Foi Você Quem Quis Assim

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Eu já não aguentava a dor daquela perda, a mulher da minha vida, a mulher que me trouxe a este mundo, este mundo imundo e cruel, então eu fui.

Era 31 do mês de outubro exatamente as 3:32 da madrugada, quando numa encruzilhada eu chamei pelo nome dele 6 vezes:

"Satã, Satã... Satã, Satã, Satã... Satã! Venha a mim, eu tenho uma proposta pra lhe fazer"

E em um instante uma névoa densa e gélida reposou sobre aquele lugar, logo pude ver uma silhueta feminina se aproximando e quando quase não existia distância entre mim e a "mulher" eu perguntei:

"Você, você é o di...d...di diabo?"

e ele me respondeu:

"Sim, esta é apenas umas das formas em que me apresento aos humanos. E então, a que trato você se refere?"

eu lhe apresentei uma folha de papel que continha as seguintes palavras:

"Eu desejo que você traga minha mãe de volta a vida a qualquer preço"

Após ler as palavras escritas por mim ele assentiu com a cabeça e disse:

"Então você quer que eu traga sua mãe de volta a vida, bem, se é o que quer eu farei, mas isso lhe custará caro, quero sua alma e seu corpo será meu"

Eu concordei e subitamente um papel grosso e pútrido surgiu em minha frente,

"Assine" disse ele

e eu o fiz (tolo que fui, assinei sem mesmo ler o que estava escrito, naquele momento eu só queria ter minha mãe de volta comigo). Então ele disse:

"Sua mãe ficará com você por 66 dias após isso eu a levarei de volta juntamente com você"

Após isso a "mulher" passou por mim e continuou andando até desaparecer na névoa, quando me dei conta já tinha amanhecido e decidi retornar para casa, ao me aproximar senti um cheiro familiar, quando adentrei a cozinha lá estava ela, cozinhando como fazia sempre. Ela disse:

"Já acordou Philipe, sente-se filho, estou fazendo aqueles panquecas que você tanto gosta"

eu me assentei e pensei comigo mesmo, "realmente o diabo fez o que prometeu". Após 49 dias passados eu consegui notar algumas atitudes estranhas de minha mãe, coisas como ficar parada nos cantos olhando para as paredes, sussurros e diálogos mesmo estando sozinha.

E então quinquagésimo nono dia, em uma madrugada eu fui até a cozinha tomar um copo de água e não pude deixar de notar uma leve iluminação refletida no vidro embassado da janela, naquele momento, naquele maldito momento a minha curiosidade foi maior.

Então passei minha mão sobre o vidro e vi, lá estava ela sentada sobre a grama castigada pelo orvalho noturno, com as pernas cruzadas e sinais entranhos nas mãos, haviam também algumas velas ao redor e terra negra, extremamente preta formando um pentagrama invertido, nesse momento um calafrio subiu pela minha espinha e então ele tocou meu ombro, desta vez ele se apresentou de forma diferente a mim, mas aquela presença, aquela presença era inconfundível.

"Era isso você queria não é? Você sabe o que ela está planejando? Aquilo é uma cerimônia de sacrifício, uma cerimônia dedicada a mim, e o sacrifício, ah o sacrifício é você!" - ele disse.

Sem pensar eu subi as escadas e peguei uma Glock antiga a única lembrança que eu tinha do meu pai, quando me virei lá estava ela, mas seus olhos estavam negros, eu tentei puxar o gatilho mas ela era idêntica a minha mãe, eu não... não podia atirar na minha própria mãe, naquele momento eu supliquei para que ele desfizesse aquilo:

"Por favor, eu imploro, eu lhe dou o que quiser, apenas desfaça isso"

eu disse desesperadamente.

"Você deveria ter lido o contrato Philipe" - ele disse usando a voz da minha mãe - "Atire Philipe e tudo isso acabará, vamos Philipe, você teve coragem de invocar o diabo mas não consegue puxar um gatilho" - disse ele.

"Eu te rogo, faça isso parar" - eu falei aos prantos.

"Fazer isso parar? Foi você quem quis assim Philipe, não fui eu quem te chamou numa encruzilhada as 3:00 horas da manhã, não fui eu quem chamei seu nome 6 vezes, foi você quem permitiu que eu entrasse em sua vida".

Nesse momento ele disse:

"Contudo, tem algo que eu quero de você, escreva para mim, conte sua história, mas faça parecer que eu não existo. Sabe, é melhor para mim se os humanos acreditarem que eu não existo, é bom ver quando eles culpam o vento por ter batido a porta mesmo as janelas estando fechadas ou quando tentam explicar os sons que ouvem durante a madrugada com sua ciência obsoleta. Bem, eu tenho coisas para resolver, voltarei em breve para ver seu trabalho, até lá você terá sua mãe humana".

O diabo tem poderes, mas, ele não é onipresente, eu estou escrevendo isso agora para que vocês saibam que não se pode brincar com o sobrenatural, ele existe, e está a espreita esperando o momento certo, aguandando apenas uma brecha para entrar na sua vida, esperando algum tolo chamar pelo nome dele as três da madrugada em uma encruzilhada.

Preciso ser rápido, logo ele vai voltar, lembram da Glock, após apertar o Enter eu vou puxar o gatilho, dessa vez ele não está aqui para impedir...

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