Achados e perdidos

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        A primeira semana de Setembro foi marcada pelos Jogos Braemar, uma série de competições divertidas com esportes típicos da Escócia. Vovó insistiu que eu fosse e me "disfarçou" com um de seus lenços e um óculos escuro.
        Na semana seguinte tivemos também o baile conhecido como Ghillies Ball, uma festa oferecida aos funcionários para agradecer pelos ótimos serviços prestados. Todos agora parecem estar ocupados demais com seus compromissos de fim de férias e eu me recusei a participar. Já tinha aparecido demais na mídia.
         – O que vocês querem crianças? – Emily perguntou para meus dois sobrinhos que estavam sentados no balcão da cozinha.
        – Hambúrguer! – Os dois falaram juntos e Emily me olhou como se pedisse permissão para cozinha, eu apenas assenti, me resolvo com Kate depois.
        – O que vocês acharam de passar a manhã comigo?
        – Foi divertido. Mas ainda não entendo porque não podemos sair com os outros. – George falou chateado.
        – Porque mesmo de féria eles tem alguns "deveres" para cumprir meu amor e esses compromissos são cheios de protocolos entediantes.
        – Tia Lia está certa, eu preferi passar a manhã ensaiando passos de ballet, pode me ensinar mais depois titia?
        – Claro Lotte, mas só se você me contar o segredo da sua pirueta maravilhosa. – A pequena sorriu e agradeceu Emily por seu lanche.
        Eu subi para o quarto assim que Maria apareceu para levar os meninos e encontrei um bilhete de Meg em cima da minha cama.
         " Oi amor, te procurei em todos os lugares e não encontrei. Harry me convenceu a ir a um médico. Não se preocupe, eu já falei com um amigo e ele não vai contar sobre a gravidez. Feliz aniversário!
        Eu abri a caixinha que estava na cama junto com o bilhete e encontrei uma pulseira com nossos nomes gravados nela e o símbolo do infinito. Não preciso nem dizer que simplesmente amei.
         Já que até mesmo Meg resolveu sair, eu decidi que não iria comemorar meu aniversário de 25 anos em casa.
         Meu objetivo é visitar Glasgow a cidade mais rica culturalmente da Escócia. Notei que esse era realmente um mérito da cidade assim que pisei nela, as ruas são repletas de artistas e lojinhas interessantes, é comum ver pessoas andando pelas ruas com a famosa saia escocesa e com gaitas. Na saída de uma das lojas acabei encontrando com dançarinos e arrisquei alguns passos de dança, mas desde aquele momento venho sentindo algo estranho.
        – Droga! – Eu falei quando toquei instintivamente o pescoço, sentido que estava faltando alguma coisa. Meu temor se concretizou quando percebi que o colar não estava em meu pescoço.
       Voltei correndo para a loja, mas não encontrei mais o colar e muito menos os dançarinos. Resolvi então fazer o que sempre fazem quando algo é perdido nos filmes, rodar por todos os lugares que andei durante toda a tarde.
        – Eu não acredito! Você não olha por onde anda? – Reclamei depois de sentir algo quente no meu vestido, eu estou encharcada de café!
       – Acho que você também não. – O homem falou com um sotaque diferente e um sorriso debochado que me irritou ainda mais.
       – Droga! Por que isso tinha que acontecer justo no meu aniversário? Quer saber? Eu estou ocupada demais e não tenho tempo para perder, então vou pedir que você è educado e pediu desculpas. – Sai sem esperar a sua reação e voltei a procurar o colar, desisti quando começou a escurecer e sentei frustada na calçada.
       – Olha... A moça do café! – Escutei uma voz debochada atrás de mim.
         – O que você quer? – Me virei observando o homem com um sorriso brincalhão no rosto, por incrível que pareça ele parecia relaxado.
         – Eu percebi que você parecia bem extressada e nada feliz, apesar de ter sido um pouquinho grossa. Acho que ninguém merece passar o aniversário desse jeito. – Ele me mostrou um cupcake com uma vela de aniversário pequena em cima. – Deveria soprar a velinha, quem sabe um desejo seu não se realiza.
        –  E por que eu faria isso? – Perguntei o desafiando e ele apenas deu de ombros, resolvi aceitar o presente e soprei a velinha, quem sabe meu desejo não se realizaria? Eu não posso ficar sem algo tão importante.
        – Sabe... Eu estava dando uma volta por aí e acabei encontrando um grupo muito interessante... – Revirei os olhos sem ter o menor interesse naquela conversa, até que ele finalmente disse algo relevante. – Eram dançarinos e eles pareciam estar procurando uma pessoa.
       – Que pessoa? Eles disseram alguma coisa? Onde eles estão?
       – Calma! – Ele riu, uma risada sincera e eu fui obrigada a admitir que era uma risada gostosa. – Eles me disseram que estavam procurando uma garota simpática, loira, de olhos azuis exuberantes e linda. Bom... Eu disse a eles que conhecia uma garota, simpática nem tanto, mas loira, de olhos azuis exuberantes e linda, com certeza sim. – Ele falou por fim tirando um colar do bolso, o meu colar! – Isso é seu?
       – Sim, obrigada! – Eu estendi a mão para pegar o colar, mas ele o afastou antes. – Quanto você quer? – Perguntei procurando dinheiro na minha bolsa e ele suspirou parecendo decepcionado e um pouco ofendido.
       – Por que as patricinhas são tão sem graça?
       – Como?
       – Quero dizer... A única coisa que você tem a me oferecer é seu dinheiro? Não pode o usar para comprar um colar novo?
       – Primeiro não sou patricinha e segundo esse colar em especial é importante para mim.
       – Então porque fez aquele escândalo todo quando eu derramei café na sua roupa?
       – Porque você me pegou em um momento de irritação, vai me devolver o colar ou não?
       – Claro, mas antes preciso ter certeza que ele é seu. Como você se chama?
        – Amélia. – Ele arqueou sua sobrancelha e eu entendi seu raciocínio. – É D de Diana, minha mãe.
        – Entendi. Deixa que eu te ajudo. – Ele falou afastando o meu cabelo e colocando o colar. – Da próxima vez tenha mais cuidado, talvez eu não esteja aqui para te salvar.
       – E quem disse que eu preciso que você me salve?
       – Ninguém você parece se virar muito bem sozinha. – Ele me olhou com seus olhos verdes mostrando curiosidade e me entregou uma sacola. – Eu comprei um vestido, para compensar o seu que sujei de café, nos vemos por aí! – Ele se virou para sair e eu abri a sacola vendo um vestido vermelho de veludo (bem mais caro do que o que eu estou usando) e um número de telefone escrito na sua etiqueta.
       
    

As vantagens de ser uma plebeia  Onde histórias criam vida. Descubra agora