Fifteen

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Lauren estava fraca demais até pra chorar, havia andado sem rumo pela cidade, havia chorado por todo o tempo em que guardou sua dor dentro do peito e não deixou ser exposta, e quando rompeu o choro, voltou pra casa, era o único lugar que tinha pra ir. Despedaçada. Era como ela se sentia, e insuficiente, não queria ter destruído Camila assim como Michael a destruiu, só queria ama-la, ter a chance de sentir algo, de sair do vazio, mas Alejandro lhe jogou as verdades na cara, ela é tóxica pra latina, repetia isso como um mantra em sua mente.

Desceu para o porão e colocou em si mesma cordas grossas, mesmo que pudesse se soltar a qualquer momento, seria como um impulso, para lembra-la que não devia deixar seu caos fazer com que ela descontasse nas pessoas, não queria manchar suas mãos de sangue se novo, bom, na verdade uma voz dentro de si gritava por isso, mas era só pensar nos olhos amendoados de Camila, que tinha seu autocontrole, só não sabia por quanto tempo.

"Olá, olá

Tem alguém aí fora?

Porque eu não ouço nenhum som

Sozinho, sozinho...

Estou no limite e estou gritando meu nome. Como um tolo a plenos pulmões. Algumas vezes, quando fecho meus olhos, eu finjo estar bem, mas nunca é suficiente" 🎵

Lauren não estava acostumada a ter noites recheadas de bons sentimentos, nem a ter alguém por perto, mas se acostumou tão facilmente quando teve isso de Camila, quando ela mais do que qualquer outra pessoa cuidou tão bem dela. A última pessoa que fez isso foi sua mãe, e doía se lembrar, porque tudo que tinha dela era a memória, e junto a isso as lembranças ruins, as perseguições de Michael, e o medo. O surto, o sangue em suas mãos, as mortes. Só sentia sua humanidade quando estava com Camila.

"Porque meu eco, eco é a única voz que volta. Minha sombra, é a única amiga que tenho. Ouça, ouça, eu aceitaria um sussurro se isto é tudo o que você tem para dar. Mas não é, não é. Você poderia vir e me salvar, tentar continuar essa loucura fora da minha cabeça" 🎵

Lembrou da voz da latina gritando seu nome quando saiu correndo daquela maldita casa, quis tanto parar e olhar pra trás, mas sentia que o certo era correr, o mais rápido possível. Mas agora, ali sozinha, queria poder voltar no tempo. pensava em como estaria Camila agora, o que se passava na cabeça dela, como estava se sentindo, pois não veio atrás dela.

***

Camila sentia seu corpo formigar, sua cabeça doía, mas não se recordava de ter sofrido alguma pancada na cabeça. Tudo estava confuso, abriu os olhos lentamente e viu que estava no quarto, só então as memórias vieram, Alejandro tinha feito ela dormir. Sentou na cama e avistou Sinu perto do banheiro.

— demorou pra acordar, já está tarde, está mais calma?

— deixou ele aplicar um calmante em mim? como teve coragem?

— precisava ser detida de alguma forma

— como não conseguem ver que quem me faz mal é vocês? eu não apareci aqui com nenhum arranhão desde que conheci Lauren, muito pelo contrário, ela cuida de mim

— aquela menina não tem condições de cuidar nem de si mesma, eu vi as fotos do caso dela, vi a forma brutal que matou sem piedade os colegas da escola, como pode não ter medo de alguém assim?

— Lauren me ama

— não, isso que idealiza sobre ela não é amor

— não pode falar sobre coisas que eu sinto, os sentimentos me pertencem, e eu sei como me sinto em relação a ela, e sei o que ela sente também, senti quando ela me tocava, quando me beijava

— você se deitou com aquela garota? eu não acredito que chegou a isso Karla Camila! é nojento

— sim, eu fodi com a Lauren e foi delicioso se quer saber, ela faz muito bem, de uma forma que nenhum garoto conseguiria fazer pra me manter satisfeita, o que mais quer saber? quantos dedos ela meteu em mim?

Sinu se aproximou furiosa e deu um tapa no rosto dela.

— você me respeite menina , eu sou a sua mãe!

Camila levantou as mangas da blusa sentindo seu rosto ander. Havia várias marcas de cortes em seus pulsos e em todo o braço.

— e onde você estava que não viu isso hein mãe? é tão boa mãe que não reparou que eu não me alimento direito faz tempo, que arranco fios dos meus próprios cabelos quando estou nervosa. Que me machuco e que muita das vezes que dar um fim na minha vida

— isso se chama, falta de vergonha na cara! seu pai é psiquiatra, poderia ter pedido ajuda, você sempre se isolou, não fazia amizades, não conversava com a gente

— já tentou me perguntar porque ao invés de me julgar e me chamar de estranha?

— não sei onde quer chegar com essa conversa mas não tente me fazer se sentir culpada, é você quem está fazendo escolhas erradas, tem todo um futuro pela frente, vai terminar o colegial, depois fazer faculdade de Medicina e ser psicóloga

Camila riu sem nem um pouco de humor.

— já tem o meu destino traçado? isso não me surpreende, nunca se importou com a minha opinião

— queremos o melhor pra você

— o que mais tem planejado? vocês já tem meu futuro marido em mente também? ou qual vestido de casamento irei usar? a minha vida não é a porra de um roteiro que você pode escrever conforme a sua vontade, são minhas escolhas! meus sonhos! E vocês não podem tirar de mim a única coisa que me faz acordar sentindo vontade de enfrentar o dia. Não podem tirar Lauren de mim

— vai ficar exatamente onde está, atrás daquela menina você não vai! e se tentar será pior, te colocamos em um colégio interno, até entender que precisa de regras

Camila sentiu seus olhos arderem, Sinu caminhou até a porta e encarou ela mais uma vez.

— não ouse sair, e se pular a janela terá um cachorro lá em baixo te esperando, não quero que se machuque, mas Alejandro pensou na sua segurança, o animal é feroz, ele não vai pensar duas vezes antes de te morder

Ela sentia-se aprisionada, e o pior era saber que seus próprios pais estavam fazendo isso.

— vão me manter pra sempre como uma prisioneira?

— vamos te manter sob controle até que coloque seus pensamentos no lugar

Então fechou a porta com força, passando a chave. Camila afundou a cabeça no travesseiro e chorou angustiada. preocupada com Lauren, com o que ela poderia estar fazendo, ela se arriscava, tinha medo que a Polícia colocasse as mãos nela, tinha medo de perdê-la.

"Ossos frios, sim, esse é o meu amor. Ela se esconde, como um fantasma. Será que ela sabe que nós sangramos da mesma forma? Não quero chorar, mas me quebro assim. Lençóis frios, mas onde está meu amor? Estou procurando no alto, eu estou procurando baixo na noite." 🎵

Aonde estaria o seu amor agora? será que Lauren estava assustada? com medo? se perguntava, mas não tinha as respostas.

"Será que ela fugiu? eu não sei

Se ela fugiu, volte para casa, apenas volte para casa. Eu tenho um medo, oh em meu sangue, ela foi carregada até as nuvens, muito acima. Se você estiver lá eu sangro da mesma forma. Se você está com medo, eu estou a caminho" 🎵

Naquele instante ela não podia fazer nada, nem por si mesma e nem por Lauren, mas organizaria a bagunça dentro de si, e encontraria uma maneira de sair dali, e correr pros braços de quem lhe fazia se sentir em paz. A única que conseguia acalma-la. Para muitos, uma louca psicopata, mas pra Camila, ela era tudo, era seu porto seguro.

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⏰ Última atualização: Dec 31, 2018 ⏰

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Dangerous love - CamrenOnde histórias criam vida. Descubra agora