Dangerous love - Camren

Eight

Pov Camila

Eu fiquei com as palavras de Lauren na minha cabeça por horas, e quando percebi, o dia tinha amanhecido, felizmente era Domingo, não tinha que ir para o colégio. seus olhos pareciam pesar, sua cabeça estava doendo. pegou dois comprimidos na gaveta do criado mudo, e tomou mesmo que sem água, pra ver se dava um jeito naquela dor de cabeça. a imagem de Lauren não saia da minha memória, a forma que ela contou sua história com tanta clareza, o jeito sério dela, a pele pálida e as mãos geladas, os olhos verdes que até dava pra enganar a princípio, mostrava ternura, e escondia seu lado sombrio. é errado você gostar até do lado sombrio de alguém? era a pergunta que não saia da minha cabeça no momento.

colocou o travesseiro no rosto, e tentou dormir, depois de longos minutos ela conseguiu. dormiu apenas por 6 horas, acordou com a cabeça doendo mais ainda, e não podia mais tomar remédio, então optou por um banho frio. sua mãe já tinha batido na porta do quarto duas vezes, chamando ela para tomar café da manhã, mas foi ignorada.

— eu não sei porque não consigo engravidar, a gente já tentou tantas vezes e até agora nada, eu fiz o teste quando acordei

— vai acontecer quando tiver que ser Sinu, fique tranquila, não tente apressar as coisas, talvez a sua ansiedade esteja tardando isso

— só quero dar a luz a uma criança normal

Camila estava ao pé da escada, sentada, enquanto penteava os cabelos e ouvia a conversa. odiava quando falavam a respeito dela pelas costas. e odiava mais ainda seus pais nunca conseguirem compreendê-la, e principalmente sua mãe.

— mas nossa filha não é anormal

— você me entendeu, Camila me cansa as vezes, fico me perguntando aonde errei, as minhas vizinhas ficam me perguntando sobre ela, ninguém vê Camila saindo pra se divertir, os rapazes que gostam dela, ela ignora, qual o problema dela?

— Camila é reservada, deixe-a em paz Sinu, temos que aprender a lidar com o jeito dela, nos adaptara ele

— as vezes não sei se está do meu lado ou contra mim

— não existe lados aqui, eu aceitei falar com um profissional sobre o caso dela, para o bem da nossa filha, é difícil pra mim também, ter que lidar com o jeito dela, mas o que podemos fazer? ela é assim, não podemos mudar — bebericou o café e se levantou — ela vai interagir com as pessoas quando achar que é o momento de fazer isso. e mais tarde a gente tenta fazer um bebê novamente

piscou para a esposa, pegou uma torrada e saiu da cozinha. Camila esperou que Sinu saísse para estender as roupas no varal, e então pegou algumas coisas, colocou no prato, colocou um pouco de café e subiu para o quarto. estava faminta, comeu tudo com rapidez e quando terminou abriu a gaveta para pegar uma blusa de mangas cumpridas, iria falar com seu pai.

***

bateu na porta do escritório, sabia que ele não estava com nenhum cliente, então não iria atrapalhar.

— entre

ele ficou surpreso ao ver que era Camila, ela nunca o procurava.

— filha, venha, se aproxime

— posso ter uma conversa rápida? está esperando alguém?

— claro querida, sente-se, aconteceu alguma coisa? e eu não estou esperando ninguém, só tenho cliente daqui a uma hora, só estava lendo

— hipoteticamente falando, caso tivesse que tratar de alguém psicopata, contaria a polícia sobre as atrocidades que a pessoa cometeu? — ele franziu a testa preocupado — não, essa pessoa não sou eu, e eu falei hipoteticamente — fez aspas com os dedos

— bom, eu iria ter que avaliar primeiro, se eu o considerar psicologicamente debilitado, e esse ter sido o motivo das atrocidades, eu posso guardar segredo e tratá-lo para que não cometa os mesmos erros novamente. apesar de nunca ter chegado a tratar alguém assim, a cidade aqui é calma, felizmente

— há uma amiga... me empresta seu computador?

— claro

ela digitou o nome do ex colégio de Lauren. Alejandro ficou boquiaberto quando viu a notícia.

— nossa! muitas mortes, essa garota é perigosa, onde conheceu ela? precisa tomar cuidado

— pai, por favor, ela quer melhorar, ela não vai me fazer mal, eu estou aqui porque quero a sua ajuda, poderia ao menos uma vez, fazer algo por mim? ela confia em mim, e se eu trouxer ela até aqui, tem que prometer que não vai envolver polícia nisso

ele coçou a cabeça, pensando a respeito.

— por favor pai

— pessoas assim tem uma personalidade delicada, podem surtar Camila, e se ela te machucar?

— ela não vai

— não tem como saber disso

— não me pergunte como, mas eu sei que ela não fará isso. eu vou contar todo o caso

então ela começou a falar toda a história, dando detalhes sobre o que Michael fazia com Lauren, sobre as marcas que ela tinha no corpo, e sobre os danos que isso fez no psicológico dela, que já era debilitado. contou sobre a dor da perda de duas pessoas especiais, sua mãe e sua irmã Taylor. só mentiu a respeito de Michael, não contou que Lauren o matou.

— entende agora? ela passou por muita coisa, era apenas uma criança assustada que não foi compreendida, depois passou por uma adolescência conturbada, ela precisa de ajuda

— eu preciso analisar tudo que me disse, é uma história complicada, são muitos traumas psicológicos

— pode me dar a resposta depois, eu espero

— tudo bem, mas fique longe dela

— não posso

— porque? ela está te ameaçando?

— claro que não, mas eu quero estar perto dela

— ela não te faz sentir medo?

— não, ela é transparente comigo, foi sincera, o ser humano na realidade é um monstro, mas alguns sabem mascarar isso bem, essa é a única diferença entre ela e as pessoas. vou te deixar trabalhar agora

— filha...

— sim?

— toma cuidado

ela assentiu com a cabeça.

— e o que acha de uma avaliação?

— eu?

— sim, pra tentar se abrir mais, interagir mais com as pessoas, a sua mãe tem me infernizado com isso

— eu não quero ter que conversar com um desconhecido, eu não preciso de ajuda, eu estou bem

— você fica muito tempo trancada em seu quarto, não fala com as pessoas, não tem amigos

— e eu estou bem dessa maneira, e o último item é mentira, eu tenho, tenho a Lauren

não deixou que ele falasse mais nada, apenas saiu do escritório e fechou a porta.