As vantagens de ser uma plebeia

Lembranças

      " As memórias não são apenas sobre o passado, elas determinam nosso o futuro.
                                (The Giver)"
      – È incrível como esse lugar continua praticamente o mesmo! – Fridda e eu estávamos no meu antigo quarto, mesmo depois de mais de quinze anos tudo continua do mesmo jeito que eu deixei.
       – Quando me mudei para essa casa sua mãe pediu para que guardassemos bem suas coisas, aqui tem tantos cômodos que eu fiquei com pena de usar esse. Estava tudo tão perfeitamente embalado e coberto.
       – Obrigada Fridda, lembro que mamãe insistiu em contratar alguém só para manter tudo organizado.
       – Melissa sempre foi metódica, vou te deixar descansar, depois decida se quer ficar aqui ou em outro quarto. – Fridda saiu e me deixou sozinha, eu me deitei na cama que apesar de ser um pouco maior do que o esperado para uma criança estava lotada de ursinhos de pelúcia. Minhas sapatilhas de balé estão perfeitamente empilhadas em uma pequena prateleira, meus livros infantis guardados por cores e portas retratos e carros de brinquedo ainda estavam espalhados pelo quarto.
       – Amy! – Cathy entrou no quarto carregando uma espécie de álbum em mãos e com um sorriso travesso no rosto. – Eu acho que isso é seu, achei no porão, mamãe pediu para entregar para você.
      – Obrigada Cathy, posso saber o que a senhorita aprontou?
      – Talvez eu tenha desenhado em algumas páginas em branco... – Ela olhou para o chão envergonhada e demorou alguns instantes para responder.
     – Não tem problema querida
     – Eu disse isso para mamãe, mas ela não concordou! Tenho que ir agora, nos vemos mais tarde! – Cathy saiu do quarto saltitante e me deixou analisando o álbum curiosa. Sua capa tinha um monte de flores e laços e seu interior continha vários de desenhos. A maioria deles tinha uma garotinha e uma mulher loira e alta, em todas as páginas as palavas "mamãe" estavam escritas em uma letra cursiva maravilhosa, embaixo dessa petra parecia que a criança tinha copiado a letra da mãe. A última página do livro tinha um recado escrito pela mesma pessoa que escreveu nos desenhos: "Para minha pequena Lady e aspirante a desenhista, mamãe te ama muito minha Lia."
      Não faz sentido que eu retrate minha mãe como loira e alta se ela é morena e baixinha...

      – Você tem certeza que está fazendo a coisa certa? – Eu pude ver pela lente da câmera as pernas de duas mulheres, acredito que quem estava gravando não tinha altura suficiente para poder gravar o rosto de um adulto.
       – Essa farsa já foi longe demais Mel! Eu cometi um erro, um erro que deve ser revertido. Eu já escrevi as cartas e entreguei a Samuel, elas serão enviadas assim que voltar de Paris.
      – Tem ideia do escândalo que isso vai ser ?
      – Tenho, essa é nossa única opção. Elton já descobriu tudo, ele ameaçou contar a verdade! É melhor que seja eu a contar do que qualquer outra... – A mulher se interrompeu de repente e olhou para a direção da câmera. – Amélia! O que eu já disse sobre espionar?
      – Desculpe mamãe, você e a titia Mel estavam brigando? – A sua voz  saiu um pouco enrolada, ela era bem pequena, mas mesmo assim consegui perceber que era eu quem estava falando.
      – De jeito nenhum querida! – Ela pegou minha versão mirim no colo e a única coisa que pude ver foi seus cabelos dourados, do outro lado do quarto eu vi a imagem de uma mulher muito conhecida por mim em uma versão mais jovem. Minha mãe! – Melissa e eu estávamos apenas conversando, vou te levar para cama.

      O urso que eu estava abraçando enquanto dormia já estava completamente amassado, tenho certeza que meu estado também não é dos melhores. Minha cabeça está latejando de dor e a única coisa que consigo pensar é no sonho que acabei de ter.
      Só existe de uma forma de saber se o que eu vi é realmente real, achando as gravações!
       O porão dessa casa è uma espécie de dispensa que guarda até mesmo itens dos antigos moradores, é o lugar perfeito para encontrar fitas antigas.
       As escadinhas que separavam o terceiro andar do porão continuam quebradas, mas dessa vez eu não preciso da ajuda de uma cadeira para chegar até lá em cima.
        Inúmeras caixas e baús estão organizadas, cada pilha de caixas tem um papel que indica do que se trata: "brinquedos", " roupas", "retratos"... Eu parei de repente quando vi uma caixa de madeira que tinha apenas um "S" gravado em sua tampa, ela estava trancada e no lugar de sua fechadura uma pequena letra estava gravada, a mesma do colar que pertenceu a minha mãe biológica. Isso é realmente possível?