo, dia e hora de chegada. Nosso plano estava prestes a virar realidade e eu precisava focar na minha nova vida com ele.
Ver fotos nossas juntos me afastava do perfil dos outros e me ajudava a focar no que realmente era importante e real. Aconcheguei-me no sofá com meu moletom, certa de que estava onde deveria estar. Eu sentia falta do cheiro do shampoo de Nate, de ouvir a risada dele, da forma como as mãos dele cobriam as minhas e da maneira como me abraçava na cama de noite. Estar longe da minha familia e meus amigos me fazia sentir falta de qualquer tipo de contato com outras pessoas, porém meu consolo era que Nate estava prestes a chegar. Vi que ele me ligava, como se pudesse ler meus pensamentos e soubesse que eu estava pensando nele. Sorri, deitando no sofá enquanto as crianças pulavam e cantavam as músicas de O Rei Leão.
- Aqui o relógio está marcando que é hora de assistir O Rei Leão de pijama... - comecei, espreguiçando-me - que horas são aí?
- Livs, precisamos conversar - disse ele, em tom sério. Sentei-me no sofá, abaixando o volume da tv para prestar atenção no que viria a seguir - Livs, não vou poder pegar o voo que comprei.
- O quê!? - Levantei rapidamente do sofá e caminhei para outro cômodo. - Do que você está falando? Como assim!?
- Meus pais inventaram uma função nova para mim na empresa e precisam que eu remarque o voo para mês que vem. Vou receber a mais para trabalhar esses dias, o que vai me ajudar nos primeiros meses, mas não vou conseguir chegar aí no combinado.
- Não. - Bati o pé, sentindo meu corpo ferver. - Não, Nathan. Não. Você me prometeu que viria e ultimamente eu tenho vivido para a sua chegada. Tudo o que eu faço é pensando no momento em que você vai chegar.
- Livs, eu vou poder chegar aí com mais dinheiro para bancar a gente e...
- Não! - gritei, revoltada. Senti que ia chorar, ficando com ainda mais raiva da situação. Parecia mentira que novamente ele me colocaria como segundo lugar. - Nate, esquece. Se não puder chegar em duas semanas, não precisa se preocupar em vir.
- Olivia, calma. Eu ainda vou... só vou chegar depois. Eu não desisti da viagem ou de você. Só preciso de mais uns dias.
- Nate, você não sabe nem metade das coisas que estou passando enquanto te espero. Não sabe como tem sido difícil fazer as coisas sem a sua companhia e não tem noção do numero de vezes em que eu pensei em desistir de tudo. Eu estou exausta cuidando das criancas, estudando pra escola, olhando casas para você...
- E eu vou, mas não quando eu disse que iria.
- Nate, esquece. Eu não consigo mais esperar.
- Como assim, Olívia? Calma...
- Não. Eu ja tive calma. Estou cansada de esperar.
- Eu estou tentando, Livs. Preciso que confie em mim como nunca confiou antes.
- Tchau, Nate.
Desliguei o telefone, voltando para o quarto onde as crianças estavam e me jogando no sofá. Coloquei o braço sobre os olhos, tentando me acalmar. Lembrei novamente que faltava muito tempo para ver Nate e senti minhas bochechas esquentarem. Engoli o choro, revoltada por estar mais triste do que brava. Eu me sentia sozinha e como se fosse sempre a segunda opção dele. Senti algumas lágrimas correrem pelo meu rosto, secando-as sem que as crianças percebessem. Eu havia me esforçado bastante para não me colocar como prioridade e deixar de lado todas as experiências que aquela viagem estava me oferecendo. Eu deixei que Nate viesse no tempo dele, porém estava muito difícil fazer tudo sozinha e vê-lo ceder sempre que os pais dele queriam. Eu não conseguia acreditar que mais uma vez os pais do Nate tinham ganhado. Fechei os punhos, querendo voltar para o Brasil e trazer Nate pessoalmente pelas orelhas. Como ele podia remarcar a viagem mais uma vez? Sequei as lágrimas mais uma vez, com medo que as crianças me perguntassem por que eu estava chorando.
Ouvi-os cantar a música da Moana e lembrei do meu teste para o grupo de música e da festa do TOP 24. Senti como se a minha conversa com Nate tivesse me libertado. Eu não merecia me sentir daquela forma, não merecia estar em casa me sentindo sozinha enquanto ele me colocava em segundo lugar. Ele ainda demoraria para chegar, então eu tinha o direito de cuidar de mim. Aparentemente eu não podia contar com Nate para isso. Não podia espera-lo para começar a lutar, porque parecia que estávamos lutando batalhas diferentes. Como a Moana diria, "Será que eu vou?". No meu caso sim, Moana, eu vou.
Peguei meu celular e enviei uma mensagem para Lip, esperando que ainda desse tempo.
"Mudei de ideia", escrevi, "aceito ir à festa com você. Ainda da tempo?".
Antes mesmo que Lip me respondesse, comecei a me arrumar.
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ai, ai, ai, ai, Olivia! Não faça nada que você venha a se arrepender...
Até a próxima :)
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Entre Amores e Sonhos [HIATUS]
أدب المراهقينOlivia tem apenas 18 anos, mas tem escolhas bem adultas para fazer: Deve viver o sonho que os pais têm para ela ou arriscar tudo e ir atrás do sonho que a faz mais feliz? Deve ficar com a escolha de um amor seguro ou apostar no cara que a faz sentir...